O português como objeto de estudo
Diana Santos
Participação na mesa redonda sobre a língua portuguesa organizada pela Lusofonia Oslo por ocasião do dia da língua em 2024
Biografia curta
Sou engenheira eletrotécnica (e de computadores) do Técnico (1985), e durante o meu curso estive tentada a seguir Física, processamento de sinal, e eletrónica, ... mas, quando tive cadeiras de inteligência artificial... foi paixão à primeira vista. E escolhi estudar a língua.
O que é a língua
A língua é uma das primeiras componentes da identidade pessoal, e social.
A língua é muito mais do que palavras
- sons de dor e de prazer
- sons dos bichos
- sons de afeto
- gestos, expressões, formas de andar
- tipos de comportamentos: fazer caixinha, fazer beicinho...
- provérbios
Associado a uma língua como forma de comunicação, temos
- formas de entrar na conversa
- formas de chamar a atenção
- formas de interromper
- formas de interagir
- formas de mostrar estados de espírito: antes de vir para a Noruega, não conhecia o himle med øynene
Língua escrita
Mas tenho de confessar que me dediquei sobretudo à língua escrita.
E o que é a língua escrita? É a forma de guardarmos os nossos pensamentos. Como um dito português afirma, "Palavras, leva-as o vento!"
Ao escrever, muitas vezes tentamos tornar o nosso pensamento mais claro, para nós, e para os outros.
Pensamento
Para pensar, precisamos de categorizar, que é juntar coisas diferentes numa mesma categoria. Simplificando, podemos dizer numa mesma palavra.
Cada língua oferece uma categorização única. Por outro lado, dá-nos a possibildade de pensamentos partilháveis.
Isto não quer dizer que as palavras tenham um sentido único ou consensual. Há muito poder nas palavras. Quem define o que é, por exemplo, sionismo? Ou comunismo? Ou democracia?
Mas isto só mostra que com a língua se faz filosofia -- eu, aliás, costumava pensar, quando era jovem e prosélita do PLN (processamento de linguagem natural), que a inteligância artificial (IA) era filosofia aplicada.
Influenciadores
Quem são os principais influenciadores? Na minha opinião, são aqueles que criam coisas diferentes da realidade. Ou que nos fazem pensar: E se fossem diferentes?
De facto, e só um pequeno intróito teórico, já foi afirmado -- e eu concordo plenamente! -- que a riqueza da linguagem humana é a capacidade de criar se, de dizer mentiras -- para questões factuais, as abelhas, por exemplo, são muito melhores!
E por isso uma área muito interessante também é a da literatura. Como é que se criam universos fictícios?
Exemplos práticos
Exemplos práticos do que se estuda quando se tira o curso de português -- perdoem o intermezzo publicitário!
Além de aprender a ler e a falar, e algo sobre a cultura e a forma de interagir, há milhares de coisas que se podem investigar:
- Porque é que dizemos vermelho (ou encarnado) em português, quando todas as outras línguas românicas usam uma palavra parecida com roxo?
- Quais são as emoções de que falamos mais, e como?
(A inveja é muito mais falada em português do que em norueguês, por exemplo)
- Estratégias de tradução: O que escolhemos não traduzir?
- Qual a estrutura familiar, ou o peso da refeição, na literatura portuguesa e brasileira?
- O uso de metáforas diferentes em línguas diferentes
Conclusão
A língua portuguesa é algo que está em constante movimento, que faz parte da nossa identidade, que vai crescendo e manifestando-se através da vivência de todos os falantes. É como o ar que respiramos, mas muitas pessoas não têm consciência da sua importância, ou estão decididos a não lhe dar importância -- como por exemplo mudando de língua quando mudam de país. Na minha opinião, isso é uma forma de automutilação, ou autoflagelo.
E a esse propósito, gostava muito de agradecer à Lusofonia Oslo -- e à turma da libertade -- o prazer imenso que tive a discutir a liberdade no último ano. Em português, claro!
Última modificação: 13 de julho de 2024