<DOC>
<DOCNO>FSP940708-002</DOCNO>
<DOCID>FSP940708-002</DOCID>
<DATE>940708</DATE>
<TEXT>
O principal dado da pesquisa do Datafolha sobre a sucessão presidencial, publicada ontem, é o fato de que, pela primeira vez desde abril, os números indicam que haverá um segundo turno, entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Nas três pesquisas feitas nos meses de maio e junho, a intenção de voto em Lula superava a soma de todos os demais candidatos, com o que o petista estaria eleito já no turno inicial. Agora, já não é assim: Lula, com seus 38%, perde para os 41% que optam por outros nomes.
A mais elementar lógica aponta para a cristalização dessa bipolarização, daqui para a frente. Antes da introdução do real, a mais firme âncora para a candidatura FHC, Lula conseguia dispensar o segundo turno, mas por margem muito estreita (três pontos percentuais apenas, na pesquisa anterior).
Ora, a queda da inflação tenderia fatalmente a empurrar FHC para cima, mesmo que fosse pouco. É exatamente o que constata agora o Datafolha: FHC subiu dois magros pontos, dentro da margem de erro, é importante ressalvar. O resultado geral colhido pelo Datafolha está também dentro dessa margem.
Se esse dado aparece nos dias iniciais da nova moeda, o lógico é acreditar que se acentue, à medida que a queda da inflação se fizer mais perceptível. Para recuperar a viabilidade de vitória no primeiro turno, o PT terá que readequar o seu discurso a essa nova realidade. É eloquente o fato de que 59% dos inclinados a votar em Lula acreditam que o plano de estabilização é bom para o país, conforme mostra a pesquisa do Datafolha.
Criticar o plano, como ensaiou e ainda ensaia fazer o PT, é contrariar o sentimento de seu próprio eleitorado e, assim, perder o seu latim.
Do lado do governo e de seu candidato, o problema, para assegurar a realização do segundo turno, é de outra natureza. Trata-se de evitar que a queda da inflação seja acompanhada de recessão.
Recessões são, classicamente, inimigas eleitorais do governo tido como responsável por elas. Logo, o ganho eventual que a estabilização trará para o candidato situacionista pode ser anulado se não houver uma sintonia muito fina, que permita preservar a estabilidade sem jogar o país em uma contração econômica profunda. Tudo indica, portanto, que é em torno desses dois elementos que se fará a disputa eleitoral daqui em diante.
</TEXT>
</DOC>