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Da Reportagem Local
O vice-governador de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira Filho (PMDB), 49, disputa sua primeira eleição para a Câmara Federal com uma agenda feita mais de expectativa em torno das iniciativas do futuro presidente.
"A prioridade do trabalho legislativo é dada pelas iniciativas do presidente da República, especialmente nessa circunstância de um presidente recém-eleito e de uma legislatura recém-empossada tendo que adotar medidas que levem à implementação de um plano de governo aprovado provavelmente em dois turnos pelo eleitorado", diz.
Esse advogado formado também em Ciências Sociais, procurador do Estado, deixou a vice-governança para concorrer à Câmara, depois de dois mandatos na Assembléia Legislativa.
A seguir, trechos da entrevista:
Folha - Quais serão suas linhas prioritárias de atuação na Câmara Federal?
Aloysio - Uma legislatura que começa ao mesmo tempo em que começa o mandato de um presidente eleito provavelmente em dois turnos deverá aguardar o envio das principais mensagens do presidente, que consubstanciem o seu programa de governo.
Folha - Ainda assim, o sr. certamente tem linhas prioritárias de atuação que eventualmente não estarão cobertas por iniciativas do governo. Quais são?
Aloysio - Não tenho uma agenda original em matéria de prioridades legislativas. Há uma agenda consensual, dada pela pauta remanescente da revisão constitucional. Hoje há uma opinião generalizada de que temos que adotar medidas na legislação ordinária e da Constituição para a estabilidade econômica e a retomada do crescimento.
Reforma tributária, reforma do Estado, reforma da Previdência, abolir da Constituição velharias que estão atravancando a atividade empresarial, essas são prioridades.
Folha - Em termos de legislação eleitoral e partidária, que modificações acha necessárias?
Aloysio - Eu me coloco na contra-corrente dos que preconizam o voto distrital. Sou partidário do voto proporcional. E sou favorável à mais ampla liberdade de organização de partidos e à desregulamentação da atividade partidária no plano legal.
Folha - A maioria das opiniões que se ouve hoje indicam que o quadro partidário implodiu, até pelo que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) chama de "adultério" praticado em eleições teoricamente casadas como estas...
Aloysio - O senador Pedro Simon é um adúltero declarado (dá apoio público à candidatura de FHC, que é de outro partido). Eu sou fiel ao meu partido.
Acho que as grandes correntes partidárias estão representadas. Não creio que se vá partir para alterações profundas. As principais tendências de opinião estão representadas nos grandes partidos.
De fato, a forma partido, a forma militância, está um pouco cansada. Vejo uma militância muito mais arrefecida do que há 20 anos, em todos os partidos, inclusive no PT. Acho que todos os partidos têm que aprender a fazer política em uma sociedade de massas como a que o Brasil se transformou, com 94 milhões de eleitores, com o papel decisivo da mídia na formação da opinião pública e dificuldade maior de captação pelos partidos do sentimento do eleitor.
Folha - Na hipótese de derrota do candidato do PMDB à Presidência, que futuro o sr. imagina para o seu partido?
Aloysio - O PMDB vai ter uma bancada muito forte na Câmara e no Senado. A vitrine do PMDB vai ser dada pelas suas bancadas. Mas estou convencido de que figuras importantes do partido vão nele permanecer, como catalizadores de correntes internas. Refiro-me ao Quércia, qualquer que seja o resultado das eleições, ao governador Fleury, ao senador Pedro Simon.
Folha - Mas essa convivência ainda é possível, depois de todos os ataques de parte a parte durante a campanha eleitoral?
Aloysio - É possível achar uma forma de convivência. O que não aceito é traição explícita a uma candidatura do partido. A posição de Simon me parece intolerável. Terá que fazer um "mea culpa".
Folha - O sr. pessoalmente ou o PMDB como partido participaria dessa enorme frente que se forma em torno da candidatura FHC e que tende a se ampliar no caso de ele ganhar a eleição?
Aloysio - Defendo a manutenção da identidade do PMDB como um grande partido nacional, com idéias próprias e forma peculiar de inserção na vida política.
Folha – Mas na oposição a eventual governo FHC ou integrando coligação governista?
Aloysio - Vai depender que o próximo presidente, se não for do PMDB, propuser ao partido e à nação. Acho que o PMDB não se dissolver em nenhuma frente.
Folha - Em termos de revisão constitucional, defenderia uma Assembléia Revisora exclusiva?
Aloysio - Não vejo sentido em se convocar, para elaborar um texto eminentemente político, pessoas que não militam na política.
Folha - Mas a idéia não é necessariamente levar pessoas que não militam na política...
Aloysio - A hipótese de uma Constituinte exclusiva só me ocorre no caso de uma ruptura de natureza revolucionária. Numa evolução constitucional normal, como a que se prevê para os próximos anos, deve-se reformar a Constituição de acordo com os poderes constituintes que o Congresso tem.
Folha - Parece haver um certo consenso de que a imagem dos políticos hoje chegou a seu ponto mais baixo. Quais as causas e como corrigir essa situação?
Aloysio - A causa foram os erros cometidos por políticos que viveram seus mandatos com privilégios e acabaram por usurpar os mandatos que receberam. Se os próprios políticos não mudarem, acabarão por cavar um fosso no qual serão enterrados. Por outro lado, o que pode levar a uma correção gradual mas segura é a exigência do eleitor.
(Clóvis Rossi)
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