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<CATEGORY>CADERNO_ESPECIAL_-_MERCOSUL</CATEGORY>
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Sem outras alternativa, governo Menem terá de realizar profundo ajuste fiscal para fugir de um déficit estimado em até US$ 3 bilhões
ISMAEL BERMÚDEZ
Do "Clarín"
Independentemente do resultado das próximas eleições presidenciais marcadas para maio, a Argentina continua apostando suas fichas no Mercosul.
Há razões políticas e econômicas para isto. O processo de integração comercial teve início no governo da UCR (União Cívica Radical), de Raul Alfonsín, e aprofundou-se no governo Menem. Sua manutenção figura no programa de quase todos os partidos.
Do ponto de vista econômico, há esperança de que o Brasil, com o Plano Real, atue como um "aspirador" de produtos argentinos. No ano passado, o déficit da balança comercial (exportações menos importações) ficou em torno de US$ 5,8 bilhões, três vezes mais que o previsto pelo Plano Trienal (1993 - 1995).E a velocidade de crescimento das importações continua superando a das exportações.
Caso Menem seja reeleito, o que é mais provável, há outra certeza: a continuidade da atual política econômica.
Mas os argentinos sabem que o país está mais vulnerável. É um efeito da crise fiscal.
Em 94, as contas entraram no vermelho o governo revisou o Orçamento e pediu ao Legislativo um aumento em seus gastos. Este ano, poucos acreditam que se possa cumprir o Orçamento —as receitas estão superestimadas e as despesas, subestimadas. O déficit fiscal projetado é de US$ 2 ou US$ 3 bilhões.
Desse contexto derivam duas outras questões: um aumento dos juros e uma insegurança do investidor estrangeiro sobre o chamado "risco Argentina". Por isso, o ex-ministro Roberto Alemann recomenda cautela às empresas no momento de se endividarem.
Sem alternativa, o governo deverá operar um severo ajuste para chegar ao equilíbrio fiscal. Elaborou um projeto que reformula os pagamentos dos aposentados e as sentenças judiciais.
Ao mesmo tempo, postergou a prometida extensão, ao comércio e aos serviços, da diminuição de tributos prevista para janeiro.
Enquanto isso, o desemprego e o subemprego dobraram no atual governo, beirando os 24% da PEA (População Economicamente Ativa). A interpretação oficial culpa o avanço tecnológico. Mas a oposição responsabiliza o baixo valor agregado da produção argentina e a substituição da oferta local por importações. O governo pretende aumentar a construção de casas populares com o duplo objetivo: suprir o déficit habitacional e gerar empregos.
Quanto ao dólar, ele se mantém fixo desde 1991, apesar do custo de vida ter subido 58%. A paridade artificial da moeda foi compensada pela diminuição de impostos e pelo aumento da produtividade.
O câmbio fixo está associado, na Argentina, à idéia de estabilidade. Por isso, argumenta-se que não há como mudar o valor do dólar. Este é outro ponto crítico do plano econômico. É fácil entrar em um plano de conversão com o dólar fixo. O difícil é sair dele.
Esse quadro pouco estimulante supõe a adoção de medidas que exigirão hábeis negociações com a sociedade.
Menem sinaliza na direção da continuidade da atual política econômica. Ele gostaria de ter Domingo Cavallo como ministro da Economia até 1999 —ano em que, se reeleito, estará concluindo seu segundo mandato.
Porém, Menem excluiu Cavallo do posto de primeiro-ministro chefe de gabinete, cargo criado com a recente reforma constitucional, e que está reservado a Eduardo Bauzá, secretário político da Presidência.
Menem definiu antecipadamente a estrutura de poder de seu segundo mandato. Nos dias anteriores à definição, ocorreu uma crise no ministério por causa da privatização dos correios. Cavallo ameaçou renunciar, argumentando que o projeto estabelecia um monopólio privado (o virtual grupo privilegiado era amigo do presidente)
O projeto não vingou. Cavallo ganhou a discussão,mas Bauzá ganhou o cargo. Ele será a sombra de Cavallo.

Tradução Cláudia Rossi
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