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<CATEGORY>CADERNO_ESPECIAL_-_MERCOSUL</CATEGORY>
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Novo chanceler brasileiro diz que os acordos com a Aladi e com os europeus têm prioridade sobre Área de livre Comércio das Américas.
Da Folha
Para o governo brasileiro, o carinho especial demonstrado pelo Mercosul e, mais amplamente, pela América do Sul não significa uma opção excludente nem o abandono da vocação de mercador global.
Foi o que deixou claro o novo ministro brasileiro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia. A seguir os trechos principais de sua entrevista à Folha:

Folha - Existe uma opção preferencial pela América do Sul e, dentro dela, pelo Mercosul?
Luiz Felipe Lampreia - Há uma priorização política, mas não uma preferência excludente. O Mercosul é hoje responsável por cerca de 13% do comércio brasileiro. Com os Estados Unidos, temos cerca de 20%, com a Europa cerca de 30%.
Com a Europa, o comércio é basicamente de commodities (soja, minérios, grandes granéis). Com o Mercosul e com a América do Sul, a priorização é para os manufaturados.
Folha - A agenda do Mercosul está carregada de negociações. Há condições de os quatro países negociarem em todas essas frentes sem que uma atropele outra?
Lampreia - Os ritmos são diferentes. No caso do próprio Mercosul, todas as decisões foram tomadas. Não há, digamos, grandes frentes de trabalho novas. A prioridade imediata é a consolidação dos acordos de complementação econômica com os países da América do Sul e em particular os da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração).
Com a Europa, a nossa zona de livre comércio não tem a mesma premência, porque as tarifas na Europa, em função da Rodada Uruguai, foram substancialmente rebaixadas e o que nós queremos agora são oportunidades adicionais às que já temos pela Rodada Uruguai.
Por fim, a área de comércio hemisférica (Área de Livre Comércio das Américas, proposta na Cúpula de Miami, em dezembro e envolvendo 34 países) tem um horizonte de 2.005,mas evidentemente não é coisa que sobre a qual vamos apenas começar a conversar.
Folha - A presença na zona hemisférica dos EUA não pode funcionar como uma espécie de bomba de sucção que dinamite os esforços de integração sub-regional?
Lampreia - Não creio nesse risco. São, digamos, geometrias variáveis, áreas de complementação. Para tomar apenas um exemplo: um pequeno industrial uruguaio, que montou sua fábrica e fez investimento em função do programa especial de acesso ao mercado argentino ou brasileiro, tem seus canais de comercialização, seus fornecedores e seus compradores.
Não creio que esse mesmo empresário possa fazer a conversão e começar a olhar para o mercado norte-americano. São situações diversas e há espaço para a expansão de ambas as coisas.
Folha - Há alguma projeção de quanto vai aumentar o comércio dentro do Mercosul até o ano de 2006, quando a união aduaneira ficará realmente completa?
Lampreia - Certamente há, mas eu pessoalmente não conheço. Não tenho dúvidas sobre as sinergias e as novas oportunidades que se abrem. Não creio que se trate de exploração de um território vazio que de repente é ocupado. A cada avanço que se faz, abrem-se novas possibilidades.
Folha - Na União Européia, discutiu-se muito a questão ampliar ou aprofundar a integração. Essa discussão também tende a se instalar no Mercosul, agora que Chile e Bolívia manifestam a intenção política de se unirem os seus quatro vizinhos?
Lampreia - Acho que sim. Isso já vai ocorrendo e de forma muito mais rápida do que em outros processos semelhantes. A Comunidade Européia, para passar de seis para oito membros, levou 20 anos. Aqui, tudo é mais veloz.
Folha - Na questão mercado comum propriamente dito, no sentido mais amplo, há um cronograma para que se chegue...
Lampreia - Há, sem dúvida. Há um cronograma e todas as áreas e nós chegaremos lá pouco a pouco.
(CR)
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