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<DATE>950310</DATE>
<CATEGORY>COTIDIANO</CATEGORY>
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Da Reportagem Local
O médico Vanderlei Rocchetti, cirurgião do Hospital Morumbi (zona sul de SP), foi indiciado por homicídio na última terça sob a acusação de ter provocado a morte do estudante Carlos Pereira Batista, 13, em 11 de janeiro de 1994.
Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), a morte do estudante foi causada por uma hemorragia interna aguda causada por seis perfurações no pulmão feitas com objeto perfurocortante.
A queixa contra o médico foi feita pelos pai do estudante —Natalício da Cruz Pereira— no 89º DP (Jardim Taboão) no dia seguinte à sua morte.
"Meu filho tinha saúde de ferro. Ele chegou no hospital com dores, mas sem cortes. Foi uma barbaridade o que fizeram e quero justiça", disse a faxineira Neusa Batista de Paula, 47, mãe de Carlos.
Segundo o boletim médico, Batista chegou ao hospital na manhã do dia 11 com febre de 39,4ºC, convulsões e parada respiratória.
Os dois médicos que primeiro atenderam o menino, Teng Chao Hung e Ricardo Stoppe Júnior, fizeram traqueotomia (corte no pescoço) para facilitar a respiração.
Rocchetti assumiu o comando quando o corpo começou a inchar. Para tentar reduzir o edema, fez 43 cortes no rosto e tronco do menino com tamanhos que variavam entre 6 e 12 milímetros.
Segundo Rocchetti, os cortes eram a única maneira de salvar o estudante, que tinha septicemia (infecção) generalizada. Ele disse que o procedimento é feito desde 1932. Apesar da tentativa, Batista morreu 30 minutos depois.
O advogado de Rocchetti, Paulo Sérgio Leite Fernandes, nega que a hemorragia tenha sido causada pelas incisões. "Os cortes eram superficiais. É impossível que tenham atingido o pulmão", disse.
Depoimento
O médico Teng Chao Hung, que deixou o Hospital Morumbi há um ano e meio, diz em depoimento que "ficou surpreso com o procedimento adotado por Rocchetti". Apesar de ter sido indiciado, Rocchetti continua operando normalmente no Hospital Morumbi e dando aulas na Osec, faculdade particular na zona sul da cidade.
Os médicos que trabalham com Rocchetti disseram que não acreditam que ele tenha provocado a morte. A direção do hospital disse que só tomará posição definitiva quando o CRM (Conselho Regional de Medicina) se manifestar. As investigações devem durar pelo menos um mês.
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