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<CATEGORY>ILUSTRADA</CATEGORY>
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MARINA MORAES
Especial para a Folha, de Nova York
Um deputado americano descreveu o processo como "o apartheid da informação" (referência à política de discriminação racional que foi praticada na África do Sul).
Outro propôs que o governo federal financie micros portáteis para o pessoal de baixa renda.
Desde que as vendas de computadores deslancharam nos Estados Unidos, esquentou o debate público sobre as consequências da informatização da sociedade.
Hoje em dia é impossível escapar da polêmica. De um lado, há quem diga que as tais "superinfovias" vão democratizar o acesso à informação, permitindo que um garoto pobre da Califórnia, usando um computador da escola pública, consulte dados na biblioteca do Congresso em Washington.
Do outro lado estão políticos como o deputado Ed Markey, para quem a informática vai deixar para trás "analfabetos da eletrônica".
O ponto principal da polêmica se apóia em uma estatística bancada pelo Departamento de Trabalho do governo americano, segundo a qual quem sabe lidar com informática ganha pelo menos 15% a mais no mercado de trabalho.
Outros dados: só 30% dos americanos têm computador em casa e 75% das famílias de classe média alta têm acesso à informática.
Ou seja, os pobres são deixados para trás. Críticos lembram que a diferença começa na escola.
Os pessimistas dizem que o "apartheid eletrônico" começa na escola pública. Nas escolas de classe média para cima, há de duas a três vezes mais computadores por aluno nas salas de aula. Escola de pobre tem equipamento obsoleto e programas antiquados.
Os otimistas, feito o líder da Câmara dos Deputados, o arquiconservador Newt Gingrich, apostam no poder dos computadores para reduzir as diferenças de renda e classe entre os americanos. Se as propostas dele forem adiante, um dia o governo federal daqui vai financiar computadores portáteis para quem tem baixa renda.
O buraco é muito mais embaixo, dizem alguns observadores, lembrando que hoje em dia há pelo menos 7 milhões de famílias americanas sem serviço telefônico. Não adianta distribuir computador nos guetos onde o maior problema é a falta de saúde e educação.
Projetando um futuro em que o país vai funcionar conectado ao computador, alguns analistas acreditam que quem ficar de fora acabará alienado de vez da sociedade, distanciado do "sistema nervoso central americano", como descreveu um comentarista.
Por isso, essa gente anda propondo que o governo tome algumas medidas concretas para tentar reduzir o número de cidadãos deixados para trás. Uma delas é financiar projetos feito o que está sendo montado pela prefeitura de Santa Mônica, na Califórnia, que mandou instalar 15 terminais em lugares de amplo acesso público. Neles, o mais pobre dos moradores poderá participar de debates on line sobre questões comunitárias.
Deputados e senadores estudam legislação para obrigar as empresas a implantar as redes de serviço de informática mesmo nas regiões mais pobres e atrasadas do país.
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