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<DATE>950711</DATE>
<CATEGORY>COTIDIANO</CATEGORY>
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CEZAR TAURION
Em todos os lugares, o assunto é um só: Internet. Nos últimos meses, revistas e jornais dedicaram amplas matérias à chamada rede das redes. Entretanto, a superexposição do assunto na mídia explora apenas o lado sensacionalista da Internet. De tal modo que, por conta de um mito tecnológico _que se constrói e ameaça de exclusão os "desconectados_, estar na Internet passou a ser objetivo de quase todos os executivos.
É verdade que a Internet tem crescido num ritmo fantástico, provando que McLuhan estava certo quando projetou a sua aldeia global. Os números são astronômicos: em 150 países, os usuários passam de 30 milhões _quase nada diante da previsão de 100 milhões em 1998.
É verdade que a imensa estrada eletrônica abre inúmeras possibilidades em termos de negócios. Mas será possível explorar a Internet comercialmente? Há fatores, técnicos e culturais, capazes de trair muitas expectativas nesse sentido. Essa é uma sociedade que está apenas iniciando o aprendizado da arte de fazer negócios eletronicamente.
Não se sabe ainda o que e como se pode vender e comprar via Internet. As pesquisas mostram que somente 5% a 10% dos usuários hoje conectados respondem positivamente aos apelos do shopping eletrônico, o que significa dizer que poucos comprariam os produtos ali anunciados.
Diante disso, o bom senso recomenda que se avalie, além dos riscos, a velha relação custo/benefício. Afinal, incorporando diferentes tecnologias, a Internet é, por definição, vulnerável. E transfere para cada empresa a responsabilidade de cuidar dos detalhes ligados à segurança, privacidade e controle. Nem tão detalhes assim, diga-se de passagem. A violação e o uso antiético de informações ainda é uma constante.
O FBI calcula que 80% dos incidentes de segurança envolvendo computadores ocorrem dentro da Internet. Infelizmente, a maioria deles não é relatada, simplesmente porque apenas 5% dos casos são detectados e, desses, só outros 5% se divulgam. Enfim de cada 400, apenas uma violação vem a público. Em 94, foram reportados cerca de 1.500 incidentes, o que representa, na prática, 600.000 ocorrências.
Dependendo do caso, o prejuízo financeiro, fora os arranhões na imagem, pode ser irreparável. Some-se, ainda, a questão da segurança e qualidade dos serviços que nos serão oferecidos, tendo em vista a precária infra-estrutura de telecomunicações neste país _uma realidade cuja reversão, mesmo com a iminente privatização do sistema, promete demorar.
Ainda tarda o dia em que teremos confiança o bastante para realizar, via Internet, transações financeiras que, entre outras coisas, dependem da publicação do número do nosso cartão de crédito. Não creio que isso seja possível antes de dois anos.
CEZAR TAURION, 45, é diretor de Tecnologia da Origin C&P Brasil.
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