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<DATE>950730</DATE>
<CATEGORY>REVISTA_DA_FOLHA</CATEGORY>
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Adib Jatene acha naturais suas divergências com a equipe econômica em função da disputa por mais verbas para a Saúde. Mas a imprensa (sempre ela) "insiste em mostrar conflitos, coisas escusas, desmerecer iniciativas que só visam o bem comum", diz ele.
Vira e mexe saem notas nos jornais e nas revistas atribuindo a ocupantes não-identificados do Palácio do Planalto, "muito próximos do presidente Fernando Henrique", torpedos contra a desenvoltura com que o ministro da Saúde se movimenta nas teias do poder, "sempre querendo mais dinheiro para jogar num saco sem fundo". Ele quer o lugar de FHC, garantem os que já se movimentam na briga pela sucessão.
"Não jogo para a platéia"
Nada irrita mais o ministro Jatene do que as disputas e futricas palacianas, fatos que a imprensa, na verdade, apenas propaga. "Eu estou no serviço público há mais de 40 anos e aprendi que existem notícias plantadas", constata ele.
Ao longo de quase duas horas de conversa, Jatene chegou a se emocionar várias vezes, indignado com as pessoas que ainda duvidam da sinceridade dos seus propósitos para enfrentar a situação dramática em que vive a saúde pública brasileira.
"Eu não jogo para a platéia, faço o jogo democrático dentro do Congresso Nacional, com o único objetivo de conseguir recursos para mudar a situação da saúde pública no Brasil", começa ele.
"Muita gente gosta de criticar a saúde pública, dizer que ela não funciona, para que pessoas ou grupos possam se beneficiar da saúde privada, mas não acredito que isso parta do círculo íntimo do presidente Fernando Henrique Cardoso", conclui.
Ia para a escola remando
A impressão que se tem é que desde pequeno este homem aprendeu a remar contra a maré e a pegar touro a unha, literalmente. Perdeu o pai, Domingos, dono de uma pequena venda, quando tinha dois anos. Em Xapuri, para chegar à escola, tinha de ir remando.
Na Faculdade de Medicina, todos temiam a prova final do professor Lange, em Neurologia, no sexto e último ano. Os alunos procuravam escapar dela tirando notas boas nos dois exames anteriores.
Jatene simplesmente deixou de fazer o segundo exame e comunicou ao professor Lange: "Vou fazer a prova final e vou tirar 10". Exigente e conhecido por reprovar sem dó, o professor pensou que estava diante de um maluco. Pois Jatene tirou nota 10, só para provar que podia.
No tempo em que os cirurgiões tinham que enfiar o dedo dentro do coração para chegar até a válvula mitral, Jatene foi ao torno para criar uma unha de aço que facilitava o trabalho. Sempre foi assim: se não encontrava ferramentas adequadas para seu trabalho, ia às oficinas do Hospital das Clínicas para inventar.
Desmontando o orçamento Quando apareceu o Ped-O-Jet, um injetor a pressão utilizado nas campanhas de vacinação do governo, ele não sossegou enquanto não conseguiu desmontar o aparelho para descobrir como funcionava.
Está fazendo o mesmo agora com o Orçamento da União, para descobrir onde e como vai arranjar os R$ 6 bilhões de que precisa para seu ministério conseguir sobreviver até o final deste ano.
O único jeito que ele encontrou foi defender a volta do Imposto Provisório Sobre Movimentações Financeiras (IPMF), vinculando a receita à Saúde, razão de sua trombada com a equipe econômica de FHC. Vai conseguir? Edmundo Juarez, o amigo que mais entende de Adib Jatene, não tem nenhuma dúvida. "Consegue!", responde na lata.
E se não conseguir, joga a toalha, deixa o ministério da Saúde? "Nem pensar. Se não for o IPMF, ele vai inventar outra coisa, mas consegue", diz Juarez. Tanta certeza não vem apenas da conhecida teimosia do ministro, mas das conversas com mais de 300 parlamentares que ele já recebeu em seu gabinete nos primeiros cinco meses deste ano.
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