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<CATEGORY>COTIDIANO</CATEGORY>
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Governador é vaiado, rebate críticas e diz que não separar alunos de 1ª a 4ª série seria "temer a ousadia"
FERNANDO ROSSETTI
Da Reportagem Local
"Vamos fazer a reforma, vamos fazer a reforma", repetia ontem o governador de São Paulo, Mário Covas, 65, a um grupo de cerca de cem estudantes e pais de alunos que se reuniu para vaiá-lo, na saída de uma reunião com delegados de ensino, no centro da cidade.
O governador diz que "ainda não conseguiu entender" por que as pessoas estão protestando contra a chamada "reorganização das escolas" _a maior intervenção na rede de 6.800 escolas desde a década de 70 (leia texto ao lado).
Covas pretende reativar as escolas primárias, que teriam só da 1ª à 4ª série do 1º grau.
Ontem, pouco depois de assinar um convênio com a FAE (Fundação de Assistência ao Estudante) e 13 prefeituras paulistas para transporte de alunos de áreas rurais, Covas concedeu esta entrevista.
Folha _ Como o sr. vê essa manifestação contra a reforma?
Mário Covas _ Foi pequena. É uma coisa que a gente enfrenta com muita tranquilidade.
Folha _ A que o sr. atribui essa resistência à reforma?
Covas _ Eu ainda não consegui entender. Em geral me dizem não, mas não me apresentam argumentos. Até agora eu só conheço argumentos para fazê-la.
Folha _ Um dos principais argumentos contra é que as pessoas envolvidas tiveram pouca chance de discutir a mudança.
Covas _ Elas tiveram bastante chance e vão continuar tendo chance de discutir. Às vezes há quem prefira não discutir e dizer que não foi ouvido. Não há quem em sã consciência possa dizer que localizar crianças de 1ª a 4ª série numa escola separada das de faixa etária maior não seja conveniente.
Não tentar, não fazer mudanças que têm base e racionalidade, que têm uma história já testada antes, é um absurdo, é temer a ousadia.
Folha _ Mas vai se mexer na vida de 4 ou 5 milhões de crianças...
Covas _ Não se vai, necessariamente, mexer na vida de 4 ou 5 milhões de crianças. Num primeiro instante, você terá as escolas de 1ª a 4ª série, que não serão mudadas; ficam no mesmo no lugar.
Folha _ O que muda são as crianças de escola.
Covas _ Não, as crianças de 1ª a 4ª série muito provavelmente vão se manter na escola em que estão. O que pode acontecer é que uma criança que esteja da 4ª à 8ª série seja agrupada numa escola com pessoal que faz 2º grau _ou até numa escola separada. Mas qual é o problema nisso?
Folha _ Há pais que dizem que quem tem dois filhos na mesma escola terá de levá-los a escolas diferentes.
Covas _ Não creio que esse seja um problema tão grave. As crianças não vão ficar tão longe da escola. Além disso, a criança mais velha já não estudava normalmente no horário da criança mais nova.
Folha _ Não poderá haver antipatia com relação ao fato de serem fechadas 18 escolas só aqui na Grande São Paulo?
Covas _ Primeiro, não está sendo fechado nada por enquanto. Mas se tiver escola sobrando, a escola vai ter outro destino. O que é importante na escola, a educação ou o prédio?
Folha _ Para quem a escola é próxima à sua casa, a situação deverá piorar.
Covas _ A escola pode também estar longe de casa e, de repente, ficar mais perto. Não sei por que a reação se faz antes mesmo de conhecer os detalhes e a distribuição. Mas, ainda assim, se houvesse algum sacrifício para alguns, se isso melhorasse o conjunto, eu não vejo nenhuma razão para que não se aceite isso.
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