<DOC>
<DOCNO>FSP951231-050</DOCNO>
<DOCID>FSP951231-050</DOCID>
<DATE>951231</DATE>
<CATEGORY>MUNDO</CATEGORY>
<TEXT>
Sem adversários no partido e com oposição dividida, presidente dos EUA é o favorito na disputa
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
De Washington
Até 1960, a regra nos Estados Unidos era o presidente cumprir dois mandatos de quatro anos. Depois, virou exceção: só Ronald Reagan conseguiu.
John Kennedy foi assassinado no primeiro mandato; Lyndon Johnson foi obrigado a desistir de se candidatar ao segundo; Richard Nixon renunciou para não sofrer impeachment no meio do segundo mandato; Gerald Ford, Jimmy Carter e George Bush perderam a reeleição.
Por isso, embora pertençam a partidos que se opõem, Reagan é o modelo de Bill Clinton para a eleição presidencial do ano que começa amanhã.
Os estrategistas da Casa Branca estão usando a campanha de Reagan em 1984 como o exemplo a ser seguido, e a de Bush em 1992 como o exemplo a ser evitado por Clinton até novembro.
As chances de Clinton, 49, se reeleger parecem muito melhores agora do que há um ano: seus índices de aprovação pública se mantêm baixos, mas subiram, a economia continua indo bem (crescimento moderado, inflação sob controle, desemprego estabilizado), a imagem do Partido Republicano (de oposição), que em 1995 assumiu o controle do Congresso, se deteriorou.
Mais importante em termos eleitorais: ninguém no seu partido, o Democrata, se animou a desafiar Clinton, que vai enfrentar a oposição sem ter de se preocupar com dissensões internas (ao contrário de Johnson, Carter, Ford e Bush).
Ainda mais significativo para as suas esperanças em novembro: o homem que todas as pesquisas de intenção de voto apontavam como o único em condições de derrotá-lo, o general Colin Powell, desistiu de concorrer.
Claro que a política é um processo dinâmico e que tudo pode acontecer em 11 meses. Em janeiro de 1992, George Bush era o mais popular presidente da história recente. Acabou derrotado.
Armadilhas para Clinton estão em vários lugares. Na Bósnia, por exemplo. Se a intervenção militar dos EUA, decidida contra a maioria da opinião pública, custar muitas vidas norte-americanas, pode vir a ser para Clinton o que o Vietnã foi para Johnson.
Whitewater, por enquanto, não parece ameaçar o futuro eleitoral do presidente. Mas a apuração do caso mal começou. Seu imprevisível ex-sócio James McDougal e seu pouco confiável sucessor no governo de Arkansas, Jim Tucker, vão a julgamento no primeiro semestre deste ano.
Poucos acreditavam que Watergarte pudesse derrubar Richard Nixon até que alguns dos integrantes de seu círculo íntimo sentiram o peso da Justiça e resolveram entregá-lo.
Embora a economia vá bem, a maioria do país continua desconfiada da capacidade de liderança de Clinton, como as moderadas vendas de Natal confirmaram. Qualquer pane econômica pode provocar pânico.
A crise do Orçamento, que por enquanto vem beneficiando a imagem pública do presidente, pode virar contra ele se persistir e vier a prejudicar camadas mais amplas da sociedade, como já começa a ocorrer.
Por isso, Clinton não quer riscos desnecessários. Começou cedo a levantar fundos para sua campanha (ao contrário de Bush, em 1992) e tem cortejado o pastor Jesse Jackson, único democrata de porte que ainda pode desafiá-lo (embora todos os indícios sejam de que ele não o fará).
De Reagan em 1984, Clinton vai seguir a tática de usar a Casa Branca como a sede da campanha. Isso significa: manter controle unificado de governo e campanha e fazer Clinton posar sempre como presidente, não como candidato.
</TEXT>
</DOC>