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<DOCNO>PUBLICO-19940110-044</DOCNO>
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<DATE>19940110</DATE>
<CATEGORY>Local</CATEGORY>
<AUTHOR>AF</AUTHOR>
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Já colocados no Poço do Bispo
Maria Barroso interessa-se por romenos de Alcântara
A mulher do Presidente da República, Maria Barroso, convidou um conjunto de personalidades e organismos da área social para uma reunião a realizar hoje no Palácio de Belém, tendo em vista encontrar condições mais dignas de permanência para os cidadãos romenos candidatos ao estatuto de refugiados que durante semanas viveram em tendas na zona de Alcântara e que foram mandados para antigas instalações da PSP no Poço do Bispo.
A reunião ocorre depois de Maria Barroso ter procurado, junto de algumas instituições da Grande Lisboa, saber de formas de apoio aquelas pessoas e deverá contar com representantes do Governo Civil, institutos de Reinserção Social e do Emprego e Formação Profisional, do Centro Regional de Segurança Social e da Administração Regional de Saúde. Terão sido também convidadas as uniões das Instituições Particulares de Solidariedade Social e das Misericórdias, o Cebi de Alverca e a Casa Pia.
Água fria no inverno
«Vocês aqui têm os vossos próprios problemas, não têm tempo para os romenos. Já não acredito que aqui possa reconstruir a minha vida e a da minha família». A frase é de um romeno há nove meses em Portugal, à espera que lhe seja concedido o estatuto de asilado político e que há dois dias mudou, tal como outros 70, das tendas montadas em Alcântara para as instalações de uma antiga esquadra da PSP no Poço do Bispo.
Mas a transferência, feita por determinação do Ministério da Administração Interna, para a ex-esquadra nº 2 da PSP, junto à Avenida Infante D. Henrique, onde agora estão albergados, não conseguiu dar-lhes alento: o espírito de descrença numa hipótese de reconstrução de vida, continuava a reinar entre eles.
As condições não são as mais desejáveis, segundo alguns. O espaço é pequeno -- setenta pessoas, entre elas casais com filhos, partilham as sete divisões da casa, onde foram instalados beliches. Mas o pior é o problema do abastecimento de água. As canalizações estão avariadas e das torneiras que funcionam, apenas jorra água fria, «água quente não há».
Muitos deles mostravam má cara aos repórteres, e tentavam não se deixar fotografar, alegando estarem cansados de ser utilizados. «Os jornais em nada nos têm ajudado e ainda vieram dizer que nós, romenos, andámos aos tiros lá em Alcântara, o que não é verdade», dizia, em francês, e num tom agressivo um homem, ao mesmo tempo que tentava impedir a reportagem fotográfica.
Um outro, de 29 anos, casado, com dois filhos, sublinhava que se não lhes for concedida licença para trabalhar em Portugal dificilmente poderão ser capazes de resolver os seus próprios problemas. E os portugueses estão pouco interessados nos romenos, acrescentava.
A situação continua precária, para a maioria deles, apesar de já quase todos estarem instalados no Poço do Bispo, onde ainda ontem à tarde continuavam a chegar alguns, todos desconhecendo ainda até quando se irão manter ali. F.R./J.T.
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