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<DOCNO>PUBLICO-19940115-066</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19940115-066</DOCID>
<DATE>19940115</DATE>
<CATEGORY>Local</CATEGORY>
<AUTHOR>AF</AUTHOR>
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Beja
Projecto Gabardina para combater a sida
Através do voluntariado jovem, o Instituo Português da Juventude (delegação de Beja) e outras organizações participantes na Comissão Distrital de Luta Contra a Sida vão encetar uma luta para reduzir a doença no Baixo Alentejo. Com 10 horas semanais, 18 raparigas e dois rapazes, entre os 16 anos e os 19 anos, desenvolverão até Julho deste ano acções de informação e educação na área imunodeficiência adquirida, essencialmente junto das escolas e de zonas consideradas de alto risco, pondo em prática o Projecto Gabardina.
Durante a semana que está a decorrer, os jovens recebem a aprendizagem necessária ao tipo de acção que vão desenvolver, um trabalho que significa uma tentativa local para responder ao flagelo desta doença, que no distrito já contabiliza muitas dezenas de seropositivo.
Dados da Administração Regional de Saúde de Beja referem cerca de mil utilizadores de drogas duras -- na sua maior parte consumidores de heroína -- por via endovenosa e, destas, cerca de 200 estarão infectados, alguns já em fase adiantada da doença e a circular sem controlo pelo distrito.
O Projecto Gabardine -- quem anda à chuva molha-se -- pretende colmatar o insucesso que outras experiências ou metodologias têm revelado, como a campanha dos «kits» de seringas, que em Beja não está a resultar. O preenchimento de um inquérito no acto de troca ou aquisição tem afastado das farmácias, por inibição, muitos toxicodependentes. Apesar de facultativo, é inconveniente, até pela carga de suspeição que arrasta. Nestes casos, a ida à farmácia é quase sempre um gesto que não admite contratempos. Por outro lado, referem alguns farmacêuticos, o tipo de seringa não é o mais adequado para Beja, porque não foram tidas em linha de conta as realidades locais na promoção desta campanha mediática. Outro aspecto assinalado pelos promotores da iniciativa inerente ao número crescente de seropositivos é a transmissão mãe-filho.
A professora Maria de Deus Leal, que orienta o projecto, acredita que este possa representar uma pedrada no charco da indiferença ou da despreocupação dos cidadãos locais para o problema da sida, em cuja primeira linha das preocupações está, acima de tudo, a juventude. Maioritariamente jovens são, por exemplo, os reclusos da prisão de Beja, aproximadamente 110 indivíduos, a cumprirem penas resultantes de crimes derivados da toxicodependência. Cerca de 70 por cento persistem ali na sua prática, alguns com sida, outros com hepatite ou tuberculose. E é na prevenção mediante o esclarecimento pelo próprios jovens que se depositam algumas expectativas animadoras. O Projecto Gabardine tem seis meses para mostrar o que valeu.
Carlos Dias
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