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<DOCNO>PUBLICO-19940225-101</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19940225-101</DOCID>
<DATE>19940225</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>ASMP</AUTHOR>
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Distritais do PSD preparam nomes para Estrasburgo
Capucho em dúvida
Áurea Sampaio
António Capucho pode não ser o número um da lista do PSD às europeias. Porque cresce no partido «laranja» a tese de que é necessário conter o CDS, erigido em adversário principal dos sociais-democratas e não o PS. Entretanto, as distritais preparam os nomes que Liberato pediu. Mas vai ser muito difícil a Cavaco fazer esta lista.
Crescem as dúvidas sobre se António Capucho será o cabeça de lista do PSD às eleições europeias. É certo que já o foi em 89, que Cavaco o escolheu para coordenar o programa eleitoral, que desempenha importantes funções no Parlamento Europeu e que é uma personalidade prestigiada e competente. Mas também é verdade que engrossam os defensores da tese de que o adversário do PSD nas europeias é o CDS e não o PS. Nesta óptica seria necessário encontrar uma figura que sossegasse a direita para evitar o crescimento do partido de Manuel Monteiro, obviamente à custa dos sociais-democratas. Isto poderia ter como consequência um novo fôlego dos socialistas para as legislativas de 1995, o que não agrada particularmente à maioria. As simpatias federalistas de António Capucho e o seu perfil político mais ligado ao centro esquerda não se enquadram no objectivo essencial do PSD: conquistar nova maioria absoluta no próximo ano.
Por isso, «é muito natural» que a escolha não recaia em Capucho, diz ao PÚBLICO uma fonte social-democrata, mais segura de que este eurodeputado será o número dois da lista. Escolha que só em meados de Março deverá estar feita... apesar de todos terem a certeza de que Cavaco já tem a opção feita.
Entretanto, até lá as distritais têm estado a fazer as suas escolhas. O secretário-geral escreveu-lhes uma carta a pedir o envio de três nomes, por ordem alfabética, que obedecessem a alguns critérios. A saber: pede-se pessoas com características de notoriedade política e profissional para além do distrito; que falem pelo menos uma língua estrangeira e tenham apetência para questões comunitárias. As respostas devem chegar à Santana à Lapa até 3 de Março. Mas nem todas cumprirão esse pedido. Desde logo Lisboa e Porto. As duas maiores distritais do país reservam-se para mais tarde. Usam de toda a cautela e querem «evitar distúrbios», objectivo de um responsável. Mas sabe-se que no Porto se começa a esboçar a possibilidade de Arlindo vir a ser o candidato, sobretudo se na «zona cinzenta» vier a ser admitido um outro nome. «Questão de prestígio», diz-se na distrital. Em Lisboa, só a partir de 7 de Março se abrirá o jogo. Nesse dia, antes da CPD (ver notícia nesta página) reune-se a Comissão Permanente e é então «provável» que surjam indicações para os três nomes a enviar a Nunes Liberato. Só que ninguém acredita que não haja um dedo do próprio Cavaco Silva por detrás das personalidades a apoiar por estas duas distritais.
Quem não quer abrir o jogo é Braga. Mas tudo indica que a estrutura local vai insistir na indigitação de António Marques Mendes. O que pode irritar Cavaco. Este eurodeputado já cumpriu dois mandatos e, segundo uma espécie de acordo de cavalheiros saído de um Conselho Nacional, foi estabelecido que seria esse o limite para permanecer em Estrasburgo. É que são poucos os lugares para tantos aspirantes ao exílio dourado e era necessário definir regras para alargar as possibilidades dos pretendentes. Acontece que está assente a candidatura de Carlos Pimenta, também já cumpridor de dois mandatos... e ninguém consegue convencer Braga de que esta é excepção que confirma a regra. Talvez por isso a distrital reserve uma tomada de posição.
Quanto às outras, é sabido que Faro e Beja apoiam Mendes Bota; a JSD, Santarém e Évora Carlos Coelho; Coimbra, Portalegre e Guarda Manuel Porto; Castelo Branco já votou segunda-feira os nomes de Pereira Lopes, Nunes Liberato e Pedro Roseta; Viseu decide segunda-feira, mas não há dúvidas que a aposta cairá em José Cesário, o líder distrital; Setúbal reuniu-se ao fim da tarde de quarta-feira e Carlos Pimenta foi o mais votado. Bragança já decidiu apoiar José Gama, presidente da câmara de Mirandela, que já foi eurodeputado pelo CDS. Vila Real aposta no mesmo nome. Só Aveiro e Leiria mantêm uma total indefinição. No primeiro caso, compresensível, visto que há eleições dentro de dias; no segundo porque, segundo um responsável, se acha que as distritais «têm pouco peso» nas europeias.
Seja como for vai ser um imbróglio para Cavaco aceder a tantas pretensões. É que há ainda que contar com dois lugares certos para as ilhas, com a inclusão de uma mulher e uma outra certeza que é Lucas Pires. E nas últimas eleições o PSD só meteu nove eurodeputados no PE.
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