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<DOCNO>PUBLICO-19940322-042</DOCNO>
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<DATE>19940322</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>MSL</AUTHOR>
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Questão coreana transita para a ONU
A última hipótese
A comunidade internacional deu ontem uma última hipótese à Coreia do Norte para que abra sem limitações as suas instalações nucleares a uma inspecção independente, se quiser evitar sanções. Mas, como poucos acreditam que Pyongyang aceda às pressões, tanto a Coreia do Sul como os Estados Unidos, ou mesmo o Japão e a Rússia preparam-se para o pior.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA, organismo especializado da ONU, com sede em Viena) decidiu ontem remeter a questão nuclear norte-coreana para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, depois de ter esgotado todos os meios ao seu alcance para convencer o regime comunista de Pyongyang a deixar inspeccionar inteiramente todas as suas instalações nucleares declaradas.
Na sequência de um conselho especial de governadores da AIEA, que durou duas horas, a agência absteve-se no entanto de recomendar sanções comerciais contra a Coreia do Norte, que já hoje é um país fechado ao mundo exterior e sofre graves dificuldades económicas, devido à queda da URSS, seu antigo aliado.
O Conselho de Segurança poderá empreender «medidas progressivas» antes de eventuais sanções, disse o director geral da AIEA, o sueco Hans Blix.
A resolução, aprovada por 25 votos a favor, um contra (Líbia) e cinco abstenções (Brasil, China, India, Indonésia e Líbano) sublinha que a Coreia do Norte «agravou a situação ao recusar aos inspectores da AIEA a possibilidade de exercerem os seus trabalhos capazmente».
A Agência e a Coreia do Norte tinham chegado a acordo a 15 de Fevereiro sobre as modalidades precisas de inspecção de sete locais declarados no programa nuclear de Pyongyang, mas a equipa de peritos esteve duas semanas no país, de 3 a 15 de Março, sem poder efectuar testes cruciais no laboratório de radioquímica de Yonbyon, que se suspeita esteja a produzir plutónio para o fabrico de uma bomba atómica.
Blix propôs ontem o reenvio dos inspectores à Coreia do Norte, o mais depressa possível, desde que haja a garantia de que, desta vez, não haverá limitações ao seu trabalho. É pouco provável que o diálogo seja produtivo, num processo que se arrasta desde Janeiro de 1992, quando Pyongyang assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear (NPT), que a obrigava às inspecções periódicas da AIEA.
Até porque os norte-coreanos não perderam tempo e responderam ao seu estilo habitual às decisões de Viena -- ameaçaram abandonar o NPT, tratado que denunciaram em Março do ano, vindo a «suspender» essa decisão em Junho. Ontem, Pyongyang voltou a ameaçar com o abandono do tratado, que procura limitar o alastramento de armas atómicas.
Perante a intransigência do Norte, a Coreia do Sul anunciou ontem a continuação das preparações para exercícios militares conjuntos com os EUA, que tinham sido suspensos há meses, como medida de boa vontade.
Além disso, o Sul quer ter ao seu dispor, o mais rapidamente possível, mísseis anti-mísseis Patriot, para fazer face à ameaça norte-coreana. As armas já foram disponibilizadas por Washington.
De visita a Moscovo, o ministro japonês dos negócios estrangeiros, Tsutomu Hata, teve por parte do seu homólogo Andrei Kozirev o apoio nas pressões à Coreia do Norte para que obedeça às regras internacionais de convivência e respeite os tratados assinados. Uma Coreia do Norte nuclear deixaria muito nervosos russos e japoneses.
O principal aliado de Pyongyang, a China, que tem poder de veto no Conselho de Segurança, tem dito que se opõe a sanções, confessando ao mesmo tempo a sua limitada capacidade de influência junto dos dirigentes norte-coreanos. F.C.O.
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