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<DOCNO>PUBLICO-19940404-035</DOCNO>
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<DATE>19940404</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>JCS</AUTHOR>
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Imprensa dominical britânica diz que o primeiro-ministro tem os dias contados
Major em fase terminal
Sue Baker, em Londres *
Como predadores que sentem o cheiro de sangue fresco da presa, os jornais dominicais britânicos asseguram que o primeiro-ministro John Major tem os dias contados. As sondagens dizem o mesmo. Como Major garante que não se demitirá, a questão é saber quando é que os seus pares conservadores o apearão.
O primeiro-ministro britânico, John Major, sofreu ontem mais alguns duros golpes da imprensa dominical, que afirma sem rodeios que os eleitores querem que ele se demita e tira uma conclusão unânime: os seus dias estão contados.
O «Sunday Times» afirma, num editorial particularmente violento, que Major se mostrou incapaz de elaborar uma estratégia credível para uma recuperação sustentada da sua imagem política e que parece ter um jeito especial para tornar uma situação má ainda pior. «Tudo junto, isto sugere que o seu estado é terminal», diz o editorial, acrescentando que a batalha pela sucessão dentro do Partido Conservador já começou, bastante antes do duelo formal que se espera que ocorra este ano.
«The Observer» quase faz troça da «liderança fraca» de Major, apresentando-o como «o homem que perderá o partido nas próximas eleições gerais».
Sondagens demolidoras
Ao ler o «Sunday Telegraph», Major deparou com mais más notícias: uma sondagem Gallup mostra que 65 por cento dos eleitores quer que ele se demita e que 68 por cento o julga «politicamente inepto». Realizado na quinta-feira, o estudo de opinião acrescenta que 31 por cento dos conservadores interrogados também querem que ele se afaste.
No «Sunday Times», outra sondagem sublinha que um quarto dos deputados conservadores pensa que Major deve abandonar o cargo; 40 por cento acredita que ele já não será o chefe dos «tories» quando estes forem chamados ao próximo combate eleitoral, em 1997.
Major, de 51 anos, tentou no sábado acabar com todas as especulações de que o seu lugar está em risco, numa semana em que foi particularmente atacado, depois de ter aceitado um compromisso sobre direitos de votação numa União Europeia alargada, o que, para os seus críticos, foi um revés humilhante.
«A política é um negócio duro... Às vezes, é preciso encaixar golpes fortes -- faz parte do jogo. Não me queixo», disse o primeiro-ministro. Major insistiu em que não pensa demitir-se num futuro próximo, de modo que as especulações se orientam noutro sentido: quando é que os seus adversários dentro do Partido Conservador tentarão afastá-lo?
Heseltine favorito
Os deputados conservadores elegem rotineiramente o seu líder todos os anos. É um processo que, por tradição, não passa de uma formalidade para qualquer chefe do partido que seja primeiro-ministro. Mas, em 1990, esta ocasião foi utilizada para desafiar e afastar a antecessora de Major, Margaret Thatcher.
Os jornais dizem que o ministro do Comércio, Michael Heseltine, tem emergido como o favorito para suceder a Major, se houver um desafio à liderança deste. Heseltine disporia de ligeira vantagem sobre o ministro das Finanças, Kenneth Clarke.
No «Independent on Sunday», uma sondagem NOP avança já para este cenário futuro: com Heseltine como líder, os «tories» teriam 30 por cento dos votos em eleições; com Major chegam aos 26 por cento.
«The Observer» diz que Heseltine está a ser pressionado para cooperar com o secretário do Tesouro, Michael Portillo, o mais notável «jovem turco» da direita conservadora. Seria, no dizer de alguns analistas, uma «equipa de sonho», capaz de unir a esquerda e a direita do partido.
O facto é que, com três eleições parciais marcadas para os próximos dois meses, além de consultas locais e das europeias, os conservadores receiam uma sucessão de derrotas. E isto acontece apenas dois anos depois de John Major ter conduzido o partido a uma surpreendente quarta vitória consecutiva nas legislativas.
Contrariando todas estas previsões de fim de reinado, fica a voz experiente de Sir Bernard Ingham, que durante quase uma década foi secretário de imprensa de Lady Thatcher: «Se ele [Major] se mantiver firme e não houver mais confusões, isto tudo vai passar. Não passa de conversa de jornais. Não creio que eles tenham qualquer influência. Só têm se lhes for permitido que tenham.» Com toda a probabilidade, John Major vai escutar Sir Bernard.
* com Peter Bale
Jornalistas da Reuter
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