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<DOCNO>PUBLICO-19940515-096</DOCNO>
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<DATE>19940515</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>JPMP</AUTHOR>
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Guterres volta a referir-se ao rescaldo do «Portugal: que futuro?»
"Querem desgastar imagem do PS"
José Palmeira
António Guterres falou ontem em Braga de "intrigalhada". Diz que querem "desgastar a imagem do PS" e que a resposta do partido foi "unir-se em torno do seu secretário-geral". Disse tudo isto em Braga onde voltou a defender a regionalização.
António Guterres não comenta o conteúdo da sua conversa telefónica com o Presidente da República, atalhando que "não há distanciamento nem aproximação" entre o PS e Belém. Interpelado pelos jornalistas na sessão de abertura do congresso da Associação Nacional de Freguesias, a que assistiu, em parte, ontem, em Braga, o secretário-geral do PS respondeu que "homenagear os autarcas que estão na primeira linha de acção democrática em Portugal, é muito mais importante que qualquer intrigalhada".
Sem especificar, Guterres voltou a afirmar haver «muita gente a querer desgastar a imagem do PS", admitindo que essas pessoas "podem durante algum tempo conseguir o seu objectivo". No entanto, "à medida que estas manobras vão sendo desmascaradas, as pessoas compreendem a razão que nos assiste e vão manifestar a sua confiança na única força que pode produzir mudança séria em Portugal".
O líder socialista reafirmou em Braga que o seu partido "tem um projecto próprio e tem legitimidade para pedir aos portugueses que lhe dêem as mesmas condições que deram ao PSD e infelizmente não foram aproveitadas", concluindo que "não é com alianças entre políticas distantes mas pela coerência das nossas próprias ideias, que nós podemos servir a democracia portuguesa e sobretudo os portugueses".
Em relação à sua liderança e comentando o apoio que lhe foi manifestado na véspera pelo secretariado do PS, Guterres afirmou que "os socialistas souberam unir-se em torno do seu secretário-geral e souberam pôr para trás pequenas divergências que pudessem existir". Mais do que isso, "perceberam que estava em causa o partido, a sua autonomia e o seu projecto".
Como consequência daquilo que rotulou de mero "episódio", Guterres responde que "não há lideranças duras nem moles" e que não é seu hábito "fazer rolar cabeças", nem crê que isso seja necessário. A sua preocupação está virada para as eleições europeias, onde prevê que o seu partido obtenha "uma grande vitória". Acompanhado do presidente da Câmara Municipal de Braga, Mesquita Machado, o secretário-geral do PS visitou ontem obras da autarquia comparticipadas por fundos comunitários e participou no encerramento de um fórum sobre regionalização, promovido por uma associação de desenvolvimento regional do Minho. Aí, fez a defesa da regionalização, no país que tem "o Estado mais centralista da Europa". Chamou-lhe "tradição centralista napoleónica", contra a qual advoga que "a sociedade se mobilize". Falou dos méritos das experiências dos Açores e da Madeira que "têm voz política própria e podem bater o pé ao poder central". Como perigo a evitar, referiu "as grandes burocracias regionais e o consequente aumento da despesa pública" mas reconheceu a dificuldade da delimitação das regiões. A este nível, manifestou a disponibilidade do PS para "sacrificar o seu projecto a outro consensual", de forma a acelerar "a grande reforma adiada do nosso sistema democrático".
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