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<DOCNO>PUBLICO-19940519-092</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19940519-092</DOCID>
<DATE>19940519</DATE>
<CATEGORY>Diversos</CATEGORY>
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A favor das provas globais
A Direcção da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Carlos Cal Brandão vem por este meio manifestar o seu profundo desagrado pelo que apelidaram de manifestação de estudantes contra a reforma do ensino ou, melhor, contra as provas globais.
De manifestação de estudantes contra as provas globais nada teve; foi, isso sim, uma manifestação de má-criação, palavrões, cartazes e gestos obscenos. (...) Desde logo os ilustres manifestantes perderam a pouca razão que tinham, que, diga-se, não são as provas globais, mas sim a reforma do ensino básico e secundário, mas esta foi esquecida, pois a maioria dos manifestantes já não é abrangida por ela. É pena que os organizadores de tão ilustre palhaçada sofram de profunda inépcia.
Desde o início que nos opusemos à greve e à manifestação, primeiro porque somos totalmente favoráveis às provas globais, pois estas vêm acabar com o sistema dos alunos decorarem a matéria e vomitarem-na no dia do teste, ou seja, contribuem para uma melhor qualidade do ensino que os manifestantes tanto reclamam; em segundo, porque foram convocadas com base em mentiras e demagogias, como andarem a recrutar manifestantes, metendo-lhes na cabeça que tinham duas e três provas globais por dia. Mesmo que tivessem, a culpa não era da reforma nem da sra. ministra, mas sim dos conselhos directivos de cada escola, pois são eles que marcam o dia das provas globais. Santa ignorância!!!
É grande o espírito de contradição dos manifestantes. Distribuem cartazes dizendo: «Não às provas globais», mas, por fim, acabam por dizer que são favoráveis às provas globais, querem qualidade de ensino, mas não querem estudar. Não acreditamos que eles saibam o que significa a palavra «qualidade», mas acreditamos que os bons alunos, esses que andam na escola não para ver andar os outros mas sim para estudar, não têm medo de uma simples prova global que é elaborada e corrigida pelos professores da escola, em que os alunos são previamente avisados da matéria que sai e conta apenas 25 por cento da nota final, nem foram para a manifestação fazer figuras tristes.
De modo algum somos contra greves e manifestações, pois, como vivemos num país democrático, é um direito que nos assiste, mas convém não esquecer que a democracia tem limites e regras e é preciso não a confundir com a república das bananas.
Fernando António Rodrigues Vaz das Neves
(presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Carlos Cal Brandão)
Porto
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