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<DATE>19940526</DATE>
<CATEGORY>Desporto</CATEGORY>
<AUTHOR>MABR</AUTHOR>
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Piloto português em recuperação
Lamy espera nova operação
Pedro Lamy terá de ser submetido a nova operação cirúrgica para corrigir as lesões nas pernas e nos joelhos, provocadas pelo acidente que sofreu na terça-feira, quando testava o seu Lotus-Honda no circuito britânico de Silverstone, afirmaram ontem os médicos do Hospital Geral de Northampton, onde o piloto português está a ser assistido. Lamy foi operado pela primeira vez logo após entrar no hospital -- uma intervenção que durou mais de três horas.
O chefe da equipa médica que assistiu ao jovem piloto (com apenas 22 anos) considerou a operação «bem sucedida» e adiantou que a segunda intervenção poderá realizar-se ainda esta semana. Depois, Lamy terá de passar por um longo período de recuperação, embora os prazos já adiantados (entre as seis semanas e os dois anos) sejam ainda muito falíveis e dependentes da própria capacidade de recuperação do jovem piloto português. O médico que o assistiu referiu mesmo que Lamy «não vai ter problemas para continuar a sua carreira».
Em declarações à TSF, ontem de manhã, Pedro Lamy -- que se encontra acompanhado pela família, que partiu para Inglaterra logo que tomou conhecimento do acidente -- negou qualquer intenção de deixar a Fórmula 1: «Não, não tenciono abandonar a competição.» O piloto português, ainda com muitas dores nas pernas, adiantou que um elemento da equipa Lotus lhe teria dito que o acidente se deveu ao facto de se ter partido «a asa traseira do carro».
A equipa britânica ainda não divulgou as causas oficiais do despiste e adiou para hoje uma declaração sobre o assunto e sobre a participação no GP de Espanha, cujos primeiros treinos decorrem já amanhã no circuito de Montmeló (Barcelona). Tendo em conta o local do acidente, uma pequena recta entre as curvas Abbey e Bridge, ganham consistência as hipóteses que apontam como razões prováveis uma falha mecânica ou a perda de aderência devido à chuva -- até porque o carro estava de acordo com os novos regulamentos, que impõem uma redução dos apoios aerodinâmicos na ordem dos 25 por cento.
Reunião de pilotos
O acidente de Pedro Lamy provocou uma nova onda de reacções contra as alterações aos regulamentos impostas pela FIA e aceites com relutância -- mas por unanimidade -- pelas equipas de F1. Mark Blundell (Tyrrell) e Martin Brundle (McLaren), que testaram os seus carros modificados durante esta semana na pista de Silverstone, dizem que as alterações não melhoraram as condições de segurança, sobretudo com a pista molhada.
Blundell deixa isso claro: «Não quero dizer que estes carros sejam agora mais perigosos, mas também não são mais seguros. São 3,5 segundos mais lentos por volta, mas não são mais seguros. Em Barcelona vão estar algumas equipas que não deram uma única volta até sexta-feira e não acredito que isso seja tornar a F1 mais segura.»
Já Brundle mostra-se preocupado com as altas velocidades que os carros continuam a atingir: «As velocidades máximas são as mesmas e chega-se à área de travagem à mesma velocidade, pelo que é preciso pensar no que pode acontecer se alguma coisa correr mal. É por isso que eu gostaria de ver uma redução na potência junto com estas alterações.» E acrescenta: «Todas as manhãs nos vem à cabeça a mesma pergunta -- quem vai ser o próximo?»
Hoje, os pilotos reúnem-se em Barcelona, no âmbito da GPDA (associação de pilotos reactivada no Mónaco), e poderão tomar uma posição mais dura em relação às alterações introduzidas nos «seus» carros. Para amanhã, está prevista uma sessão de treinos extraordinária, às 8h30, a última oportunidade para as equipas testarem os seus monolugares modificados.
Ontem, começaram também a ser analisados os destroços dos carros de Roland Ratzenberger e Ayrton Senna, mortos durante o GP de S. Marino. Os exames, indispensáveis na sequência do inquérito promovido pela justiça italiana, estão a ser realizados na presença do procurador Maurizio Passarini, oito conselheiros, advogados e peritos das equipas Williams e Simtek, do projectista Patrick Head e do responsável pelo circuito de Ímola (Itália), Federico Bendinelli.
Ainda ontem, a Simtek anunciou que o piloto italiano Andrea Montermini, de 29 anos, vai substituir Ratzenberger como companheiro de equipa do australiano David Brabham nos GP de Espanha e do Canadá (e possivelmente da Grã-Bretanha). Nas últimas oito provas do campeonato, o lugar será preenchido pelo francês Jean-Marc Gounon, de 31 anos, com contrato desde o início da época.
A Williams-Renault, por seu turno, deve anunciar hoje o piloto que fará equipa com Damon Hill para o resto do campeonato, depois da morte de Ayrton Senna. Muitos nomes têm sido adiantados nas últimas semanas, mas a possibilidade do piloto de testes David Coulthard vir a assumir o volante do Williams-Renault nº 2 ganha consistência, sobretudo depois da recusa da Jordan em libertar o brasileiro Rubens Barrichello. Também a Lotus deve anunciar quais os seus planos para a participação no GP de Espanha, bem como e quando pretende substituir Pedro Lamy.
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