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<DOCNO>PUBLICO-19940527-118</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19940527-118</DOCID>
<DATE>19940527</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>SJA</AUTHOR>
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Portugal = sol, praia e golfe
José Saramago
71 anos
escritor candidato pela CDU
Para a sua inclusão na lista da CDU, à semelhança de anteriores eleições, José Saramago impôs uma «única condição»: a de «não ser eleito». Deu o nome para «manifestar o apoio» ao PCP com «um maior grau de compromisso». Agora, ir para o PE é que não. E se, como 10º candidato, por hipótese «académica», fosse eleito, «renunciaria». Um dos motivos é óbvio: toda a sua vida de escritor «não está orientada nesse sentido». E não pretende, aos 71 anos, trocar Lanzarote por Estrasburgo, nem a escrita pela política.
O principal obstáculo é, porém, o seu «cepticismo e pessimismo em relação à Europa». Uma vez lá, teria um terrível dilema. Ou se conformava «com as regras partidárias e teria que engolir sapos» ou assumia o que pensa. E, aí, ironiza: «Os meus camaradas de partido dir-me-iam então: `Não exageres!'.» Isto porque a sua «visão» sobre a construção europeia «não é nada optimista».
Vê a União Europeia como «uma organização que conta com 18 milhões de desempregados» e onde «a economia está contra o homem e não ao serviço do homem». Com agrado, verifica que «pessoas com importância no processo integrador põem mais reservas» e acrescenta: «Mesmo quem tenha tido responsabilidades nisso e tenha entendido que o caminho da Europa era este. Não creio que ainda acreditem.»
Quanto a si, nunca acreditou. Lembra o que «está a acontecer» à indústria e agricultura em Portugal e conclui: «Vamos ter sol, praia e campos de golfe para vender.» Apesar disso, vai fazer campanha em Lisboa, Faro, Viseu e Almada. Para apoiar o partido onde milita desde 69, o PCP. Como seu representante na Com Lisboa até foi eleito presidente da Assembleia Municipal da capital, em 89, cargo que abandonou meses depois. «Não quis ter tratamento de excepção. No momento em que camaradas meus, que já não o são, eram objecto de críticas do partido, não podia ficar de fora, quando, em alguns casos, coincidia com eles.»
Confessa que «foi um momento difícil», de «crise», em que discordou «publicamente» e criticou «internamente». Mas, peremptório, frisa: «Não afectou nunca e em nada a minha relação com o meu partido, que continua a ser hoje o que era então, uma opção política.» S.J.A.
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