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<DATE>19940805</DATE>
<CATEGORY>Local</CATEGORY>
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Embaixada da marinha de recreio portuguesa rumo a Marrocos
Marina de Lagos abre novas rotas ao turismo
Idálio Revez
A construção da Marina de Lagos veio abrir novos rumos ao turismo. Mas, em terra, a não continuação da Via do Infante e a falta do Itinerário Complementar Sines-Lagos bloqueiam o barlavento algarvio e comprometem investimentos futuros.
Um cruzeiro constituído por 64 embarcações partiu, ontem, de Portimão com destino a Marrocos. A prova, organizada pela Associação Nacional de Cruzeiros e Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos, serviu de pretexto para dar a conhecer a nova marina de Lagos e recordar os tempos do Infante D. Henrique por aquelas bandas.
A marina de Lagos abriu, sem inauguração, no dia 1 de Julho. Não teve grande promoção, mas pretende vir a tornar-se, a curto prazo, num espaço de animação capaz de dar novos rumos ao turismo. No entanto, a falta de acessibilidades afasta potenciais investidores. A Via do Infante ainda só chega até à Guia, no concelho de Albufeira, e a partir daí para o barlavento os engarrafamentos na Estrada Nacional 125 são uma constante.
O presidente da Câmara de Lagos, Valentim Rosado, diz-se perplexo quanto ao futuro do seu concelho porque, diz, «começaram já a surgir vozes de que a Via do Infante, numa primeira fase, não vai chegar a Lagos». Essa e a outra via, Sines-Lagos, são as duas obras que considera imprescindíveis para o progresso do concelho e ordenamento da região. O presidente do concelho de administração da Marlagos, concessionária da marina, Ferreira Lima, por outro lado, diz que nem quer acreditar que isso possa vir a acontecer.
O responsável pela Marlagos sustenta a sua tese com números: foram investidos na marina cerca de três milhões de contos e pretende-se chegar aos sete milhões. Mas, se não existirem boas acessibilidades, adianta, «não conseguimos desencravar o barlavento». A Marina tem 470 lugares e pode receber embarcações até 20 metros de comprimento. À sua volta serão construídas 34 lojas, algumas já abertas, espaços de lazer e recreio e apartamentos. É que a marina, só por si, afirmou Ferreira Lima, «não dá lucros», o imobiliário serve de complemento. O preço dos apartamentos varia entre os 15 mil e os 18.500 contos para o T1 e os 18 mil e os 22.500 contos para os T2.
Expo «despreza» Lagos
O cruzeiro a Marrocos partiu de Lisboa no dia 30 de Julho e chegou a Lagos na segunda-feira passada -- onde fez escala de dois dias --, saiu ontem de Portimão e hoje atingirá Palos de la Frontera. A chegada a Marrocos está prevista para o dia 13 de Agosto. Para dar cumprimento ao programa da viagem nos prazos previstos, sempre que, à vela, as embarcações não consigam alcançar a velocidade média de quatro nós, a organização recomendou a navegação a motor.
Este encontro com os herdeiros do espírito dos antigos navegadores levou, por associação de ideias, o presidente da Câmara a lamentar o «desprezo» que foi dado à sua cidade por parte da organização da Expo 98. Não considerar Lagos no programa, disse, «é um erro histórico imperdoável». De resto, acrescentou, «quando se fala de descobrimentos marítimos raramente se fala do Algarve, como se não fosse aqui -- com a escola de Sagres -- que tudo começou».
A construção da marina de Lagos, na perspectiva da autarquia, veio permitir o retomar de algumas tradições marítimas ligadas à cidade. O administrador da Marlagos disse ao PÚBLICO que um dos trunfos para o sucesso do projecto são as condições naturais: a baía e os ventos propiciam óptimas condições aos desportos náuticos. Outro dos factos que considera de relevante importância é o aspecto rochoso de toda a costa do barlavento, que permite fotografias de singular beleza. Nesse aspecto da «caça à fotografia», adiantou que há um empresa que tem barcos com fundo de vidro que se propôs desenvolver um programa de animação: a ver o fundo do mar.
A seguir à marina de Vilamoura, Lagos surge agora como uma nova oferta, dispondo de serviços de apoio ligados às actividades marítimas. Ferreira Lima considera que este investimento «não é concorrente com Vilamoura, mas sim complementar». Quanto a novos projectos neste domínio, alerta: «Cuidado: veja-se as falências que se têm dado no Sul de Espanha». Trata-se, no entender deste empresário, de um investimento muito elevado que não é fácil rentabilizar. O Algarve, disse, «para os próximos cinco anos, está bem servido de marinas». Mas se houver alguém interessado em arriscar, não tem «nada contra». A Câmara de Albufeira, por seu lado, também reivindica uma marina para o concelho, não se dando por satisfeita com o porto de recreio, sugerido pelo Governo no âmbito do plano de ordenamento do Algarve.
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