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<DOCNO>PUBLICO-19940902-035</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19940902-035</DOCID>
<DATE>19940902</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>JH</AUTHOR>
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Ao fim do dia, a impressão geral que se podia colher era a de que todo o processo continua muito embrulhado, apesar das notícias que haviam dado conta durante a manhã de que se desbravara algum terreno e de que o governo do Huambo já não estava a ser um grande obstáculo.
A UNITA boicotou as sessões do trabalho negocial que ontem estavam previstas em Lusaca e disse que só voltará à mesa negocial depois de devidamente esclarecido o bombardeamento ao Huambo, que desde há mais de um ano é o quartel-general de Jonas Savimbi. De modo que, a esperança que alguns tinham de que esta semana se avançasse alguma coisa voltou uma vez mais a malograr-se.
Angola
O Huambo foi bombardeado
A AVIAÇÃO governamental angolana, que voava a grande altitude, lançou na quarta-feira bombas de fósforo sobre a cidade do Huambo, tendo morto perto de 30 pessoas, mas nem nesta ocasião nem noutras anteriores Savimbi foi ferido, ao contrário do que se afirmou em Luanda, disse ontem ao PÚBLICO o representante da UNITA em Portugal, Adalberto Costa Júnior.
Por outro lado, não é verdade que tenha havido qualquer alteração de fundo às reivindicações daquele partido sobre o governo da província do Huambo, apesar de terem surgido notícias de que a UNITA estaria agora disposta a aceitar a nomeação de uma personalidade neutra, como por exemplo Onofre dos Santos, esclareceu ainda o mesmo delegado de Jonas Savimbi.
O que se aguarda nesta altura é que o Conselho de Segurança da ONU (dentro dos próximos 15 dias) se pronuncie sobre o processo angolano e, se houvesse uma hipotética aplicação de novas sanções à UNITA, seria como que «a destruição do quadro de Bicesse», para se começar novamente a partir do zero, indicou Adalberto Costa Júnior, a propósito das notícias de que haveria dados novos em Lusaca.
«Os centros de decisão estão em circunstâncias de tomar uma opção difícil, havendo posições diferentes entre o secretário-geral Butros Butros-Ghali e o Conselho de Segurança», considerou a mesma fonte, que, a par disto, desmentiu informações sobre a alegada morte de alguns generais da UNITA, incluindo Bock, sobrinho e chefe de gabinete de Jonas Savimbi.
Butros-Ghali, que aparentemente é agora mais bem visto pela UNITA do que a generalidade dos membros do Conselho de Segurança, decidiu entretanto enviar a Angola e a Lusaca um seu emissário especial, James Jonah. Este, no prazo de duas semanas, deverá elaborar um relatório para o Conselho de Segurança, sobrepondo-se assim ao medianeiro oficial Alioune Blondin Beye.
O maliano Beye tem vindo ultimamente a ser acusado nos meios governamentais angolanos de estar a fazer o jogo da UNITA, no sentido de procurar adiar o mais possível a aplicação das novas sanções. E, por haver agora um novo diplomata a trabalhar no assunto, não é de crer que se concretize, ou pelo menos que dê algum resultado significativo, a reunião que o Conselho de Segurança deveria efectuar hoje para apreciar o andamento das morosas conversações de Lusaca.
Quanto a Onofre dos Santos, coordenador das eleições de 1992 em Angola e das deste ano na Guiné-Bissau, desmentiu ontem à emissora privada luandense LAC estar em vias de ser indigitado para governador da província do Huambo, como forma de ultrapassar esse ponto de divergência entre as autoridades angolanas e a UNITA. Jorge Heitor, com Aguiar dos Santos em Luanda
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