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<DOCNO>PUBLICO-19940910-064</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19940910-064</DOCID>
<DATE>19940910</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>MSL</AUTHOR>
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Demissão do Governo de Liúben Bérov
Bulgária à espera de eleições
Os búlgaros assinalaram ontem o dia em que, há 50 anos, os comunistas tomaram o poder -- uma data de glória para uns, de luto para outros --, no meio de uma crise de poder entre os sucessores e os opositores do regime derrubado em 1989. O aniversário foi celebrado horas depois de o Parlamento ter feito cair o Governo, dando aos dois maiores grupos políticos a conveniente oportunidade de pedir eleições gerais antecipadas.
De um total de 240 deputados, 219 votaram a favor da demissão do Governo de Liúben Bérov, quatro pronunciaram-se contra e um absteve-se. Esta quase unanimidade era esperada, apesar das inúmeras especulações dos últimos dias, que apenas serviram para exacerbar a tensão política e alguns retirarem dividendos.
Depois de 20 meses em funções, a equipa de Liúben Bérov, que se definia como tecnocrata e não partidária, foi incapaz de concretizar a sua grande prioridade: o processo de privatizações. Não foram restituídas as terras aos antigos donos e os indicadores económicos são cada vez piores.
Poucos acreditam que ainda seja possível formar um novo Governo no âmbito do actual Parlamento, porque não haverá condições para realizar as necessárias mudanças. A maioria dos grupos parlamentares manifesta-se a favor de eleições antecipadas, que poderão realizar-se em Outubro próximo. Pode-se dizer que a campanha pré-eleitoral começou com um comício, na quinta-feira, organizado pela União das Forças Democráticas (UFD).
A falta de um forte poder executivo pode fazer com que a inflação, com uma taxa de 60 por cento nos primeiros sete meses deste ano, duplique até ao fim de 1994. O mesmo sucederá provavelmente com o número de desempregados, que já totalizam 514 mil. Actualmente, um em cada nove búlgaros está sem trabalho ou emigrou.
Flores e missas fúnebres
É um facto curioso a coincidência da queda do Governo com a efeméride de 9 de Setembro, a mais controversa na História recente do país: o golpe de Estado que, em 1944, levou ao poder o Partido Comunista, só afastado em 1984. Perante o avanço do Exército soviético, a luta heróica contra o fascismo confundiu-se e foi substituída pela luta pelo poder em nome do poder e a própria noção de «antifascismo» foi pervertida, degenerando em vinganças e depurações. Nos anos seguintes, cresceu o mito da verdadeira luta antifascista, inventou-se vítimas inexistentes, para se justificar os 84 campos de concentração e prisões, destinados aos opositores políticos. Logo após a conquista do poder pelo PC, em 1944, os chamados «tribunais do povo» condenaram à morte 2618 pessoas, e 288 desses sentenças foram executadas.
Cinquenta anos depois, o dia 9 de Setembro, que até 1990 era a festa nacional da Bulgária, continua a dividir o povo. Em Sófia, enquanto os saudosistas do antigo regime depositaram coroas de flores em frente dos monumentos ao Exército Vermelho e ao soldado desconhecido, outros mandaram celebrar missas fúnebres e, vestidos de luto, integraram um cortejo em memória das vítimas do comunismo. Aos que festejaram a data, o Presidente Jelio Jelev lembrou que estavam a comemorar «um dos maiores crimes políticos contra o povo búlgaro, contra a nação búlgara e contra o Estado búlgaro».
Emílio Avramov, em Sófia
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