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<DOCNO>PUBLICO-19940917-056</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19940917-056</DOCID>
<DATE>19940917</DATE>
<CATEGORY>Cien_Tecn_Educ</CATEGORY>
<AUTHOR>HC</AUTHOR>
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Computadores
Linhas de serviço
Henrique Carreiro
Antes da corrida às auto-estradas da informação de 1994 (Jim Manzi da Lotus chama-lhes, com mais propriedade, auto-estradas da comunicação) já os serviços "on-line" se expandiam pelos Estados Unidos como meios de comunicação por excelência para utilizadores de computadores pessoais.
Enquanto a Internet se difundia principalmente nos meios universitários e áreas de investigação, utilizadores por excelência de máquinas Unix, serviços como a Compuserve e a America Online aperfeiçoavam interfaces gráficos e dirigiam-se sobretudo ao cliente individual com PC ou Macintosh. A unidade de comandos e a navegação por meio de programas com janelas e ícones, características agora tão procuradas na Internet, já de há muito são apanágio dos serviços tradicionais.
Mas existe uma diferença fundamental entre a Internet e os outros serviços «on-line»: mais do que um serviço de informação, a Internet é uma poderosíssima infra-estrutura de comunicações, uma rede de redes interligadas por meio de circuitos com elevados débitos (nos Estados Unidos constituídos por circuitos denominados T3, capazes de transportar 45 milhões de bits por segundo -- uma capacidade mais de 3 mil vezes superior à de uma linha telefónica "normal", com modems correntes). A Internet suporta actualmente transferências de ficheiros a alta velocidade, e permite a interligação de redes locais. Num futuro próximo, mesmo uma tecnologia exigente em capacidade de transmissão como a videoconferência por exemplo, será possível via Internet. Nada disto está, para já, no âmbito dos serviços «on-line».
A estrutura de preços é também diferente: na Internet, a esmagadora maioria da informação é gratuita, e os utilizadores suportam apenas o custo das comunicações; nos serviços «on-line», (nomeadamente na Compuserve), os preços de consulta de informação podem, consoante as bases de dados pesquisadas, variar entre os dois ou três contos à hora e as dezenas de contos, a somar ainda aos custos de comunicação.
Se durante anos os campos dos utilizadores da Internet e dos outros serviços «on-line» andaram bem delimitados, com a explosão de popularidade da Internet em 1994, os principais serviços parecem agora interessados em servir de entreposto com a rede mais popular do mundo.
America Online (AO), o principal rival da Compuserve, abriu este ano a porta aos seus utilizadores para a Internet. Este gesto acabou por se revelar bastante controverso, porque os clientes da AO, desconhecedores das regras informais da Internet (designadas por "netiquette") acabaram por fazer figura de "turistas", provocando a ira dos internautas.
Já a Compuserve esteve, até há pouco tempo, bastante fechada. Os seus clientes podiam enviar ou receber correio da Internet, mas esta era a única forma de contacto entre as duas redes. Antes do Verão, a Compuserve passou a dar a possibilidade a que um utilizador da Internet pudesse entrar nos seus serviços em modo de terminal (dando o comando "telnet compuserve.com").
Esta abertura, embora melhor do que a situação anterior, não veio tornar ainda particularmente atraente o acesso à Compuserve pela Internet. É que o acesso em modo de terminal não é prático para transferência de ficheiros e é isso precisamente o que a maioria dos utilizadores pretende.
Num anúncio feito há cerca de duas semanas, os responsáveis da Compuserve revelaram que afinal não tinham ficado indiferentes à vaga da Internet. Até ao final do ano, este serviço deverá dar acesso às duas principais aplicações daquela rede: entrada em modo de terminal remoto para outros computadores (telnet) e transferência de ficheiros (ftp).
Também os utilizadores que acedem à Compuserve pela Internet passarão a ter a possibilidade de descarregar ficheiros. Para o ano, a Compuserve prevê a hipótese de vir a criar um servidor de World Wide Web, um sistema de navegação na Internet com interface gráfica e talvez venha a criar uma interface comum para os serviços de ambas as redes.
A Microsoft planeia um serviço «on-line», por enquanto com o nome de código Marvel, que se destinará a suportar os utilizadores dos seus produtos. Dos planos da empresa de Bill Gates faz parte a longo prazo a distribuição de todo o seu «software» por meio do serviço. Outra das características prometidas para o Marvel é o "home banking", ou seja, a gestão de contas bancárias e transferências a partir de casa, um serviço para o qual a Microsoft já assinou um acordo com o Chase Manhattan Bank. Na base deste serviço estará, claro, o Money, um programa que a Microsoft está desesperadamente a tentar que ganhe uma popularidade que lhe permita ombrear com o líder do mercado, Quicken,
O Windows 95 deverá vir, alegadamente, com um ícone que permitirá o acesso directo ao Marvel -- conjuntamente com o suporte já prometido para os outros serviços e a Internet.
Contudo, têm existido insistentes rumores de que o serviço não estaria pronto ao mesmo tempo do Windows 95, o que poderia estragar os planos de lançamento conjunto. Também surgiram especulações -- veementemente negadas pela Microsoft -- de que esta empresa estaria interessada em comprar a Compuserve e teria mesmo avançado com uma proposta na ordem de um milhão e meio de dólares.
Curiosamente, a Microsoft não parece disposta a usar a Internet como meio de acesso ao serviço, alegadamente por não acreditar que esta tenha a capacidade suficiente para aguentar com o afluxo total de clientes previsto para os próximos meses. Isto não deixa de ser irónico numa empresa que tem uma presença forte na Internet, com servidores de ficheiros de acesso livre, bem como acesso via World Wide Web. A Microsoft utiliza, inclusivamente, o seu servidor de World Wide Web para colocar anúncios de emprego (prometendo salários atraentes...). É paradoxal que pretenda construir um sistema à parte, quando acabou de anunciar uma enorme expansão da capacidade das linhas de acesso aos seus servidores. De facto, actualmente, a linha que serve a Microsoft tem uma capacidade idêntica à das da infra-estrutura base da Internet (45 Mbps) -- para os utilizadores é uma boa notícia: significa que podem fazer "download" a partir do servidor da Microsoft (acessível por "ftp ftp.microsoft.com") à maior velocidade que conseguirem.
Mas a luta continua. Para além do da Microsoft, da Compuserve ou da Internet, uma multidão de novos serviços on-line está a surgir nos EUA a cada mês que passa. Em Junho, a Apple abriu oficialmente o seu próprio, denominado eWorld, o qual, como seria de esperar da empresa que criou o Macintosh, tem uma filosofia própria: usa a metáfora de uma cidade, cujos edifícios -- com letreiros -- representam entidades como uma loja de computadores, uma banca de revistas, uma galeria de arte ou um centro comercial. Tal como todos os outros serviços, também este oferece possibilidades para descarregar «software» ou trocar mensagens com outros utilizadores.
A Ziff, uma editora americana que publica revistas como a «PC Magazine» ou a «MacUser» tem também em desenvolvimento o seu próprio serviço, o mesmo acontecendo com o gigante americano de telecomunicações AT&T. A IBM já anunciou que a próxima versão do OS/2 tem uma interface para a Internet, e oferecerá o acesso por meio de uma rede de que é sócia, Advantis. Mas para além disso, fala-se também que estará a preparar o seu próprio serviço.
No entanto, muitos destes projectos deverão ter sido pensados antes do grande impulso da Internet. Não quer dizer por isso, que os seus responsáveis desistam simplesmente da ideia de os levar para a frente. Mas quando os serviços tradicionais decidem começar a ser bons vizinhos da "rede das redes" não será difícil prever que os novos não terão outro remédio senão segui-los.
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