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<DOCNO>PUBLICO-19940925-075</DOCNO>
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<DATE>19940925</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>JPMP</AUTHOR>
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Congresso da ANASD não elege nova direcção e puxa o tapete a Isaltino Morais
«Morte súbita»
Filipe Santos Costa
Isaltino Morais perdeu em vários tabuleiros. Continua à frente da ANASD, mas só provisoriamente. Porque a maioria quis mudar os estatutos e suspender os trabalhos. E Cavaco Silva não deu o apoio que o autarca de Oeiras esperava. Para se distanciar de guerras que prometem novos desenvolvimentos para esta semana.
O Congresso da Associação Nacional de Autarcas Social Democratas (ANASD), ontem realizado num hotel de Lisboa, resultou num desaire para o seu presidente, Isaltino Morais, sob todos os aspectos. Isaltino não só não foi reeleito para a presidência da ANASD, como viu o líder do seu partido faltar à sessão de encerramento do Congresso, sem que tenha sido avisado directamente da mudança de planos de Cavaco.
Desde a tarde de sexta-feira que estava a ser preparado o cenário para impedir Isaltino Morais de ser reeleito na liderança da ANASD. Ao que o PÚBLICO apurou, logo que tiveram a certeza da ausência de Cavaco Silva da sessão de encerramento do congresso, diversas distritais do PSD insatisfeitas com Isaltino, apostaram na apresentação de um requerimento que limitasse as actividades do congresso à aprovação dos novos estatutos da organização. Paulo Pereira Coelho, Miguel Macedo e Fernando Pereira, dirigentes, respectivamente, das distritais de Coimbra, Braga e Vila Real, foram alguns dos promotores da iniciativa.
O motivo para acabar o Congresso sem passar pela eleição dos novos órgãos dirigentes ou a discussão da moção de estratégia da ANASD era simples. A proposta de alteração dos estatutos, primeiro ponto da ordem de trabalhos, consagrava, no artigo 5º, que passassem a ser sócios efectivos da ANASD todos os autarcas filiados no PSD. O que faz com que, em vez de dois mil membros, a ANASD venha a ter cerca de vinte mil associados. Ora, entenderam os opositores de Isaltino que, com as novas regras, o universo de membros da ANASD deixava de estar representado nos congressistas ontem reunidos. Pelo que quaisquer decisões sobre o futuro da associação deviam ser tomadas apenas quando todos os autarcas «laranja» estivessem ali representados.
Guerra de bastidores
O golpe de teatro aconteceu por volta das 17 horas, quando deveria ser posta à apreciação dos delegados a moção de estratégia subscrita por Isaltino Morais. O presidente da mesa do congresso, Torres Pereira, acusou a entrada de um requerimento assinado por 19 delegados que propunham a suspensão dos trabalhos do congresso. Na sala, aos murmúrios excitados de quem não previa tal desenlace, contrapunham-se rostos de aprovação pouco surpreendidos. A mesa do congresso reúne e delibera aceitar o requerimento, que é de imediato posto à votação. Torres Pereira esclarece que, neste caso, não pode haver «meias tintas»: os delegados votam contra ou a favor. Nada de abstenções.
Fontes contactadas pelo PÚBLICO adiantaram, entretanto, que Torres Pereira já tinha sido informado das intenções dos congressistas dissidentes, ao ser instado para servir como intermediário entre as duas partes. De qualquer forma, o autarca de Sousel não deixou, ao longo do dia, de afirmar a necessidade de união dos social-democratas, dando indícios de que, em vez de viabilizar uma lista alternativa à de Isaltino, deveria integrar-se na direcção proposta pelo presidente da Câmara de Oeiras. Como este confirmou ao PÚBLICO, em cima do prazo limite para a apresentação das listas.
Isaltino Morais foi informado do bloqueio a que a sua eleição iria ser submetida. Perante a hipótese de não ser reeleito, o autarca de Oeiras ameaçou demitir-se do cargo que ocupa na ANASD. Segundo os mesmos relatos, Isaltino terá tentado ainda outra saída «honrosa»: se ontem se procedesse à eleição dos órgãos dirigentes, o presidente reeleito comprometia-se a marcar novo congresso para daqui a seis meses. Nenhuma das hipóteses vingou e Isaltino voltou à sala do congresso com a lista de candidatos que, era já certo, não seriam eleitos. E ainda sem notícias de Cavaco Silva, que não acreditava que lhe pudesse «puxar o tapete».
Na situação difícil em que foi colocado, Isaltino Morais recusou-se a dar garantias quanto ao seu futuro. A permanência à frente da ANASD está garantida até o congresso extraordinário - «é óbvio que não podemos deixar um vazio no funcionamento da ANASD» -, mas a recandidatura não é assegurada, indo ser analisada «com os restantes membros do Conselho Directivo». Mas reconhece que a «situação não se pode manter por muito tempo».
Com a ausência do líder do partido, a direcção da ANASD acumulou outra derrota. Nos corredores do congresso, eram muito comentados os desaguisados da última assembleia distrital de Lisboa. Esse foi, de resto, um dos motivos ventilados para a não comparência de Cavaco Silva. Que, pelo menos num primeiro momento, parece confirmar uma afirmação do líder da distrital de Lisboa, ontem muito comentada, segundo a qual as chefias do partido estariam desagradadas com o comportamento de Isaltino Morais. Mas a confirmação fica para esta semana, num jantar organizado por Arlindo com militantes de Lisboa. Cavaco Silva está convidado. Se for, torna ainda mais difícil a posição de Isaltino. Se faltar, o autarca de Oeiras tem uma pequena compensação.
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