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<DOCNO>PUBLICO-19941003-094</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19941003-094</DOCID>
<DATE>19941003</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>JMF</AUTHOR>
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Desvalorizando a iniciativa do CDS
Comunistas preferem a moção de censura da rua
«Com essa questão não se perdeu nem um minuto. `Perdeu'..., sublinhe o `perdeu' », foram as últimas palavras de Carlos Carvalhas, depois de uma chuva de perguntas dos jornalistas a propósito da moção de censura do CDS-PP.
Numa conferência de imprensa para divulgação das conclusões da reunião de dois dias do Comité Central do PCP, Carvalhas apostou num jogo de gato e rato com a comunicação social, repetindo variações da mesma frase de todas as vezes que era interrogado sobre o sentido de voto do seu partido face à anunciada iniciativa parlamentar dos centristas. «Não tem qualquer relevância esta moção de censura». «Não tem qualquer relevância a votação». «Qual é a importância disso?» «Não tem qualquer significado». «Isso não conta absolutamente nada»...
Antes, Carvalhas, citando o comunicado saído da reunião, tinha adiantado tudo o que o PCP está disposto a dizer, para já, sobre a matéria: «A censura ao Governo está na rua». Quanto à censura na Assembleia da República, «o que os governantes cavaquistas têm em vista é enclausurar nas paredes de S. Bento, onde ainda disfrutam de maioria absoluta, a discussão da censura que o país lhes aponta e fingirem que a derrotam».
O CDS, que «fez a vontade» do PSD, também não ficou sem resposta. A «disponibilidade» dos centristas «é um frete monumental ao Governo (...) e alerta para a vocação de muleta do partido `laranja' que o novo (como o velho) CDS assim revela». Interrogado sobre se reconhece alguma validade aos quatro pontos evocados por Manuel Monteiro para justificar a censura ao Executivo, Carvalhas responde com enfado: «Aqueles pontos não dizem nada».
Para o PCP, a única censura ao Governo é a que «está actuante na rua», e «só se pode medir pelo pronunciamento do povo português, não na AR», como explicou o secretário-geral do partido, lembrando que, no hemiciclo, Cavaco conta com uma «dócil maioria eleita há três anos».
Desvalorizar a iniciativa de Monteiro e esperar para ver parece ser, por enquanto, a única estratégia do PCP, com Carvalhas a pôr em dúvida a própria concretização da moção: «Se, se, se... É uma questão que não está posta, nem foi colocada, nem acredito que se vá colocar.» De qualquer das formas, quem menos se preocupa é a maioria, como disse Carlos Carvalhas, ironizando: «Já ouvi dizer que o PSD não dorme há quinze dias, com esse problema».
Convites delicados
Ladeado por Maria Villaverde Cabral e António Vitório, o líder comunista referiu-se, ainda, às duas iniciativas que o seu partido programou com o objectivo de fazer «uma radiografia mais precisa de toda a situação nacional»: o «Debate com o país para uma nova política» e a Conferência Nacional do PCP, sob o tema «reforçar a intervenção e a organização do partido no seio dos trabalhadores».
O «Debate com o país», apresentado na passada 5ª feira, pretende encontrar uma «inovadora resposta de Esquerda» que passará «sobretudo por propostas», e não necessariamente por partidos. E lançou o ataque ao PS: «A esperança numa alternativa não se encontra num partido que está mais pronto para alianças com partidos de direita que com partidos da esquerda», dando, como prova desta predisposição dos socialistas, o projecto de revisão constitucional do PS, «que dá a mão ao PSD».
Apesar de considerar que o PS «tem abandonado os valores de esquerda», Carvalhas reconheceu que alguns militantes daquele partido foram convidados para participar no «Debate» dos comunistas, mas só os que «manifestaram interesse» em o fazer, sobretudo os ligados à área sindical. Mas nada de figurões. «Não fizemos [o convite] a figuras muito conhecidas do Partido Socialista porque pensamos que isso podia ser uma indelicadeza e podia ser mal interpretado».
Da reunião do Comité Central, saiu ainda a afirmação de «profunda preocupação» do partido perante «o estranho e comprometido silêncio do PS, assim como as posições da UGT» nas negociações de concertação social. Até porque, segundo os comunistas, a tão publicitada retoma económica não passará de uma «burla».
Filipe Santos Costa
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