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<DOCNO>PUBLICO-19941007-058</DOCNO>
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<DATE>19941007</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>JH</AUTHOR>
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Kim Jong-Il «grande dirigente» norte-coreano
O rei do «oásis»
TRÊS meses após a morte de Kim Il-Sung, o seu filho Kim Jong-Il herdou já oficialmente o título de «grande dirigente» da Coreia do Norte, país a que o líder ultra-nacionalista russo Vladimir Jirinovksy se referiu ontem como «um oásis para o povo de todo o mundo».
Para quem acompanha a situação norte-coreana e se esforça por interpretar os raros indícios do que se passa por trás da propaganda oficial, a utilização expressa para Kim Jong-Il do epíteto «grande dirigente» parece anunciar que a sua entronização está próxima, não devendo demorar muito mais de oito dias.
Os convites enviados para o fim dos 100 dias de luto de Kim Il-Sung dão a entender aos destinatários que deverão ficar um pouco mais tempo em Pyongyang, a fim de assistirem à tomada de posse do novo chefe supremo da Coreia do Norte, território de 120.538 quilómetros quadrados onde vivem 23 milhões de asiáticos.
Um dos coreanos radicados na América do Norte e destinatários de tais convites disse, segundo a France Presse, ter deduzido que Kim Jong-Il vai ser tanto o dirigente do Partido dos Trabalhadores como do Estado.
O luto pelo antigo chefe supremo termina no fim da próxima semana e a partir daí é de crer que não demore muito a tomada de posse de seu filho, que conta 52 anos e possui a patente de marechal.
Enquanto «príncipe herdeiro», Kim Jong-Il era sempre mencionado como «querido líder», mas nas últimas 48 horas começou já a ser referido como «grande líder», que era o título de seu pai, durante os 46 anos em que dirigiu a Coreia do Norte.
Anúncio na ONU
Quarta-feira à tarde, perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, o vice-ministro norte-coreano dos Negócios Estrangeiros, Choi Su-Hun, explicou que os seus compatriotas têm agora «outro grande líder, o camarada Kim Jong-Il, dirigente supremo da República Popular Democrática da Coreia».
No mesmo dia, a agência noticiosa oficial KCNA afirmava pela primeira vez: «Tendo em vista as suas qualidades e capacidades para dirigir o povo, Kim Jong-Il é o grande líder, tal como seu pai o foi». E ontem a mesma agência divulgava as opiniões de Jirinovsky, no fim de uma visita de quatro dias: «A Coreia do Norte é o único país que conseguiu grandes realizações, em conflito directo com os Estados Unidos, um império do Mal, durante cerca de 50 anos».
Ainda segundo o controverso político russo, «virá certamente o dia da ruína dos diabólicos Estados Unidos e do triunfo do povo coreano». Pois que, no seu entender, «a sociedade capitalista não é de forma alguma uma sociedade feliz», enquanto na Coreia do Norte há emprego, alojamento e alimentação para todos.
Enquanto isto, representantes norte-americanos e norte-coreanos tiveram ontem de manhã em Genebra três horas e meia de conversações sobre o seu conflito quanto ao programa nuclear de Pyongyang, devendo os trabalhos prosseguir à tarde.
A Coreia do Norte pretende que Washington forneça a verba necessária para substituir os seus reactores nucleares de grafite por outros mais seguros, capazes de produzir muito pouco plutónio. E que, além disso, a indemnize em 2.000 milhões de dólares (314 milhões de contos), por a obrigar a desmantelar o seu actual programa de energia atómica.
Por seu turno, os EUA insistem em que a Agência Internacional de Energia Atómica, com sede em Viena, tenha acesso a duas centrais nucleares norte-coreanas, a fim de verificar se lá não se processou plutónio susceptível de ser utilizado com fins militares.
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