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<DOCNO>PUBLICO-19941115-093</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19941115-093</DOCID>
<DATE>19941115</DATE>
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Um-dó-li-tá...
Mil novecentos e noventa e cinco. O ano de todas as decisões. Políticos, jornalistas e analistas vão andar num corrupio alucinante. Nos bastidores da política, as máquinas preparam-se para disparar e estão somente à espera que um só homem lhes diga em que direcção. Conjecturam-se hipóteses e definem-se cenários. É interessante efectuar o levantamento de algumas indefinições.
Cavaco. Abandonará a liderança do Governo? Ou só do partido? Se deixar de ser presidente do PSD, quem será o novo líder? Leonor Beleza? Fernando Nogueira? Se Cavaco abandonar o Governo, candidata-se à Presidência da República? E se o fizer, quem será o próximo candidato a primeiro-ministro? Durão Barroso? Fernando Nogueira? Se for Durão Barroso, aceitará Fernando Nogueira ser novamente o segundo? E se afinal Cavaco não se candidatar à Presidência, quem será o seu candidato para Presidente? Ramalho Eanes? Pinto Balsemão? E se for Ramalho Eanes, o que farão Santana Lopes ou Álvaro Barreto? E se for Pinto Balsemão, o que farão se Ramalho Eanes ganhar?
E se Cavaco não ganhar nova maioria absoluta? Não governa. E o PSD aceitará? Se sim, o governo minoritário de Guterres aguenta quanto tempo? Farão acordos pós-eleitorais com o PC? Com o CDS?
Se Cavaco decidir regressar à Universidade, o PSD ganhará a maioria absoluta? E se perder, o que farão? Coligar-se-ão ao PS? Ao CDS?
E o que fará Mário Soares? Abandona a política? Apoia Sampaio? E se Cavaco se candidata a Presidente? Quem é que Soares apoiará?
Os políticos vão definindo estratégias, esticando cordas, puxando tapetes, criando «lobbyies» e medindo forças. Os jornalistas andam atrás deles, como baratas tontas, tentando adivinhar o que lhes vai na alma, sempre à espera de obter a «cacha» tão querida e desejando estar no lugar certo à hora certa. Os analistas vão pensando, analisando movimentos, deliciando-se em conjecturas e chegando a conclusões que muitas vezes nem os próprios protagonistas pensaram ou voluntariamente provocaram. Apesar de me apetecer, não vou fazer futurologia. Antes direi somente o que acho fundamental que aconteça.
É imperativo que Cavaco Silva e o PSD obtenham nova maioria absoluta. Não acredito que ela conduza a uma ditadura sufragadamente velada. A liberdade e a democracia estão aí para ser usadas e desfrutadas. O confronto político existe e o debate de ideias é diário.
Seria perigoso para Portugal, nesta altura, uma mudança de líder e de política. Esta mudança acarretaria desnecessárias instabilidades, muita perda de tempo e confusão nas estratégias de desenvolvimento para o país.
É necessário prosseguir a aplicação do II Quadro Comunitário de Apoio, acabar com as barracas, construir a ponte, implementar a rede de gás natural, construir universidades, desenvolver os Núcleos de Apoio à Criação de Empresas, levar a cabo a Expo 98, criar mais incentivos ao arrendamento jovem, acabar a CREL e a CRIL, modernizar e ampliar a rede hospitalar, promover o turismo rural, aplicar o PROCOM (comércio), o PEDIP (indústria), o PRODEP (educação), o PAMAF (agricultura e florestas)...
Enfim, promover o crescimento global, equilibrado e racional, baseado em fortíssimas convicções sociais, oferecendo a todos e cada um igualdade de oportunidades, livre concorrência e respeito pelas liberdades e opções individuais.
Neste meio tempo, o mundo não se compadece com as nossas desavenças políticas, nem espera por nós enquanto as resolvemos.
O PSD não deve pensar que esta será uma vitória fácil, o descontentamento é evidente, a frustração das expectativas também. Não existe nenhum oásis e os sinais da retoma são ainda muito frágeis. O descrédito é grande e os políticos não gozam de boa fama. Este é o real cenário e exige uma postura séria e responsável, uma postura de verdade -- que o povo não gosta de ser enganado e sabe reconhecer quando o é.
Ninguém é insubstituível, e depois de Cavaco não vem o dilúvio. Mas ninguém me garante que alguém faça melhor e não há tempo para estar com experimentações.
Talvez em 1999 não seja tão perigoso ver o que outros podem fazer pela Nação.
Gabriela Seara
Destaque:
É imperativo que Cavaco Silva e o PSD obtenham nova maioria absoluta. Não acredito que ela conduza a uma ditadura sufragadamente velada. A liberdade e a democracia estão aí para ser usadas e desfrutadas. O confronto político existe e o debate de ideias é diário.
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