<DOC>
<DOCNO>PUBLICO-19941224-007</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19941224-007</DOCID>
<DATE>19941224</DATE>
<CATEGORY>Cultura</CATEGORY>
<TEXT>
Inquérito aos actores portugueses
Quais as impressões com que ficou da experiência do seu trabalho com Roberto Faenza? Até que ponto concorda com a ideia de que o futuro passará obrigatoriamente pela substituição do circuito português pelo europeu?
Teresa Madruga
«Portugueses só têm pequenos papéis»
Não tive tempo suficiente para conhecer a fundo o trabalho de Faenza, já que só filmei durante dois dias, aconteceu tudo a correr. Contracenar com Mastroianni foi agradável, mas foi uma experiência curta.
O mercado de cinema europeu só poderá substituir o português, se o fizer em termos de igualdade; não se pode continuar a dar só os pequenos papéis aos portugueses. As co-produções existem, o problema é que as bases em que são feitas limitam sempre os actores portugueses a trabalhos muito pequenos.
João Grosso
«Contracenar com Mastroianni foi fascinante e assustador»
Eu só conheci o Roberto Faenza durante o «casting». Comecei a trabalhar completamente no escuro; contudo, estabeleceu-se uma relação de trabalho muito boa, e o facto de ele se ter manifestado muito positivamente em relação ao meu trabalho facilitou-me bastante a tarefa. A ideia de contracenar com Mastroianni era ao mesmo tempo fascinante e assustadora -- ele é um mito, passou a vida toda a fazer cinema. Fazer cinema para ele é como dormir e a minha verdura e inexperiência assustavam-me bastante, mas ele foi muito simpático, as coisas correram muito bem...
Eu sempre vi o mercado do cinema de uma perspectiva europeia. Não creio que se possa dizer onde começa o cinema português e onde acaba o europeu, mas, em termos de produção e política, o nosso cinema não tem peso em confronto com o do resto da Europa. O que me dói é que se digam coisas como «não há actores de cinema em Portugal»; quando se é um bom actor, é-se bom tanto no teatro como no cinema, desde que bem dirigido.
Filipe Ferrer
«O cinema é uma arte eminentemente pessoal»
Creio que as coisas correram bastante bem, apesar do facto de os produtores estrangeiros serem responsáveis pelas maiores fatias financeiras fazer com que imponham determinadas condições, pelo que o papel dos portugueses nas co-produções é sempre pequeno. Os actores portugueses também não são conhecidos lá fora, não asseguram bilhetes vendidos. Outro dos problemas das co-produções está relacionado com o facto de o cinema ser uma arte eminentemente pessoal e a existência de muita gente com interesses marcadamente diferentes a trabalhar na mesma coisa pode levar à produção de qualquer coisa híbrida, uma manta de retalhos de critérios. Não podemos abandonar a ideia do filme de autor, porque o cinema também é uma arte pessoal, um ponto de vista, resultado de um imaginário pessoal, do sonho de uma só pessoa. É importante que a política de co-produções não ponha em causa o cinema de autor.
Mário Viegas
«Não temos nada a aprender com a Europa»
Tive o prazer de fazer duas cenas do filme e, principalmente, de trabalhar com Mastroianni, o que foi uma experiência muito bonita. Ele foi extremamente afável, falámos sobretudo de teatro. Estabeleceu-se uma relação que, apesar de curta, foi bonita e simpática.
Eu não tenho qualquer pretensão de falar sobre cinema, sou um actor e produtor de teatro, não medito sobre as problemáticas do cinema português nem estou preocupado com isso. Não tenho uma opinião formada, creio apenas que os filmes devem ser o mais portugueses possível. Quanto mais actores portugueses, quanto mais falarem de Portugal, melhor. Não temos absolutamente nada a aprender com a Europa, eles é que têm de aprender connosco e sobre nós.
</TEXT>
</DOC>