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<DOCNO>PUBLICO-19941230-064</DOCNO>
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<DATE>19941230</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>JAF</AUTHOR>
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Demissão do director da CIA
A última vítima da «toupeira» Ames
JAMES Woolsey demitiu-se quarta-feira de director dos serviços secretos norte-americanos (CIA), sendo a mais recente vítima de um dos maiores casos de espionagem na História do país.
Woolsey, 53 anos, entregou o pedido de demissão ao Presidente Clinton, que o aceitou com pesar e com o elogio do alto funcionário vítima do escândalo Aldrich Ames, o agente da CIA que durante anos vendeu segredos aos russos.
A saída de Woolsey, à frente da CIA desde Dezembro de 1992, apanhou de surpresa os seus colegas da Administração, pois que ainda há 11 dias desmentira em público estar de partida. «Não creio que ninguém tivesse a mínima ideia de que isto ia acontecer», disse uma fonte governamental.
A Administração alega que ainda não se anda à procura do sucessor de James Woolsey, que se ofereceu para ficar temporariamente no lugar até que haja substituto, ou então até ao fim de Janeiro.
A especulação quanto aos sucessores inclui o subsecretário da Defesa, John Deutch, o embaixador norte-americano em Londres, William Crowe, e o representante Dave Mccurdy, um democrata do Oklahoma que já presidiu à comissão parlamentar de serviços secretos e que nas eleições do mês passado não conseguiu passagem para o Senado.
Na sua declaração, Woolsey afirmou que tenciona contribuir para a discussão do papel da CIA no futuro. «Os serviços secretos continuam a ser vitais para a nossa segurança nacional», declarou, ao alvitrar mudanças que se farão sentir bastante para além do fim deste século.
O que o demissionário não mencionou, nesta altura crítica, foi o caso Aldrich Ames, que este ano o prejudicou e danificou gravemente a integridade do mais importante organismo norte-americano de espionagem.
Pago por Moscovo
Ao demitir-se, James Woolsey tornou-se uma vítima do caso Ames, o antigo agente da CIA que recebeu dois milhões e meio de dólares para vender segredos norte-americanos à antiga União Soviética, durante cerca de uma década, tendo inclusive denunciado pelo menos 10 operacionais que espiavam para os Estados Unidos, e que por isso foram mortos ou encarcerados.
Aldrich Ames foi condenado a prisão perpétua e a mulher, Rosário, recebeu uma pena de cinco anos por cumplicidade.
Depois da detenção de Ames na sua luxuosa residência dos subúrbios de Washington e de a revelação das suas actividades ter chocado a nação, Woolsey procurou tomar medidas para evitar outro caso do género.
Os seus críticos de Woolsey no Congresso dizem no entanto que ele falhou, não remodelando de alto a baixo uns serviços que de algum modo permitiram que Ames funcionasse como «toupeira» infiltrada profundamente no interior do aparelho norte-americano de segurança, ao serviço do grande inimigo dos tempos da guerra fria.
Na véspera, através duma entrevista à CNN, difundida a partir da penitenciária em que cumpre a sentença, Ames complicara a situação de Woolsey ao admitir que houvesse mais «toupeiras» russas a operar ainda dentro da Agência.
Após a descoberta e prisão de Ames, Woolsey repreendeu 11 antigos e actuais quadros da CIA, mas os senadores afirmam que foi apenas um mero pró-forma, quando o que se exigia era uma punição severa e uma «limpeza» da Agência.
A demissão deste homem oriundo do exterior da espionagem era já um rumor em Washington desde há algum tempo, especialmente desde que em Novembro um relatório da comissão senatorial de serviços secretos criticou energicamente a forma como conduziu as acções disciplinares e a moral da CIA decaiu.
O relatório de 1 de Novembro diz que o caso Ames foi o maior desastre de gestão na história da CIA e que as acções disciplinares de Woolsey não estiveram à altura da gravidade da situação.
O escândalo Ames surgiu enquanto a agência andava à procura de uma nova identidade, depois do fim da guerra fria, e a lutar contra os críticos que pediam o desmantelamento de uns serviços criados em 1947, dois anos depois de terminada a II Guerra Mundial.
Os mais fortes críticos de Woolsey saudaram a sua demissão.
«O caso tem sido absolutamente devastador para a agência... tanto em termos de público como internamente», disse um funcionário da Administração. «Temos de o ultrapassar...a fim de restaurar a confiança do Congresso e do público».
O presidente cessante da comissão senatorial de serviços secretos, Dennis DeConcini, democrata do Arizona, afirmou: «Creio que era tempo de Woolsey sair». E deu como motivos ele não haver despedido quadros que não conseguiram detectar a tempo o trabalho de sapa que Aldrich Ames andava a realizar.
«Foi infeliz que tivesse tido uma oportunidade para efectuar algumas alterações drásticas e que não as houvesse realizado», declarou DeConcini [cujo lugar vai passar agora para um republicano].
Michael Posner, da Reuter, em Washington
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