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<DOCNO>PUBLICO-19950120-146</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950120-146</DOCID>
<DATE>19950120</DATE>
<CATEGORY>Cultura</CATEGORY>
<AUTHOR>MS</AUTHOR>
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No final do tomo XVI do «Diário», publicado há cerca de um ano, Miguel Torga dizia ter começado a escrever esse último volume não acreditando que o pudesse concluir. Concluiu-o. Com uma despedida: o volume termina com um poema intitulado «Requiem por Mim». «Sem tempo e sem força para ir mais longe na caminhada», o poeta morreu na passada terça-feira, no Instituto de Oncologia de Coimbra, onde estava internado há cinco meses. Tinha 87 anos e continuava desajustado, desencantado, solitário na sua «intimidade inviolável» mas adversário de uma «sociedade de solidões». Com ele morre -- como disse Eduardo Lourenço -- «o último grande representante de uma poética criadora, alheia à que preside, desde há meio século, à `era da suspeita' literária. (...) Para ele, a literatura é a existência sublimada, não envenenada». O poeta regressou definitivamente a S. Martinho de Anta, onde foi enterrado. Outros dias virão «cheios de sol, de flores e de frutos».
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