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<DOCNO>PUBLICO-19950130-038</DOCNO>
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<DATE>19950130</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>FS</AUTHOR>
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Angola com a paz ainda frágil
Avião abatido na Lunda Norte
MORRERAM os quatro ocupantes de um avião ligeiro do tipo «Beecraft» que no sábado ao fim da tarde foi abatido quando sobrevoava o Cafunfo, na Lunda Norte, ao regressar de uma deslocação ao Dundo, disse ontem ao PÚBLICO fonte governamental angolana.
Um irmão de Fernando Faustino Muteka, chefe da delegação do Governo à Comissão Conjunta para a concretização da paz, comandava o aparelho, da Sociedade de Aviação Ligeira (SAL), subsidiária dos Transportes Aéreos Angolanos (Taag), e o co-piloto era Manuel Van-Dunem, sendo o incidente atribuído a tropas da UNITA.
Aparentemente ao serviço da própria CC, numa missão Luanda-Dundo-Luanda, o pequeno avião caiu na bacia diamantífera do rio Cuango, causando assim mais um sério embaraço a todos os que estão a procurar normalizar a vida em Angola. E o Governo considera-se perante uma situação «muito grave», eventualmente devida às dificuldades de comunicação entre todas as forças em presença.
De acordo com a fonte que nos contou o caso, as autoridades pretendem que estes incidentes não se repitam daqui até 8 de Fevereiro, a data prevista para o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunir e, eventualmente, criar a terceira Missão de Verificação para Angola (Unavem III).
Chefias militares
De acordo com a informação actualmente existente, os estados-maiores das Forças Armadas Angolanas (FAA) e da UNITA poderão reunir-se amanhã em Luanda, a fim de darem seguimento aos trabalhos que no dia 10 tiveram em Chipipa, na província do Huambo. E as comunicações triangulares entre a ONU, o Governo e o partido de Jonas Savimbi seriam uma vez mais examinadas, a fim de se evitarem falhas, sempre susceptíveis de originar incidentes que façam descarrilar o processo.
Para que a reunião seja desta vez na capital, conforme propôs a UNITA, o executivo deseja que os homens do Galo Negro se apresentem desarmados, à civil e sem guarda-costas. Toda a segurança seria garantida pela Unavem.
O representante especial em Angola do secretário-geral Butros Butros-Ghali, o maliano Alioune Blondin Beye, de 55 anos, disse na sexta-feira em conferência de imprensa que a situação tem melhorado muito, em diversos aspectos, mas o Governo alega que lhe é muito difícil contactar o chefe do estado-maior da UNITA, general Arlindo Chenda Pena, «Ben-Ben».
Beye especificou que a situação é hoje em dia bastante melhor nas províncias do Huambo e do Uíge do que no princípio do mês, porque as tropas se afastaram cinco a 10 quilómetros umas das outras. Mas a fonte governamental ontem contactada pelo PÚBLICO afirmou que tem havido uma série de incidentes que ainda não foram divulgados.
Quando se lhe perguntou se «Ben-Ben» não teria sido acaso substituído na chefia do estado-maior da UNITA pelo general Altino Bango Sapalalo, «Bock», conforme chegou a constar em meios políticos de Luanda, o representante da ONU respondeu não acreditar que isso tenha acontecido.
Por outro lado, a rede viária continua impraticável, em grande parte do território de Angola, porque a desminagem está atrasada e é operação para demorar vários anos.
Entretanto, numa repetição do que aconteceu depois de assinados em 1991 os acordos negociados em Bicesse (Portugal), grupos armados têm atacado as viaturas que ousam meter-se às estradas esburacadas. O Governo, porém, demonstra uma certa cautela ao não acusar a UNITA de tais incidentes, no último dos quais -- na província de Benguela -- foram atingidas três viaturas e mortas pelo menos 10 pessoas.
O que se espera agora é que os próximos oito dias decorram sem grandes incidentes e que na segunda semana de Fevereiro o Conselho de Segurança da ONU aprove para Angola uma força de pelo menos sete mil capacetes azuis, para a qual o Zimbabwe se dispõe a contribuir com um milhar de soldados, mas não se sabe muito bem de onde virão os restantes. Aguiar dos Santos, em Luanda
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