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<DOCNO>PUBLICO-19950328-149</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950328-149</DOCID>
<DATE>19950328</DATE>
<CATEGORY>Cultura</CATEGORY>
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1. O que é o que o (a) fez concorrer ao Chuva de Estrelas?
2. Porque é que escolheu este intérprete e esta canção para imitar?
3. Fez algum esforço especial para imitar? Que métodos utilizou para ficar parecido com o intérprete que vem recriar?
4. Como é que se sente a imitar alguém muito conhecido, em vez de criar o seu próprio personagem?
5. Acha que o Chuva de Estrelas é uma rampa de lançamento para a sua carreira musical?
6. Que planos tem para o que se segue ao Chuva de Estrelas?
7. Não tem receio de, uma vez lançado no mundo da música, ser eternamente identificado como o (a) que imitou fulano de tal no Chuva de Estrelas?
8. A que é que se deve o sucesso do Chuva de Estrelas?
9. Na sua opinião, existem, em Portugal, oportunidades para seguir uma carreira musical?
10. Para lá das imitações, faz ou canta música original?
11. Entre o Chuva de Estrelas, por um lado, e a Selecção Nacional e o Festival RTP da Canção, por outro, para além de se cantar versões ou originais, há alguma grande diferença?
12. Qual foi o último disco que comprou?
Nuno Manuel Antunes, 23 anos, originário de Loures, estudante finalista de Informática no Instituto Superior Técnico. Nenhuma formação musical, só deformação. Interpretou Bruce Springsteen em «Glory days».
1. O que me fez concorrer foi a insistência das pessoas, dos amigos, da família. Eles sabiam que eu cantava e disseram-me para mandar uma cassete de qualquer coisa, não disseram para enviar o Bruce Springsteen. Depois, há um factor pessoal. Queria experimentar, sentir como é estar do outro lado. Queria arriscar.
2. Não houve uma razão muito forte. É dos artistas de que eu mais gosto, pela música, pelo espectáculo, pela força. Escolhi o «Glory days» ao calhas. Puseram-me o gravador na frente e disseram para eu cantar, e eu cantei esta. Mas é uma música com ritmo, animada.
3. Eu escolhi o Bruce Springsteen precisamente porque não tinha que fazer um esforço especial para o imitar. Não queria preocupar-me muito com os gestos, as expressões, e, para o que eu gosto de fazer, o Bruce Springsteen aproxima-se muito de como eu sou, aquele estilo dele, divertido e vivo. Mas, antes de vir, estive a ver um vídeo para ter mais segurança.
4. Eu não prefiro imitar. Preferia apresentar-me sem ter a preocupação da imitação. Mas, se tivesse que optar entre o Selecção Nacional e o Chuva de Estrelas, não hesitaria, escolheria o Chuva. O espectáculo é muito maior, é muito mais exigente. Afinal, não encaro aquilo tanto como uma imitação.
5. Sim, sem dúvida. Para além do exemplo de outras pessoas que já aqui estiveram e que estão a começar agora uma carreira, eu vejo a exposição que um programa destes tem quando pessoas que nunca vi se chegam ao pé de mim e me dizem: «Você esteve no Chuva de Estrelas». Isso é bestial. Não sei ainda se quero ter uma carreira musical mas estou a acabar o curso e não me vou envolver a fundo noutra coisa senão no curso, durante os próximos quatro meses. Depois...
6. No próximo Verão, logo vejo. Posso ir para um sitiozinho e ficar lá seguro ou posso arriscar e pôr-me para aí a tocar, apanhar o que apareça.
7. Isso é o grande problema. E isso acontece já, as pessoas chamam-me Bruce Springsteen na rua.
8. Foi um dos primeiros programas a expor criaturas do mundo real na televisão. Antes disso, não havia nada. Ninguém ia buscar pessoal à rua para o pôr a cantar. E, depois, há a Catarina Furtado. Ela fez com que viesse muita gente a este programa. Tanto rapazes como raparigas. Elas adoram ver a Catarina, para dizer coisas do género «Ah, ela hoje vai tão feia» e tal.
9. Há oportunidades, o mercado é que não está preparado para isso. O mercado compra muito estrangeiro. Agora está um bocado diferente. É preciso convencer quem investe a investir na música nacional. E é preciso haver divulgação -- e a televisão é o melhor meio para isso.
10. Não. Só canto versões. Mas, se quiser uma carreira, tenho que ter originais. Sem originais não se vai a lado nenhum, a não ser que se queira ser músico de bar. Mas, para ter uma carreira a sério, teria que, para além dos originais, cantar em português.
11. Não há grandes diferenças. Há muito boa gente num lado e noutro. A questão é outra. Um programa que aposta em música que as pessoas já conhecem torna muito mais fácil a adesão.
12. Otis Redding, uma colectânea.
João Pedro Pais, 23 anos, originário de Lisboa, campeão de luta greco-romana em vários concursos internacionais, agora de novo a estudar. Sem formação musical. Canta e toca guitarra em bares. Interpretou Delfins em «Ao passar de um navio».
1. O acreditar poder ser um possível escolhido. Sempre acreditei em mim. Os meus amigos deram uma força.
2. Gosto de cantar em português, é a minha língua. Já gostei mais dos Delfins, de qualquer forma, quando eles eram mesmo, mesmo bons, porque agora...
3. Meto a voz mais grossa e tal, só isso. Bom, os gestos também imito, a minha namorada mete-se em frente a mim a dar opiniões sobre a maneira de pôr os braços e tal.
4. Eu gosto de cantar coisas minhas. Posso cantar temas dos outros, mas faço-o sempre com a minha voz. Aqui, estou a esforçar-me um pouco.
5. Já foi muito importante tudo o que aconteceu. Mas não vou dizer nada quanto a isso.
6. Sim, sim, claro. Mas não digo nada.
7. Sim , corro esse risco. Mas espero que, com o tempo, as pessoas se esqueçam dos Delfins, ou seja, da imitação que eu fiz dos Delfins e só se lembrem do João Pedro Pais. Deus queira que sim.
8. Primeiro tem a Catarina Furtado, que é bonita e simpática. Depois, há aquela curiosidade de querer saber se se imita mesmo, se se está igual ou não. É curiosidade. E, depois, é um programa didáctico.
9. Oportunidades há, este programa é uma prova. Só que agora há muitos cantores, é mais difícil, faz-se mais selecção.
10. Sim, nos bares.
11. Se estamos a falar do festival deste ano, desculpem-me a expressão, foi uma vergonha. Acho que temos pessoas com mais qualidade. Nos outros festivais, havia bons cantores e compositores. Gosto do Cid e da Dulce Pontes.
12. O dos Cranberries.
Sónia Lisboa, 21 anos, originária de Leiria, estuda Português e Francês na Universidade de Coimbra. Sem formação musical. Canta em bares, ocasionalmente. Interpretou Mireille Mathieu em «Chanter».
1. Os meus amigos começaram a falar nisso. Um dia, mandei a cassete mas não estava à espera de nada, nem sequer de ir ao programa.
2. Eu conhecia mal a Mireille Mathieu. Concorri com a Edith Piaf, mas, com já havia uma, propuseram-me várias cantoras e eu escolhi a Mireille Mathieu. Acho que ela tem uma voz lindíssima e eu fazia questão de cantar em francês. A língua francesa é a minha língua materna, nasci em França, vim de lá aos catorze anos. Quando oiço cantar em francês, vem-me sempre uma lágrima ao olho.
3. Ah, sim! A voz dela não tem nada a ver com a minha, a dela é tão aguda. Trabalhei imenso mas acho que deu para chegar lá.
4. Sinto-me bem. Gostei de me pôr na pele de uma cantora que eu praticamente não conhecia. Preferia não imitar ninguém, mas assim é engraçado. É mais difícil mas é engraçado.
5. Acho que sim.
6. É melhor ter calma, para não apanhar grandes decepções. Primeiro está o curso.
7. Sinceramente, nunca me passou isso pela cabeça, mas, se acontecer, é como se fosse um elogio.
8. Isto é um sonho concretizado, durante algumas horas. Mesmo as pessoas que estão a ver, estão a ver pessoas como elas que foram ali cantar.
9. Vou ser franca, nunca fiz nenhum esforço para isso, para ter uma carreira. Agora começo a levar isto mais a sério, agora que cheguei aqui.
10. Não, só versões. Fado, Madredeus, Zeca Afonso...
11. Não quero fazer comparações, não costumo, sequer, ver o Festival.
12. Um da Edith Piaf.
Marta Plantier Martins, 20 anos, originária de Lisboa, estuda música. Estudou bateria no Hot Clube de Portugal e espera agora que abra um curso de voz na Trafaria. Gostaria de ser professora de expressão artística de crianças. Interpretou Aretha Franklin em «Respect».
1. Chatearam-me muito a cabeça.
2. Não sabia bem o que imitar mas a Aretha é a minha cantora favorita; por isso, acabei por a escolher a ela. Quando a oiço, fico mesmo arrepiada.
3. Esforço especial não, mas deu-me algum trabalho.
4. A pessoa imita, tudo bem, mas não acredito que não esteja a mostrar um bocadinho de si, a mostrar a voz que tem. Vai-se buscar a pessoa com quem o concorrente mais se identifica.
5. Toda a gente começa por pensar que é uma brincadeira. Vamos com medo, com pezinhos de lã, mas é só pela brincadeira. Até que, a certa altura, se dá um clique e a gente fica a pensar que talvez possa fazer alguma coisa com isto.
6. Eu gostava de ser cantora, mas não daquelas que ficam quietas no palco. Queria poder misturar tudo... a música, a dança.
7. Não penso muito nisso. Se a comparação e a semelhança for excessiva, é mau. Se for só um bocadinho, é um elogio.
8. É um programa moderno, que chama gente nova para cantar. Cantam -- e isso sempre foi uma coisa muito confusa em Portugal, o que é isso de cantar, era essa a atitude reinante.
9. Acho que uma pessoa tem que mostrar o que vale e este programa é bom para isso.
10. Agora não faço originais, mas fiz quando tinha uns doze anos. É verdade, nessa altura, ouvia muita música brasileira e saía tudo em brasileiro. Mesmo hoje, tenho dificuldade em pensar em música original em português. É uma língua muito quadrada, não tem muito a ver comigo. O inglês fica um bocado ridículo, especialmente por eu ser portuguesa; por isso, acho que o melhor é mesmo cantar em brasileiro.
11. Eu acho que o Chuva tem muito mais qualidade a nível de vozes. E, depois, aquela música não me diz muito.
12. Deve ter sido um da Janis Joplin.
Carlos Manuel Coincas, 21 anos, originário de Évora, professor de Educação Musical. Tem o curso do Conservatório de violoncelo, piano e canto. Canta e toca em bares. Interpretou Luís Represas em «Neva sobre a Marginal».
1. Uma amiga minha foi apurada e eu tive também vontade de mandar a cassete. E os amigos e a família puxaram muito por mim.
2. Tenho a sorte de ter o timbre da voz do Luís Represas. Claro que a minha é mais aguda, não tenho anos de estrada e bagaço e uísque como ele tem, mas, de resto, é muito parecida. E gosto muito dos Trovante e do Luís Represas.
3. Apenas tive que limar certas arestas, só isso.
4. É um pau de dois bicos. Há pessoas que só são boas a imitar, outras que cantam muito bem e imitam mal. Eu acho que sou muito influenciado pelo Luís Represas, mas tenho uma personalidade própria. Aliás, agora oiço coisas que não têm tanto a ver com Luís Represas e tenho mais dificuldade em soar como ele.
5. Sim, aliás, já está a ser. Eu tenho dois grupos de «covers» e os promotores de espectáculos vêm ter connosco em maior quantidade quando sabem que eu sou finalista do Chuva.
6. Sim. Quando acabar o Chuva, tenho aí umas coisas mas prefiro não divulgar. Mas quero cantar sempre em português.
7. É um risco que não me importo de correr. As pessoas ligam-me muito ao Luís Represas, mas pronto, eu sei que posso provar que não sou só isso.
8. À capacidade de quem cá vem cantar. São pessoas com enormes recursos.
9. Agora, há. Dantes, era mais difícil, mas agora as portas abrem-se num ápice. Quem investe na música sabe muito bem aquilo que quer.
10. Por enquanto, é só «covers».
11. Sou muito verde para falar no Festival da Canção. Nem conheço bem a mecânica do Chuva, quanto mais do Festival da Canção. Mas acho que se rege por... toda a gente sabe que as canções que ganham são de determinado autor... E, depois, o público é que decide -- e, no caso do Festival, não escolheram a que ganhou. E, no fundo, é o público que vai comprar os discos.
12. Madredeus, «Espírito da Paz».
Dinis Pedro Ferreira de Jesus, 23 anos, originário de São Pedro do Sul, estudante de Gestão Industrial e de Produção. Sem formação musical. Tem uma banda de «covers» que toca em bares. Interpretou Bon Jovi em «Bed of roses».
1. Queria ser músico profissional. Já tenho muito trabalho feito e preciso de um empurrãozinho.
2. Por duas razões essenciais: gosto de música rock e adoro o timbre da voz do Bon Jovi e a música que eles fazem.
3. Faço um esforço ligeiro para me aproximar em certas partes, em certos preciosismos. Mas a base, o timbre da voz é todo meu, sem grande esforço.
4. Orgulho-me de cantar Bon Jovi, adoro Bon Jovi.
5. Tenho quase a certeza.
6. Já houve uma alteração. Agora há muito mais gente a querer ter-nos nos seus bares, porque eu estou na final do Chuva de Estrelas.
7. Não, não tenho medo.
8. Às oportunidades que o programa dá para se lançarem carreiras. E, depois, porque é um programa com grande diversidade de música.
9. Existem muitíssimo poucas oportunidades.
10. Nós temos muitos originais mas não arriscamos porque as pessoas, quando não conhecem uma música, não lhe dão grande aceitação.
11. Não tem comparação possível. Este ano foi muito mau, muito pobre mesmo. O Chuva tem muito mais para oferecer ao público. E, em termos técnicos, de produção e realização, acho que é muito melhor que o Festival.
12. Whitesnake, «Greatest Hits».
Patrícia Antunes, 18 anos, originária de Queluz de Baixo, estudante de Sociologia do Trabalho no ISCPS. Estuda canto no Hot Clube de Portugal. Canta em bares. Interpretou Beverly Craven em «Promise me».
1. Curiosidade. E pressão dos amigos e da família, claro.
2. A Beverly Craven tem um timbre de voz parecido com o meu. E gosto imenso dela, como pianista, como cantora, como compositora.
3. Não. Ela é muito simples, muito clássica nas coisas que faz, é muito senhora. Não há nada de especial para imitar.
4. Eu acho que, mesmo quando se imita, se percebe a qualidade das pessoas; mas a minha carreira é para ser feita com originais.
5. Eu quero ser cantora. Qualquer coisa que tenha uma divulgação a nível televisivo é sempre boa para mostrar o nosso talento. Eu quero ser cantora, sim, a Sociologia vem depois.
6. Não tenho muitos planos. Seja o que vier, eu vou a tudo.
7. Não, isso não. A partir de outros trabalhos que eu faça, as pessoas são capazes de se lembrar; mas, se o trabalho for bom, essa imagem desaparece.
8. Foi o primeiro programa a divulgar talentos escondidos. E depois porque as pessoas têm mesmo qualidade.
9. A partir de agora, parece que há mais oportunidades, as pessoas interessam-se mais por coisas novas e diferentes.
10. Eu agora só canto «covers», mas temos originais, que estamos a pensar começar a tocar. É um bocado difícil, para uma banda de bares, tocar originais. As pessoas são ainda um bocado quadradas. Há uma certa falta de cultura em Portugal, não é só na música.
11. De qualidade? Bom, a partir do momento que se tem que imitar uma pessoa, fica-se mais condicionado ao mostrar o que se vale. Mas dá para ver se é bom ou não. Eu gostava só de ter mais liberdade mas o programa tem cláusulas específicas e nós temos que as cumprir. Mas, mesmo assim, prefiro o Chuva.
12. Peter Gabriel, o último ao vivo.
Fernando Sousa, 27 anos, originário de Queluz, vendedor. Sem formação musical. Toca em bares. Interpretou George Michael em «Somebody to love».
1. Foi especialmente a minha esposa.
2. O George Michael é um grande cantor e este é um grande tema.
3. Penso que me aproximo mais ou menos do original. Além disso, cortei o cabelo, deixei crescer a barba e pus um brinco. Foi mesmo uma mudança muito grande. E eu já andava há muitos anos para deixar crescer o cabelo; por isso, custou-me um bocado. E depois vi o vídeo.
4. Acho que isso não me preocupa muito, estou mais interessado em que as pessoas me conheçam e à minha voz. Este é um programa que divulga as pessoas.
5. O Chuva é um grande trampolim para eu ser um músico profissional. E já estou a sentir os efeitos disso, a minha banda vai tendo muito mais contratos só por saberem que estou a participar.
6. Claro, planos todos nós temos. Como eu já disse, quero ir para a frente com a música, ser músico profissional a tempo inteiro.
7. Não, antes pelo contrário, tenho muito orgulho em que me comparem ao George Michael.
8. Às boas vozes que aparecem, às boas interpretações. As pessoas ficam espantadas como há tanta gente a cantar bem em Portugal.
9. Penso que o público é muito pequeno, por isso, há tão poucas oportunidades. Não estamos na América nem em Londres, isto é um país muito pequeno.
10. Não, é preciso bastante criatividade para isso. É difícil fazer uma boa letra em português. Eu só faço «covers», de soul e blues.
11. Neste ano, há muito mais qualidade no Chuva de Estrelas do que houve no Festival da Canção -- principalmente neste ano. O Festival não é bom nem mau, aparecem umas vozes e pouco mais. Vão defender a bandeira lá fora e tal mas... não quero deitar as culpas nos cantores mas sim em quem os escolheu.
12. Foi o disco de homenagem ao Freddy Mercury, em que entra o George Michael.
Inês Machado dos Santos, 15 anos, originária de Coimbra, estuda no liceu e canto no Conservatório de Coimbra. Tem uma banda. Interpretou Sinead O'Connor em «Nothing compares 2 U».
1. Quero seguir uma carreira. Quero ser cantora lírica. Aqui não o estou a ser mas é uma forma de começar a ficar conhecida. A minha mãe ajudou-me.
2. Porque gosto dela e da voz dela.
3. Para além de rapar o cabelo... Não me esforço especialmente porque no que devia esforçar-me são coisas que só ela faz, que são muito dela. Claro, vi o vídeo, para ver mais ou menos os movimentos dela.
4. Sinto-me bem a imitar. Nunca quereria concorrer ao Selecção Nacional, aquilo não tem nada a ver com o meu destino; o meu destino é ser cantora lírica. Prefiro muito mais o Chuva. Aqui temos muita liberdade.
5. Sim, sim, por isso concorri.
6. Tenho projectos, um grupo novo, mas isso é mais de brincadeira. O grupo é de música clássica, mais ou menos, tem violoncelo, violino, piano, três guitarras e eu, a cantar.
7. Não, não. Nos nossos espectáculos, lá em Coimbra, nunca canto Sinead, para as pessoas não me associarem só a ela.
8. É um bocado difícil de explicar. É que isto é um conjunto muito bem estruturado de coisas, é um espectáculo mesmo.
9. Vai havendo. É preciso é uma oportunidade; depois, a partir daí, surgem sempre convites.
10. Por enquanto, é só versões, dos Madredeus, do Gershwin... Mas estamos a fazer originais, isso é um bocado surpresa.
11. Há grandes diferenças de qualidade. A Selecção Nacional foi feita para descobrir novas vozes e acho que isso não se fez notar. Há vozes que até foram fazer um bocado figuras tristes. Há muitas boas, de qualquer maneira, e músicas espectaculares que vão ao Festival, mas, neste ano...
12. O «Barcelona», da Montserrat Caballé e do Freddy Mercury.
Alberto Ferreira, 23 anos, originário da Maia, gestor de «stocks» de confecções de senhora. Sem formação musical. Tem projectos para formar uma banda. Interpretou Alphaville em «Forever young».
1. Queria participar e conhecer os bastidores de um programa de televisão tão falado.
2. Os Alphaville são o meu grupo preferido e ele, o vocalista, tem sido o meu «professor» desde que eu descobri o grupo, há treze anos. Agradeço-lhe a ele estar aqui. Os Alphaville têm cinco álbuns, coisa que pouca gente sabe. Escolhi esta música porque é a mais conhecida deles e porque cai bem no ouvido.
3. Eu não me esforço nada. Aquela é a minha voz. Tenho influências deles mas, de resto, sei muito pouco dele em palco. Só sei que é muito calmo.
4. Eu sinto-me bem a imitar Alphaville. Não me sinto bem a imitar mais ninguém.
5. Se não perder a cabeça e se não empinar o nariz, acho que conseguiremos alguma coisa.
6. Quero pôr de pé uma banda de originais. Por enquanto, está parada mas quero fazer com ela todo o tipo de música, desde acid jazz até ao género Sting. Não tenho um género preferido.
7. Não, não tenho. O meu objectivo é ter a voz do vocalista dos Alphaville.
8. À qualidade e à equipa do programa. Esta final tem uma qualidade terrível.
9. Já houve menos. Agora há muito mais. Agora abrem mais portas, acho eu.
10. Estou farto de imitações, de bandas de «covers». Já tive duas e dei-me mal. Sozinho a imitar, pode ser, porque eu dou-me bem comigo. Nos originais, eu posso pôr as mudanças que muito bem entender, porque aquilo é meu.
11. Há uma grande diferença, que é a qualidade. Aqui há muito melhores intérpretes e melhores canções, mesmo não sendo originais. Por exemplo, a Sara Tavares foi ao Festival mas vinha do Chuva de Estrelas, fez boa figura.
12. O último dos Alphaville: «Prostitute».
Sandra Vilabril da Silva, 17 anos, originária de Canas de Senhorim, estudante do 12º ano. Sem formação musical. Interpretou Edith Piaf em «La vie en rose».
1. Os meus amigos obrigaram-me a vir. Faziam-me repetir vezes sem conta a canção, obrigaram-me a gravá-la e mandaram a cassete. Se estou aqui, é graças aos meus amigos.
2. Gosto muito e respeito muito a Edith Piaf. Quando ela canta, aquilo vem cá de dentro. Mete corpo e alma na canção. E, depois, porque poucas pessoas vinham cantar em francês. Eu vivi em França até há dois anos e meio, e queria fazer alguma coisa que tivesse a ver com esse país.
3. Sim. Porque não é a voz, nem a tristeza, mas os gestos que é difícil imitar. Ela cantava muito quieta e eu estou sempre com vontade de agarrar o microfone. Depois, há aquela coisa dos erres. Apesar de eu saber falar francês, aqueles erres são difíceis.
4. Gostaria de cantar originais. Mas a Edith Piaf tem muito de mim e, quando a canto, tiro dali muito da minha personalidade
5. Claro que é. Mas eu quero também ir para a universidade, para ter mais possibilidades na vida.
6. Continuar a cantar. Graças a eu ter estado aqui, já me convidaram para imitar várias vezes a Edith Piaf em festas, uma das quais no Casino Estoril.
7. Não me incomodava nada. Acho até que é um elogio.
8. Quem é que não gosta de música? E quem é que não gosta de ver um programa bem feito?
9. Acho que há mais oportunidades agora do que dantes.
10. Não, ainda não, mas gostaria.
11. Para ser sincera, gosto muito mais do Chuva. Aquele programa Selecção Nacional não era imitação nem original, já que se tinha que cantar coisas conhecidas mas com uma espécie de interpretação própria de cada cantor. Não era carne nem peixe, não gostei. E as músicas originais do Festival eram banais, especialmente a que ganhou.
12. Eu não compro muitos discos, faço mais gravações. As últimas que fiz foram de músicas dos Cranberries.
André Letra, 19 anos, originário do Porto, técnico de vendas de roupa. Sem formação musical. Interpretou Eros Ramazzotti em «Un altra te».
1. Foi a força que os amigos e a família me deram.
2. Adoro o Eros Ramazzotti. Já sigo a carreira dele há nove anos, a minha mãe trazia-me os discos de Itália, quando ninguém o conhecia aqui. Gosto essencialmente das letras. E gosto de cantar em italiano.
3. É um facto que esta não é a minha voz. Faço um certo esforço, a minha voz não é tão nasalada, por exemplo. E copio os gestos, através dos vídeos.
4. Todas as pessoas têm vozes próprias. Basta ver que cada um escolhe interpretar o cantor ou a cantora que mais facilmente se adapta ao seu estilo.
5. Sem dúvida. Podem vir a surgir todo o tipo de propostas.
6. Ainda não tenho nada de concreto, mas adorava ser músico profissional.
7. Isso depende de mim e do futuro. Eu tenho que mostrar às pessoas que não sou o Eros Ramazzotti.
8. A equipa que faz este espectáculo é muito profissional e competente, é como uma família. Foi disso que gostei mais.
9. Há poucas oportunidades, mas agora descobriram-se umas vozes aqui.
10. Não, ainda não canto originais.
11. Eu acho que a Sara Tavares demonstrou já a qualidade do Chuva face ao Festival. Nós, aqui, somos melhores e com mais vida.
12. O disco do Chuva de Estrelas.
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