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<DOCNO>PUBLICO-19950403-116</DOCNO>
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<DATE>19950403</DATE>
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Bonino e bonito
Emma Bonino, comissária das pescas, de 57 anos, nasceu em Itália. Foi a escolhida por Silvio Berlusconi para ocupar a pasta das Pescas e Ajuda Humanitária, na Comissão Europeia. Do seu currículo sobressai a fundação, em 1976, do Partido Radical italiano. A sua acção tornou-se notória na defesa da liberdade de prática do aborto, do desarmamento, contra a energia nuclear e pena de morte. Publicamos hoje excertos de uma entrevista dada ontem ao «El Pais», a propósito do conflito das pescas entre a UE e o Canadá:
«Não estou disposta a aceitar um resultado qualquer.»
«É preciso coerência. Nem os espanhóis nem os pescadores devem ter como única preocupação a quota.»
«A minha mensagem para o sector é dura e penosa, mas é simples: os recursos são crescentemente limitados e há um grande excesso de capacidade de pesca.»
«Abatemos um barco, sim, mas, com um novo sonar [radar que detecta os cardumes], captura-se mais em três horas do que em três dias sem ele.»
«Com o que estou fazendo, arrisco-me a que um dia, na Galiza, me atirem tomates. Mas há que ser sincera. O sector pesqueiro é um sector em crise estrutural e em reconversão.»
«Lamento que a mensagem seja difícil. Tobin, o ministro canadiano, tem um estratégia mais simples: basta-lhe dizer que os seus pescadores não podem pescar porque os `piratas' espanhóis já levaram tudo e isso não é verdade! Foram eles que depredaram a sua zona costeira dentro das 200 milhas, que está toda delapidada!»
«O principal problema que enfrentamos não é o do Canadá querer pescar uns milhares de toneladas mais de palmeta. O que se pretende é estabelecer uma absoluta hegemonia dos estados ribeirinhos, estendendo a sua jurisdição além das 200 milhas.»
«O pretenso conservacionismo de Tobin é falso. Nós já estávamos de acordo em conservas [a palmeta] e, por isso, aprovámos uma [redução de] quota de 27 mil toneladas.»
«Não acredito que ninguém desencadeie um conflito tão grande que ponha em perigo vidas humanas por causa de umas toneladas. Buscavam uma drástica revisão do Direito Internacional do Mar, nas vésperas da Conferência Internacional da ONU. Ampliar as 200 milhas. Algo que teria efeitos não apenas sobre a palmeta mas sobre toda a pesca. E sobre o petróleo, e o comércio, e sabe-se lá que mais». D.D.
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