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<DOCNO>PUBLICO-19950422-052</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950422-052</DOCID>
<DATE>19950422</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>JCS</AUTHOR>
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Estados Unidos e Coreia do Norte interrompem diálogo
Estranha fluidez
Os Estados Unidos, num esforço derradeiro para salvar um acordo nuclear inédito, propuseram elevar o nível de negociações com a Coreia do Norte, entretanto terminadas inconclusivamente, ontem, em Berlim. A Coreia do Norte, para já, bateu mais uma vez com a porta.
«Propusemos que haja conversações a um nível mais elevado», envolvendo o negociador-chefe americano Robert Gallucci, disse o secretário de Estado Warren Christopher aos jornalistas, em Washington. «Ainda não obtivemos uma resposta». Christopher insistiu em que a disputa sobre como pôr em prática o acordo nuclear americano-coreano assinado em Outubro passado «não é um problema insolúvel».
Outro funcionário americano descreveu a situação com Pyongyang como «ainda fluida».
Contrastando com o optimismo desesperado de Washington, a Coreia do Norte confirmava ontem que as conversações com os Estados Unidos tinham fracassado e acusava os americanos de serem responsáveis por isso.
O negociador-chefe norte-coreano, Kim Jong-u, disse aos jornalistas em Berlim, antes de partir para Pyongyang, que «a inflexibilidade e irrazoabilidade» das exigências de Washington tinham bloqueado um acordo durante os contactos em Berlim.
Kim acrescentou que não estão previstas novas conversações e que irá informar o seu Governo, para que ele tome as decisões adequadas.
O diplomata norte-coreano não disse se o seu país reiniciará o programa nuclear, congelado no âmbito do acordo assinado com Washington, no ano passado, em Genebra.
As conversações de Berlim centravam-se em saber quem iria fornecer à Coreia do Norte reactores atómicos modernos, dos quais é muito difícil extrair plutónio, um ingrediente chave para o fabrico de armas nucleares.
A Coreia do Norte recusa-se a aceitar os pedidos de Washington para que a Coreia do Sul, o arqui-rival do Estado comunista, forneça os reactores.
No acordo de Outubro, Pyongyang concordou em congelar e eventualmente desmantelar o seu único reactor em funcionamento, alimentado a grafite, e suspeito de produzir plutónio em quantidades suficientes para fazer vários engenhos atómicos.
Quem paga, controla
Neste acordo no valor de 4,5 mil milhões de dólares, Pyongyang comprometia-se ainda a não construir dois novos reactores, recebendo em troca centrais mais modernas e interinamente fornecimentos de energia, até que elas começassem a produzir electricidade.
A Coreia do Sul, país que iria suportar a maioria dos encargos financeiros do acordo, reclamou o direito de chefiar o projecto e avisou que não pagará um tostão se tal não for o caso.
A Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, ainda a viver sob uma ditadura comunista semelhante à que a China teve nos tempos da Revolução Cultural, recusa-se terminantemente a aceitar a participação dos compatriotas do Sul, «por razões de segurança política e técnica».
Washington está ansioso por levar as conversações a bom termo, mas anunciou quinta-feira que pressionará nas Nações Unidas para que sejam votadas sanções contra Pyongyang se o Estado comunista levar por diante as ameaças de reiniciar o seu programa nuclear.
No ano passado, quando o espectro das sanções se colocou de forma iminente, Pyongyang disse que encararia isso como uma declaração de guerra.
Em Seul, um porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros disse que alguns membros das duas delegações iriam permanecer em Berlim para conversações não oficiais.
Segundo esta fonte, a Coreia do Sul continuará os esforços para persuadir a Coreia do Norte a aceitar «no final» os reactores em causa, em cooperação com os Estados Unidos e o Japão.
Um observador da Coreia do Norte no mistério da Unificação, em Seul, disse não acreditar que Pyongyang leve o actual impasse ao ponto de uma crise.
A Agência Internacional de Energia Atómica, organismo da ONU com sede em Viena e que fiscaliza a questão nuclear a nível mundial, disse que os seus inspectores no principal complexo atómico norte-coreano não tinham dado por nenhuma actividade indicativa de que Pyongyang estava na iminência de recomeçar o seu programa nuclear.
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