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<DOCNO>PUBLICO-19950503-055</DOCNO>
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<DATE>19950503</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>PCR</AUTHOR>
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Aliados recusam embargo norte-americano ao Irão
Amigos amigos, negócios à parte
A MAIORIA dos aliados dos Estados Unidos recusou ontem seguir o embargo comercial anunciado pelo Presidente Bill Clinton contra o Irão. Primeiro, porque os homens de negócios não tencionam perder um mercado de 60 milhões de consumidores, e depois porque os políticos não acreditam que sanções tornem mais moderado o regime dos «mullahs».
A reacção mais dura foi a da Alemanha. «Não cremos que um embargo comercial seja o instrumento adequado para influenciar a opinião no Irão e introduzir mudanças que são do nosso interesse», disse, em Bona, o ministro da Economia Guenter Rexrodt. «Isolar um país e empurrá-lo para um canto do qual não poderá sair é perigoso. [...] O melhor é manter um diálogo político».
Em Paris, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Alain Juppé, também se mostrou céptico: «Não acreditamos em embargos unilaterais. [...] Não vemos em que bases é que poderíamos associar-nos a um exercício de sanções no plano internacional».
Em Bruxelas, um porta-voz da Comissão Europeia foi ainda mais claro: «Não vamos responder a esta iniciativa [de Clinton]. A nossa posição é a de que queremos manter um diálogo crucial com o Irão. Se houver alguma alteração será no contexto da política comum de segurança e relações externas, mas não creio que essa mudança se concretize».
A Grã-Bretanha também duvida que um embargo seja susceptível de modificar a política do Irão e a Austrália recusou igualmente seguir o exemplo de Clinton. O Japão e a Itália ainda não tomaram uma decisão. Só o Canadá e Israel declararam o seu apoio à iniciativa do Presidente americano.
A Rússia não reagiu, por enquanto, mas é improvável que aceite os pedidos de Clinton para desistir da venda de reactores nucleares a Teerão, no valor de mil milhões de dólares. Além do contrato ser lucrativo, é do interesse de Moscovo manter boas relações com um país que faz fronteira com o Cáucaso e que lhe facilitará o acesso aos recursos minerais do Mar Cáspio.
Projectos adiados
O maior receio dos líderes iranianos era que Clinton fosse capaz de persuadir os aliados a cancelar empréstimos e fundos ao desenvolvimento e a não reescalonar as dívidas do país em termos favoráveis.
O Japão, por exemplo, o principal cliente do petróleo iraniano, decidiu em Março último adiar um projecto de construção de uma central hidroeléctrica sobre o rio Karum devido às pressões de Washington. Um outro projecto iraniano-sueco, para construir um hotel em Teerão -- o primeiro na categoria de cinco estrelas desde a revolução islâmica de 1979 --, também foi suspenso, depois de os EUA terem convencido bancos alemães e holandeses a não conceder financiamento.
Apesar destas contrariedades e animado com as reacções manifestadas nas várias capitais mundiais, o Irão tenciona agora encontrar alternativas às companhias americanas -- ou melhor às suas filiais estrangeiras --, que no ano passado compraram cerca de 4000 milhões de dólares de petróleo e venderam 326 milhões de dólares de produtos agrícolas e industriais.
«Num mundo que necessita de recursos energéticos, não é possível excluir o Irão dos mercados mundiais», declarou ontem, optimista, o Presidente iraniano, Ali Akbar Rafsanjani. «O Governo dos EUA sabe perfeitamente que, no estado actual das coisas e tendo em conta as nossas capacidades científicas e técnicas, não estamos de maneira nenhuma preocupados com o embargo».
O presidente da companhia petrolífera americana Exxon deu razão a Rafsanjani. O embargo «é uma acção unilateral e fútul que não afectará em nada o Irão, sobretudo num mercado internacional tão fluído com o do petróleo», disse Lee Raymon ao «Financial Times».
Margarida Santos Lopes
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