<DOC>
<DOCNO>PUBLICO-19950507-118</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950507-118</DOCID>
<DATE>19950507</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>FCOL</AUTHOR>
<TEXT>
A Guerra acabou!
Lina de Lonet Delgado, em Berlim
Os alemães renderam-se, no quartel-general de Eisenhower, em Reims, no dia 7 de Maio de 1945. Mas, por imposição de Estaline, a cerimónia foi repetida em Berlim, a 8. Terminava a parte europeia da II Guerra Mundial, que semeara na Europa não só uma devastação sem precedentes, derivada de uma guerra total, mas também um extremo de barbárie, de que os campos de extermínio dos judeus foram a mais brutal imagem. Abria-se uma nova era: a da guerra fria. O mundo seria doravante dividido em dois blocos. Os Estados Unidos substituiam definitivamente a Grã-Bretanha como primeira potência mundial. E a União Soviética, cobrava um alto preço pelos seus 26 milhões de mortos: o sistema comunista dominaria, por meio século, metade da Europa e uma grande parte da Ásia.
Às três da tarde do dia 8 de Maio de 1945, o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, anunciou pela rádio: «A guerra com a Alemanha acabou! Longa vida à causa da paz! God Save the King». À mesma hora, em França e nos Estados Unidos, o general De Gaulle e o presidente Harry Truman fizeram proclamações análogas. Em Londres, Paris ou Nova Iorque a multidão saiu para as ruas, que se transformaram numa gigantesca festa.
Mas a notícia já era conhecida desde a véspera, graças a um jornalista que furou o embargo (ver pag. 5). E o jornal londrino «Daily Mirror» cumprira já a promessa que fizera para o fim da guerra: apresentar, completamente nua, a heroína da sua banda desenhada, a «pin-up» Jane. Em Portugal, o «Século» anunciava em manchete: «A Alemanha rendeu-se sem condições aos Exércitos aliados».
No dia 7, à 01h30, numa pequena escola de tijolo vermelho em Reims (França), que servia de quartel general ao comandante em chefe das forças aliadas, general Eisenhower, encontraram-se frente-a-frente, as duas delegações militares. Pelos aliados, os generais Bedell Smith, em representação de Eisenhower, Robb e Strong, pela Grã-Bretanha, Sevez pela França, Susloparov, pela Rússia. Do lado alemão, o general Jodl, chefe do Estado-Maior e o almirante Von Friedeburg. A acta de rendição foi assinada pouco depois, prevendo o cessar-fogo para «as 23h01, hora da Europa Central, do dia 8 de Maio».
Assinada a acta de rendição, Jodl disse a Bedell Smith: «General, por esta assinatura o povo alemãos e os exércitos alemães entregam-se, para o melhor e para o pior, nas mãos do vencedor. Em cinco anos de guerra, eles sofreram mais do que qualquer outro povo. Nesta hora, apenas posso exprimir a esperança de que o vencedor os tratará com generosidade». Foi a seguir levado à presença de Eisenhower, que não lhe apertou a mão, e o responsabilizou secamente pelo cumprimento das cláusulas de capitulação.
A guerra tinha acabado. Mas não seria tudo.
Estaline, a pretexto de que em Reims fora assinada apenas uma versão reduzida ou provisória do documento, exigiu a repetição da cerimónia no quartel-general das forças armadas soviéticas em Berlim. Simbolicamente, na Berlim ocupada pelos russos. Nas suas instruções ao marechal Jukov, Estaline era explícito: «Foi o povo soviético que suportou sobre os seus ombros o maior peso da guerra, e a capitulação deve ser assinada perante o comando superior de todos os países da coligação anti-hitleriana e não apenas perante o comandante supremo das tropas aliadas».
Ao longo do dia, foram chegando a Berlim generais e diplomatas. A cena final começa seis minutos depois da meia-noite (daí a comemoração da data pelos russos a 9 de Maio). Dum lado, está Jukov, ao centro, com o britânico Tedder (que representa Eisenhower) e o russo Vichinski (comissário dos Estrangeiros); à esquerda, o americano Spaatz e o francês De Lattre de Tassigny. Em frente, numa mesa mais pequena, os alemães: o marechal Keitel, pelo Exército, Von Friedeburg, pela Marinha, o general Stumpf pela Força Aérea.
De monóculo e ar glacial, Keitel só reagiu quando viu entrar De Lattre, das Forças Francesas Livres do general De Gaulle: «Ah, os franceses, só faltava isto». A capitulação foi assinada minutos depois.
Na noite de 8, os guardas de uma coluna que transportava judeus para o campo de Theresienstadt debandaram subitamente e deixaram os presos na estrada: «Não queríamos acreditar que tudo tivesse acabado», contou depois o sobrevivente Alfred Kantor.
A guerra tinha acabado, mas não era tudo.
Nascia também uma nova ordem: o Continente e, depois o mundo, iriam partir-se em dois novos impérios. Churchill foi dos primeiros a entrever o futuro. Ele, que dividira o mapa do Leste europeu com Estaline em percentagens de influência, enviava Harry Truman, logo no dia 12, o célebre telegrama sobre a «cortina de ferro» que se abatia sobre a Europa.
Na Alemanha, por entre as ruínas, aprendia-se a arte de esquecer. No dia 20 de Maio de 1945, 10 mil pessoas assistiam a um jogo de futebol em Berlim.
</TEXT>
</DOC>