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<DOCNO>PUBLICO-19950509-021</DOCNO>
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<DATE>19950509</DATE>
<CATEGORY>Desporto</CATEGORY>
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A vontade
Nos últimos treze anos, tantos quantos leva de presidente Jorge Nuno Pinto da Costa, o FC Porto ganhou sete títulos nacionais de futebol. Ou seja, metade de todos os que conquistou até hoje. Quanto basta para definir um presidente, goste-se muito ou pouco do personagem e de algumas das suas atitudes.
Este ano escolheu um símbolo para os seus nove meses de luta: Rui Filipe. Tragicamente desaparecido num desastre de viação poucas horas antes de o FC Porto jogar a segunda jornada deste campeonato, ele que tinha marcado o primeiro golo da equipa neste campeonato, Pinto da Costa tornou-o uma espécie de santo e senha da unidade do grupo. Da emoção da tragédia fez o bem comum da equipa. Pode de alguma forma contestar-se o aproveitamento, não se lhe pode negar a habilidade com que o fez sem ferir ninguém.
O percurso de Pinto da Costa nos últimos treze anos mudou-lhe muita coisa. Este ano resolveu dar uma dimensão política à presidência do clube e, até internamente, havia mesmo quem lhe apontasse que esse súbito interesse pela política -- que recusara redondamente desde a primeira vez que fora eleito -- o levara a descurar alguns interesses do clube.
Depois de alguns anos difíceis no clube (penhoras, despedimento de Ivic, maus negócios) e até em termos pessoais, Pinto da Costa reuniu à sua volta uma das mais fortes Direcções do seu reinado. Às vezes pouco coesa, mas sempre respeitadora da vontade do presidente e com ele sempre alinhada. O cimento é, obviamente, Pinto da Costa.
Já teve várias vezes vontade de deixar a presidência, mas hoje já ninguém acredita que não acabe a sua vida de outra forma. Não faz sentido pensar de outro modo e é vê-lo já a ensaiar a guerra a outro populista nato como é Pedro Santana Lopes, que pretende entrar no futebol com uma ideia nova e virginal. Aos 57 anos feitos em Dezembro, Pinto da Costa mantém a vontade de ser o que já é: presidente do FC Porto. Sempre foi contra as sociedades desportivas, mas já aceitou fazer uma para a secção de andebol. E como também sempre recusou a política...
Manuel Queiroz
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