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<DOCNO>PUBLICO-19950515-094</DOCNO>
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<DATE>19950515</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>TN</AUTHOR>
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Monteiro radicaliza discurso nacionalista em torno do «orgulho de ser português», num almoço, em Rio Maior
Deus, pátria, família
Ângela Silva
As inflexões de Nogueira à esquerda revitalizaram o discurso nacionalista de Monteiro. Ontem, em Rio Maior, o líder do PP ressuscitou a triologia «Deus, Pátria, Família». Apontou os valores da Pátria como a grande prioridade. Acusou o Governo de ter «destruído o orgulho de ser português». Um pavilhão repleto de novos militantes aplaudiu «a nova mensagem, a nova esperança», como Monteiro lhe chamou.
O tom é quase messiânico. A mensagem não é propriamente nova, mas o discurso nacionalista do líder do PP surgiu ontem, em Rio Maior, num almoço com novos militantes, claramente revitalizado. Uma «Nova mensagem, uma nova esperança», como o próprio Monteiro lhe chamou, ao assumir que «temos que dar resposta aos problemas dos nossos jovens, dos nossos trabalhadores e da falta de segurança dos cidadãos. Mas o primeiro problema a que temos que responder reside nisto: temos que saber se hoje, em 1995, há ou não há razões para retomar os valores da pátria. Eu entendo que os valores da pátria são valores essenciais à condução do país».
O enorme Pavilhão da Feira, repleto com cerca de dois mil militantes, 600 dos quais recém chegados ao PP, respondeu com aplausos calorosos ao apelo do líder para que se assuma, «sem medos», o orgulho nacional. Puxando pelos galões dos seus 33 anos, Monteiro confessou que ama a liberdade e defende a democracia, mas «para que esses valores tenham capacidade de existir, o PP deve ir sem medo ao encontro dos anseios dos cidadãos». E esses, «fazem do orgulho no seu país a razão primeira para continuarem a existir».
Aparentemente inspirado por uma auto-confiança proporcional aos ziguezagues estratégicos do PSD de Nogueira, Manuel Monteiro soube «piscar o olho» a quem mais interessa conquistar. «O meu principal apoio foi sempre o dos jovens e do povo», afirmou. E uma vez definido o alvo, fez do orgulho luso o tema exclusivo do discurso, desfraldando aquela que promete ser a sua principal bandeira contra o PSD e o PS: apelar ao povo português para «não aceitar mais a teoria da inevitabilidade» da Europa, porque «somos um povo independente que não tem medo de trabalhar, e que saberá sempre entender-se com os que, eventualmente, queiram ser nossos amigos».
Se alguém se lembrar do «orgulhosamente sós», Manuel Monteiro não se importa. Porque rejeita os preconceitos dos que temem o passado. «Há dias - contou, do alto do palco onde, minutos antes, num bem sucedido arroubo populista, dançara o corridinho -, alguém me gritou na rua uns slogans associados aos regimes do passado. Eu pergunto: estão convencidos que alguém com 33 anos deixa de acreditar em Deus, na Pátria e na família só por ter medo de andar para trás?». A sala aplaudiu em força. A resposta era não. Ninguém acredita que alguém venha a pôr em causa o discurso do PP por causa do fantasma fascista. E as tiradas de Monteiro não pararam: «Os nossos problemas enquanto Nação só serão resolvidos se tivermos um Governo que acredite na pátria».
Pela sua parte, o líder do PP fez a mais desabrida profissão de fé na «Nova mensagem»: «Acima do partido a que pertenço sinto-me português, um patriota, sem qualquer medo», afirmou, como que a dar o exemplo. E aqui sedimentou a diferença com os outros políticos: «De há uns anos a esta parte, sobretudo desde a morte de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, deixamos de ter políticos patriotas, passamos a ter contabilistas de alpaca que não dão valor aos princípios essenciais». Ao PSD, que pela voz do imprevisível Luís Filipe Menezes, já quer um referendo sobre a regionalização, Monteiro mandou a «bicada»: «A Bíblia deles passou a ser a do referendo. Qualquer dia devíamos fazer um referendo para saber se os deixamos continuar a existir à nossa custa».
As críticas ao Executivo foram alinhadas pela nova bitola do PP. O Governo «destruiu o orgulho de se ser português». Travou a discussão aberta sobre as vantagens e as desvantagens da Europa. Mas «os nossos problemas só serão resolvidos se tivermos um Governo que acredite na pátria».
A mensagem mostrou-se devidamente assimilada por todos os oradores. E foi traduzida na versão mais popular do dia pela militante Helena Santo, cabeça de lista por Santarém: «Se nos tivessem dado ouvidos, hoje, aqui em Rio Maior, não teríamos comido laranjas de Marrocos». À falta de melhor ... não foi por isso que o almoço deixou de durar horas.
«Somos cada vez mais», congratulou-se Monteiro neste lançamento da pré-campanha virada para o sul e que contou com uma mãozinha mais ao norte, a crer no autocarro de dois andares que cedo chegou ao local e onde se lia «Rodoviária da Beira Interior».
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