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<DOCNO>PUBLICO-19950525-115</DOCNO>
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<DATE>19950525</DATE>
<CATEGORY>Diversos</CATEGORY>
<AUTHOR>LP</AUTHOR>
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«O(s) páraco(s)»
A reportagem, directa, da SIC, no jornal da tarde de 22 de Maio p.p., sobre o encontro dos «páracos» de Lisboa com o ministro da Administração Interna é exemplar na revelação da «paráquia» a que chegámos na informação e na educação. De facto, foi por quase angustiantes vinte vezes «paraquial» o nível da repórter de serviço, numa estação de TV que, minutos antes, se vangloriava de ter batido a soma de audiências dos canais de Estado. Desgraçadamente, sabido que estes estão ao nível do chão, é fácil avaliar a «paráquia» em que vivemos no áudio-visual e na educação.
Apesar de um erro ser próprio de qualquer mortal, quando até Deus se engana ao não proteger os «páracos», as «paráquias», os «paraquianos» das comunidades cristãs e os outros, é caso para dizer: -- Valham-me os párocos de Burreiros e de Marmeleiro, que espero que sejam bons párocos e que não tenham problemas de segurança pessoal e nas suas paróquias, como, infelizmente, todos sofremos na sociedade em geral!
E, já agora, que nos ajudem a livrar-nos da televisão que temos!
A. Moura
Viana do Castelo
Rádio Xenovisão Portuguesa
A nova campanha publicitária da RTP, que anuncia a telenovela «Desencontros», faz uma discriminação directa aos produtos audiovisuais realizados, produzidos, interpretados e/ou que tenham a participação de técnicos brasileiros. Creio que talvez seja o casamento real que lhes esteja a subir à cabeça, mas acho que passaram um pouco dos limites com esta campanha xenófoba na mais pura linha lepeniana: imigrantes fora!
O que está em causa não é a defesa da tese -- da qual eu partilho -- de que deve produzir-se mais e melhor em Portugal. O que está em causa é a «nacionalidade» dos profissionais: como se o produto fosse melhor por ser feito exclusivamente por portugueses, e não por cidadãos legalmente residentes em Portugal.
Não sou dentista. Mas vejo que finalmente chegou a minha ora de ser discriminado e -- como produtor, autor e técnico -- directamente lesado. Após estas e outras que a gente vai passando, dá mesmo vontade de fazer as malas e tirar o «time» do campo.
Acima de tudo, o que é inaceitável é que, numa época em que as ondas de racismo crescem por toda a Europa, um órgão de comunicação social estatal, com obrigações públicas e pedagógicas, incite activamente à discriminação entre povos que (pelo menos até à entrada em vigor do Acordo de Schengen) têm mantido uma relação de irmandade.
Ricardo Rezende
Lisboa
Carta aberta ao senhor Krippahl
Senhor Krippahl:
Escrevo-lhe para lhe confessar a minha grande decepção por vê-lo a apresentar um programa como os Parabéns.
Sou seu admirador há muitos anos, desde a sua estreia na televisão ao lado de Nicolau Breyner, com a dupla Senhor Feliz e Senhor Contente. Desde então, tentei sempre não perder todas as suas presenças no pequeno ecrã. Recordo-me também de outra engraçada dupla com Joel Branco, no programa A Feira. Até comprei o disco «Saca o Saca-Rolhas»! Muitos diziam que o senhor não tinha graça, que só dizia e fazia disparates, mas eu não me importava. Tal como muitos jovens da minha idade, identificava-me consigo, e esperava que surgisse a oportunidade que lhe permitisse demonstrar todo o seu enorme talento.
Essa oportunidade surgiu com O Tal Canal, depois da criação da figura do Tony Silva no programa O Passeio dos Alegres de Júlio Isidro ter constituído um prenúncio promissor. Se ainda existiam dúvidas sobre as suas qualidades, elas praticamente desapareceram com esse memorável programa, uma autêntica «pedrada no charco» na televisão em Portugal. Todos se divertiram com o seu humor inteligente e irreverente, com as suas caricaturas certeiras e cáusticas de figuras e acontecimentos «típicos» do nosso país. Caricaturas que, em muitos casos, foram testadas em programas de rádio também memoráveis, como A Flor do Éter e Rebéu-béu Pardais ao Ninho.
Também gostei muito do Hermanias e do Humor de Perdição, na minha opinião o seu melhor programa. E, quando ele foi suspenso, também eu me senti incrédulo, furioso, indignado, perante aquilo que foi um acto de pura censura. E por os culpados, autênticos «fósseis vivos» do salazarismo, não terem sido devida e exemplarmente punidos.
Senhor Krippahl, a pergunta que eu lhe faço é esta: desistiu? É porque cada vez mais se parece com aqueles que antes ridicularizava.
No momento em que o seu humor podia ser muito útil a este país, convenceu-se de que é menos arriscado conformar-se a uma mediania fácil e confortável? Numa altura em que Portugal está a ser desfigurado, destruído por uma súcia de politiqueiros sem carácter, ignorantes e incompetentes, decidiu calar-se e consentir? Agora, quando a corrupção e a injustiça são práticas correntes, quando a ostentação mais despudorada coexiste com a miséria mais desesperada, prefere limitar-se a ganhar o suficiente para a gasolina do seu Rolls-Royce?
É certo que o senhor não é indispensável. Mas também é verdade que ainda pode fazer muito pelos portugueses... se quiser. Pode fazer, de certeza, muito mais e melhor do que cantar os parabéns a pessoas como Alberto João Jardim.
É por isso, senhor Krippahl, que gostaria de saber se ainda podemos contar consigo. E se ainda temos motivos para continuar a chamá-lo Herman José.
Octávio dos Santos
Lisboa
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