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<DOCNO>PUBLICO-19950624-147</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950624-147</DOCID>
<DATE>19950624</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
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Sucessão de Jorge Sampaio por João Soares
As diferenças começam pelo estilo
A primeira grande diferença entre o presidente da câmara Jorge Sampaio e o presidente da câmara João Soares é o estilo. Se o candidato presidencial é o homem dos grandes ideais, o seu sucessor é um pragmático. Vai ter de dirigir uma equipa de vereadores que não escolheu, mas que já lhe prometeu fidelidade. Resultado: a coligação poderá funcionar sem problemas de maior, porque a todos -- PCP, naturalmente, incluído -- interessa uma eventual renovação da maioria.
Soares herda uma equipa e está por ela condicionado, mas agora será ele o maestro. Os socialistas escolhidos em 1989 por Sampaio foram reconduzidos em bloco quatro anos depois, e os candidatos à vaga aberta pela saída do ainda presidente não são propriamente soaristas: Maria José Rau, uma técnica de educação que está a colaborar com Edite Estrela em Sintra, é considerada uma sampaísta; Nuno Baltasar Mendes, que avançará caso a primeira decline, é tido como «simpatizante» de Soares no plano pessoal, mas foi indicado para a lista eleitoral por Vasco Franco.
A saída de Sampaio implicará, certamente, o afastamento dos seus colaboradores mais próximos, caso do chefe de gabinete Leiria Pinto e de Lopes Cardoso, um assessor que tem sido um dos principais dinamizadores da candidatura presidencial. Não seria de estranhar que alguns dirigentes municipais da confiança pessoal de Sampaio também abandonassem a autarquia. O «staff» de Soares deve assentar na equipa que o vem acompanhando no pelouro da Cultura, com Tomás Vasques, chefe de gabinete e homem de confiança, à cabeça.
Quanto às competências, as que Sampaio detém em matéria de urbanismo e relações internacionais devem, pela sua importância, passar directamente para Soares. Uma dúvida que ainda subsiste é se a cultura continuará sob a alçada do ainda deputado europeu ou se passará para outro eleito do PS. As mexidas não implicarão, de qualquer forma, alterações nos pelouros «pesados» ocupados por socialistas: Machado Rodrigues no Trânsito e Infra-Estruturas Viárias; Luís Simões nas Finanças e Património; Vasco Franco na Habitação e Segurança.
Atrasos providenciais
No curto período de tempo que medeia até às eleições de 1997, Soares deverá procurar imprimir a sua marca em algumas áreas mais visíveis da administração da cidade. O dinheiro não é muito e não seria de espantar que o ainda vereador da Cultura elegesse um ou dois sectores que pudessem tornar-se o emblema do seu curto período de presidência. A conservação de edifícios, a limpeza e os espaços verdes são, para citar apenas algumas, áreas em que há muito para fazer. Mas as duas últimas estão confiadas ao PCP...
Paradoxalmente, os maiores trunfos que Soares poderá ter para apresentar virão das clássicas áreas-problema da cidade: habitação e trânsito. Alguns fogos do Plano de Investimentos de Médio Prazo -- e talvez alguns do PER -- ficarão seguramente prontos e chegarão ao fim obras cujo atraso tem valido a Sampaio algumas críticas: o eixo Norte-Sul pode, finalmente, abrir no Verão do próximo ano; os túneis do Areeiro também devem, se não surgirem novos percalços, ser concluídos ainda neste mandato.
Devido ao perfil e ao peso político dos membros PS no executivo municipal, não é de crer que se repitam situações de relacionamento político difícil como as que marcaram cinco anos de coabitação Sampaio-Soares. E as divergências com o PCP -- que tem estado prudentemente silencioso -- também deverão ser postas entre parêntesis em nome do objectivo de reeditar a maioria.
Quando a oposição recentemente denunciou os «públicos desentendimentos» motivados pela sucessão, João Soares fez questão de enaltecer as virtudes da «excelente equipa» que tem vindo a gerir os destinos do município e a «fraterna colaboração» entre os eleitos dos dois partidos. De resto, não se cansa de lembrar que foi ele o primeiro a falar nas «vantagens» de uma coligação à esquerda.
João Manuel Rocha
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