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<DOCNO>PUBLICO-19950805-053</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950805-053</DOCID>
<DATE>19950805</DATE>
<CATEGORY>Mundo</CATEGORY>
<AUTHOR>JH</AUTHOR>
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Atentado em Paris
O medo
continua
Os inúmeros alertas à bomba em Paris já deixaram de ser notícia. A destruição sistemática de malas esquecidas por turistas distraídos já não atraem pequenas multidões. E os telejornais já quase não difundem os retratos-robô de três homens procurados como testemunhas do atentado de 25 de Julho no metro, no qual morreram sete pessoas e 84 ficaram feridas -- e que não foi ainda reivindicado.
Mas o medo continua a dominar a capital e o dispositivo de segurança parecia ter sido ontem reforçado. Camiões revistados centímetro a centímetro na zona da Ópera; controlos de identidade nas estações de metro de Chatelet e Auber; interrupção, na gare du Nord, dos metros com direcção ao aeroporto de Roissy-Charles de Gaulle, para revista das bagagens dos passageiros, que só então tinham luz verde para apanharem outra composição -- eram algumas da medidas mais visíveis.
É que, à medida que o inquérito avança, privilegiando a pista dos fundamentalistas argelinos do GIA (Grupo Islâmico Armado), as autoridades convencem-se cada vez mais de que «o pior ainda está para vir» -- como disse um dos investigadores ao semanário «Le Nouvel Observateur». Os últimos elementos da análise da bomba levam a crer que foi fabricada numa botija de gás de três quilos comprada na Bélgica, e que o detonador foi accionado graças a uma pilha de nove volts. Mesmo se a natureza do explosivo não foi ainda determinada, os especialistas acreditam que se tratasse de um líquido como o nitrato de metileno -- menos poderoso do que a nitro-glicerina, e mais estável.
A origem belga da botija de gás e as indicações do explosivo líquido apontam assim para a pista do GIA argelino: por um lado, a polícia francesa conhece-lhes redes de apoio logístico na Bélgica e na Alemanha; por outro, dois magrebinos presos esta semana, um em Itália e outro em França, possuíam material que ensinava a fabricar bombas idênticas à que explodiu. No entanto, as autoridades francesas mostram-se extremamente prudentes, receando deixarem-se enganar por uma manipulação. Por exemplo, quando as autoridades argelinas afirmaram que reconheciam um dos três homens dos retratos-robô, como sendo um dirigente do GIA, Paris ficou de pé atrás. E mais prudente se mostrou depois de ter nas mãos as fotos «um tanto antigas» enviadas pelos serviços secretos argelinos para confirmação da identificação: elas teriam apenas «uma muito ligeira parecença» com o tal homem. Na realidade, o que mais preocupa as autoridades são escutas telefónicas, feitas nos meios islamistas em França, e que têm revelado um verdadeiro assédio a partir de Argel, por parte de interlocutores que insistem para que seja desencadeada «uma guerra no território francês».
Ana Navarro Pedro, em Paris
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