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<DOCNO>PUBLICO-19950807-017</DOCNO>
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<DATE>19950807</DATE>
<CATEGORY>Desporto</CATEGORY>
<AUTHOR>LF</AUTHOR>
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Michael Johnson já começou a série de tarefas que podem fazer dele a grande figura destes Mundiais de atletismo. Quando pretende vencer os 200 e os 400 metros numa prova deste calibre, este norte-americano coloca o seu objectivo num ponto nunca atingido por ninguém. E fá-lo com a segurança de quem nem por um único momento duvida das suas capacidades.
Michael Johnson em entrevista
«Não sou um monumento»
Jean-Philippe Leclaire*
Ser o primeiro atleta da história a vencer os 200 e os 400 metros num mesmo campeonato de vulto: é este o objectivo primordial do norte-americano Michael Johnson para os Mundiais de atletismo de Gotemburgo e para os Jogos Olímpicos de Atlanta do próximo ano. Chamam-lhe «Estátua» devido à sua forma pouco ortodoxa de correr e à aparente frieza fora das pistas e este texano de 27 anos não aspira senão a um lugar na história do seu desporto: o primeiro
Jean Philippe Leclaire: -- No seu caso, há um pouco a tendência para nos perdermos. Qual é afinal o seu principal objectivo neste Verão? Os 200 ou os 400 metros? Um recorde mundial ou um título de campeão do mundo?
Michael Johnson: -- Na maioria, os outros atletas só são bons na sua modalidade. Sergey Bubka é um especialista do salto à vara, Linford Christie corre sobretudo os 100 metros, enquanto eu sempre gostei de fazer tanto os 200 como os 400 metros. O meu objectivo é, portanto, tornar-me campeão do mundo nestas duas modalidades.
P. -- Não está interessado nos recordes mundiais?
R. -- Claro que estou. Mas não pode querer alcançar-se tudo de uma vez. Portanto, concentro-me nos títulos de campeão do mundo e penso que os recordes aparecerão naturalmente.
P. -- Tentar a dupla 200/400 metros altera a sua forma de treinar?
R. -- Não propriamente. No que diz respeito aos diferentes ritmos de corrida, acontece que já na faculdade eu treinava vários, mas sem nunca negligenciar nem os 200 nem os 400 metros. No aspecto mental é que terei que fazer esforços de adaptação.
P. -- Quais?
R. -- Tenho que aprender a gerir melhor as minhas séries para não me dispersar. Foi por isso que me acusaram de não ter corrido a fundo os 400 metros nas provas de selecção norte-americanas para os Mundiais. Mas se eu tivesse dado tudo por tudo nesse dia, talvez não tivesse vencido os 200 no dia seguinte.
P. -- A quando remonta essa ideia de correr os 200 e os 400 metros num mesmo campeonato?
R. -- Aos Campeonatos do Mundo de Tóquio de 1991. Venci os 200 metros e Antonio Pettigrew ganhou os 400 em 44,30 segundos e mais uns pozinhos [na realidade, 44,57s], um tempo que estava perfeitamente ao meu alcance naquela época. Fiquei com pena de não ter entrado nessa prova. Desde então, essa ideia nunca mais me saiu da cabeça. Podia ter-me abalançado a fazê-lo nos Jogos de Barcelona, mas a programação não era propícia. Tomei a decisão definitiva depois dos Campeonatos do Mundo de Estugarda.
P. -- Disputar os 400 metros não é o mesmo que correr duas vezes os 200. Quais são as grandes diferenças entre estas duas provas?
R. -- São duas provas totalmente distintas. A dos 200 metros é muito mais técnica, é puro «sprint», concentramo-nos nela sem nos interessarmos com o que se passa nas outras pistas, ao passo que a dos 400 metros se gere, temos que nos saber descontrair durante a corrida, temos que estar sempre a pensar e temos que ser capazes de, a qualquer momento, mudar de estratégia.
P. -- Sabe quem foi Maxie Long?
R. -- Sim. Foi o único atleta a ter feito a dupla dos 200 e dos 400 metros nas selecções norte-americanas [em 1899]. De resto, não sei mais nada sobre ele.
P. -- E acerca de Tommie Smith, sabe mais qualquer coisa?
R. -- Sei, porque li alguns artigos e vi as suas corridas graças a documentos da época. Tive, aliás, a oportunidade de me encontrar com ele.
P. -- Ele foi, para si, um modelo?
R. -- Um modelo? Não. Foi, isso sim, um grande atleta que, para além de tudo o mais, conseguiu quebrar algumas barreiras.
P. -- Dir-se-ia que, após o punho erguido de Tommie Smith nos Jogos Olímpicos do México, os tempos mudaram muito e que, actualmente, os grandes atletas negros já não possuem uma verdadeira consciência política...
R. -- Na década de 60, os negros enfrentavam grandes problemas nos Estados Unidos e Tommie Smith tirou partido da audiência à escala planetária dos Jogos para fazer passar a sua mensagem. Tommie Smith, John Carlos e todos os outros atletas negros que se manifestaram deram provas de uma grande coragem. Actualmente, os problemas deixaram de ser tão dramáticos, mas é óbvio que, se uma acção espectacular nos Jogos Olímpicos pudesse ter influência sobre um acontecimento importante da actualidade, haveria seguramente atletas, não só negros como também brancos, que se manifestariam. Agora, o que eu penso é que não tem muito cabimento um desportista manifestar as suas opiniões políticas dizendo ao mundo inteiro, cada vez que entra num estádio: «Vejam como sou corajoso!» É preciso que compreendam que, para nós, o atletismo representa, acima de tudo, uma profissão. E que a política não é a nossa profissão. Nós estamos ali sobretudo para dar prazer às pessoas.
P. -- O realizador Spike Lee afirma frequentemente que não gosta muito de ver atletas negros desfilarem empunhando a bandeira dos EUA, após cada uma das suas vitórias...
R. -- É a opinião dele e eu respeito-a. Mas não penso que, ao efectuar uma volta de honra ao estádio com a bandeira norte-americana eu esteja realmente a comprometer as hipóteses de solução dos problemas do nosso planeta. Nasci na América do Norte, tenho orgulho em ser norte-americano e sentir-me-ei muito feliz quando voltar a agitar a bandeira norte-americana após uma vitória. No dia em que deixar de ter orgulho no meu país, mudarei de nacionalidade e irei defender as cores de uma bandeira de que possa novamente orgulhar-me.
P. -- O que é que o faz correr? Esse orgulho em ser norte-americano? O dinheiro? Ou, pura e simplesmente, o amor pelo desporto?
R. -- Um pouco de cada. Amo o desporto, adoro impor-me objectivos e alcançá-los. Mas, acima de tudo, preciso de ganhar a vida.
P. -- Chegou realmente a dizer que, se o atletismo não rendesse tanto dinheiro, faria outra coisa qualquer?
R. -- E o senhor, se não ganhasse um tostão com o jornalismo, estaria aqui a entrevistar-me? Tenho consciência de que as minhas afirmações chocaram muita gente. Mas, sinceramente, não vejo onde possa estar o problema. Aquilo que me aborreceria verdadeiramente era se, após ter atraído tanta gente ao estádio, alguém que não eu embolsasse todo o dinheiro! Treino por vezes seis horas por dia, em todo o caso nunca menos de quatro horas. Passo o Verão metido em aviões, durante dois meses estou ausente de casa, longe da minha família e dos meus amigos. E ainda acha que o atletismo não é uma profissão para mim?
P. -- Ao menos, gosta desta «profissão»?
R. -- Sinto-me verdadeiramente privilegiado por exercer uma profissão que adoro e que me rende bastante dinheiro. Mas se não ganhasse nada no atletismo, teria muita pena, mas iria fazer outra coisa qualquer.
P. -- O quê, por exemplo?
R. -- Não faço ideia.
P. -- Creio que tirou um curso de «marketing». Faz ideia de se servir dele, após terminar a sua carreira?
R. -- Actualmente já me sirvo desses conhecimentos. Na altura de negociarmos os nossos ganhos e decidirmos com que marcas é que vamos assinar contratos, é sempre vantajoso termos umas noções de «marketing», sabermos como vender as nossas «performances» e a nossa imagem, o modo como esta ou aquela publicidade pode atingir uma determinada categoria de consumidores...
P. -- Se vencer os 200 e os 400 metros em Gotemburgo, o que é que vai receber?
R. -- Suponho que me oferecerão dois Mercedes...
P. -- O que é que fez ao que recebeu em Estugarda?
R. -- Dei-o.
P. -- Que belo presente...
[Não manifesta qualquer reacção.]
P. -- Tenho a impressão de que não gosta muito de falar de si...
R. -- O público já sabe tudo e mais alguma coisa acerca de mim! Cada vez que dou uma entrevista -- e sabe Deus quantas já dei desde 1990 --, fazem-me sempre as mesmas perguntas sobre a minha infância, a maneira como corro, por que razão disputo os 200 e os 400 metros...
P. -- Não se importa de «repetir» qualquer coisa sobre a sua infância, por exemplo?
R. -- Não há grande coisa a dizer. Fui uma criança normal de uma família de classe média do Texas. Já em criança dizia que queria fazer atletismo, não ainda como profissão, mas sim como o meu passatempo favorito.
P. -- Sonhava já com medalhas de ouro e recordes mundiais?
R. -- Não, corria simplesmente porque gostava de correr. Sempre gostei da competição.
P. -- 1990 parece ter sido realmente um ano-charneira para si...
R. -- Foi o meu primeiro ano após ter saído da faculdade e foi nessa altura que me tornei profissional. Durante os quatro anos anteriores tinha beneficiado de uma bolsa de estudo. Defendia as cores da faculdade e eles pagavam-me todas as despesas de escolaridade. Mas, uma vez acabado o curso, decidi que era altura de deixar de viver à custa da família e também da faculdade. Senti a necessidade de me emancipar. É isto que as pessoas não querem compreender: se não houvesse hipótese de ganhar dinheiro nas pistas, eu teria de me dedicar a outra coisa qualquer que me assegurasse uma vida confortável e o futuro da minha família. Porque, enquanto atleta, também passei uns anos difíceis. Durante os meus quatro anos de faculdade, acumulei lesões e vi atletas que eu vencia sem dificuldade partirem para a Europa enquanto eu ficava em casa. Inclusivamente, em 1988, foram sem mim para os Jogos Olímpicos de Seul!
P. -- Nunca teve muita sorte nos Jogos Olímpicos. Já superou completamente a sua decepção de Barcelona?
R. -- Não é algo que me persiga, nem uma recordação que eu tente a todo o custo pôr para trás das costas. Custou-me tanto ter sido eliminado nas meias-finais dos Jogos de Barcelona devido a uma intoxicação alimentar como ter ficado de fora da equipa olímpica, na sequência de uma lesão contraída nas provas de selecção norte-americanas para os Jogos de 1988. Por mais bonitos e grandiosos que sejam os Jogos Olímpicos, existem, nesta modalidade, muitos outros acontecimentos soberbos. Conseguiria pôr fim à minha carreira amanhã sem sentir a mínima amargura.
P. -- Não quer que eu acredite que não sonha com um recorde mundial ou uma medalha de ouro...
R. -- É evidente que quero ganhar uma medalha de ouro, quero mesmo duas ou três! E também quero os dois recordes do mundo. Mas se não ganhar nenhuma destas coisas, pronto, aconteceu. Sabe, uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos é algo muito efémero, é-se campeão olímpico durante quatro anos e depois acabou-se! E quando bato um recorde mundial, sei que no dia seguinte ele pode ser ultrapassado. Ao passo que ninguém, desde Maxie Long, ou seja, desde há cerca de cem anos, tinha vencido os 200 e os 400 metros nas provas de selecção norte-americanas e também ninguém, em toda a história do desporto, foi campeão do mundo dos 200 e dos 400 metros. O que me interessa é repetir grandes proezas, ser regular e constante. Para bater um recorde do mundo ou ganhar uma medalha, além do trabalho, também é preciso sorte, para estarmos a cem por cento no dia D, de quatro em quatro anos. Há já muito tempo que tenho os recordes nas minhas pernas, mas tem havido sempre qualquer coisa que tem contrariado os meus projectos -- vento contra a dois metros por segundo, um golpe de chuva ou de frio, uma má pista no sorteio...
P. -- Como é que explica que o recorde dos 200 metros se mantenha desde 1979, dos 19,72s de Mennea?
R. -- Não considero esse recorde tão difícil de derrubar como isso. Já por diversas vezes estive a ponto de o bater. É uma questão de circunstâncias favoráveis.
P. -- E o recorde dos 400 metros? Butch Reynolds, o detentor, afirma que para o bater teve que superar um novo patamar de dor...
R. -- Fazer um tempo inferior a 44 segundos exige todas as vezes um esforço enorme. Mas sinto-me em tão boa forma que, embora sinta essa dor nos treinos, deixo de a sentir na prova. Penso que conseguirei bater esses dois recordes até ao fim da próxima época.
P. -- Pensa que o seu insucesso em Barcelona veio alterar a forma como o público e os outros atletas o viam?
R. -- Seguramente que não. Fui o número um do mundo nos 200 e nos 400 metros antes e depois dos Jogos de Barcelona.
P. -- Foi preciso um desaire como esse, para se perceber que também é humano...
R. -- Os outros sabem que sou humano! Os outros sabem que, efectivamente, quando estou em plena forma, sou difícil de derrotar, mas se eles pensassem que eu não era como eles, um simples ser humano, nem se dariam ao trabalho de aparecer na pista.
P. -- A sua forma de correr, tão pouco académica, coloca-o de qualquer maneira um pouco à parte...
R. -- Esta forma de correr surgiu-me naturalmente, não copiei ninguém nem ninguém me impôs o que quer que fosse. Há muita gente que se interroga como é que eu, assim, consigo correr tão depressa. Mas vejamos: há oito tipos alinhados para disputar a mesma corrida. Sete correm da mesma maneira e é o oitavo, que tem um estilo diferente, que vence. Em seu entender, quem é que corre bem e quem é que corre pretensamente «mal»?
P -- Então são os outros que correm mal?
R. -- Não é uma questão de «bem» ou de «mal». O importante é encontrar o nosso estilo próprio para avançar o mais depressa possível. Se eu corresse como os outros, não conseguiria andar tão depressa. Um grupo de cientistas estabeleceu determinados critérios para definir o corredor perfeito dos 100, dos 200 e dos 400metros. O que se verifica é que, nos 100 metros, este estilo vai em meu desfavor porque os meus joelhos não sobem tão alto e o meu busto é demasiado estreito, mas, em contrapartida, nos 200 e nos 400, a minha forma de correr revela-se mais eficaz que a dos outros. Esta noção de estilo é muito aleatória. Desde 1983-84, quando Carl Lewis se impôs como o rei do «sprint», o seu estilo, de joelhos muito levantados, tornou-se «a» referência. Toda a gente decretou que se devia correr assim. Mas é um erro: o estilo de Carl Lewis resulta com Carl Lewis, mas não necessariamente com toda a gente. Aquele que para mim foi o maior «sprinter» de todos os tempos -- Jesse Owens -- possuía um estilo bastante semelhante ao meu. Mas toda a gente se esqueceu disso, desde o sucesso de Carl Lewis.
P -- Se um dia fosse treinador, imporia o seu estilo aos alunos?
R. -- Não, porque não penso que o meu estilo funcione para toda a gente. Já é muito difícil correr depressa sem contrariar a nossa natureza. Se alguém, naturalmente, levanta muito as pernas, ninguém lhe deverá dizer para as baixar. O que é fundamental é sentirmo-nos bem, à vontade. Até porque a descontracção é essencial no «sprint».
P. -- Fala de descontracção, mas chamam-lhe «Estátua». Acha que condiz consigo?
R. -- Se quiser dar-me o nome de «Estátua», não vejo grande inconveniente nisso. Mas muito pouca gente me chama assim. Uma vez, realmente, li isso num artigo, mas isso não foi o suficiente para lançar um movimento. Não, o meu verdadeiro epíteto é «M.J.».
P. -- Como Michael Jackson e Michael Jordan. Qual dos dois prefere?
R. -- Gosto bastante de pôr os discos de Michael Jackson no meu leitor de CD e também gosto muito de ver na televisão Michael Jordan encestar. Mas o meu «M.J.» favorito é Michael Johnson.
P. -- Parece tão seguro de si que chega a ser intimidante. Sente o temor que inspira nos jornalistas, nos organizadores e, por vezes, nos seus rivais?
R. -- Não penso que os outros atletas tenham medo de mim. Creio que me respeitam, porque eu também os respeito. Sou dos melhores, mas não desprezo os que chegam à meta muito depois de mim. Acho que os organizadores também me respeitam porque sabem que, comigo, o seu dinheiro está bem investido. Em contrapartida, sinto algum receio em certos jornalistas. Mas isso é porque eles não conseguem dissociar o Michael Johnson da pista do homem privado. Dado que, na pista, cumpro o meu dever com seriedade, as pessoas podem ser levadas a pensar que, fora delas, também sou um tanto severo. Quando um jornalista se aproxima de mim cheio de medo porque eu sou um grande atleta e me murmura: «Peço-lhe imensa desculpa, mas será que, eventualmente, o senhor....», eu também fico pouco à vontade. Mas se vierem ter comigo e me perguntarem, com toda a simplicidade: «Eh! [dá uma pancada no joelho] posso fazer-lhe uma entrevista?», eu respondo: «Está bem. A que horas?» Sinto-me à vontade com as pessoas que se sentem à vontade comigo. Não gosto que me considerem intocável, que me coloquem num pedestal.
P. -- Ou seja, não quer ser uma estátua?
R. -- Mas lá está você a falar nessa imagem! Eu sei muito bem que não sou um monumento!
P -- Também não é verdadeiramente uma estrela. Porquê?
R. -- Desejo ser o melhor, não apenas o melhor hoje, mas o melhor de toda a história do atletismo. Quero tornar-me o melhor, porque simplesmente foi isso que decidi. É verdade que há atletas que querem ser os melhores não só por si mesmos, mas também pelas aparências, por todo o «glamour», as sessões de autógrafos, as entrevistas, as pessoas que se voltam à nossa passagem e exclamam: «Olha! Viste quem era aquele?» Para mim, essas coisas não são importantes. Quero tornar-me o melhor de todos os tempos e se por causa disso tiver que me tornar uma estrela, tudo bem, assumirei. Mas é preciso não confundir as coisas. Só sendo o melhor é que alguém se torna uma estrela e não o inverso.
P. -- Mas como é que alguém é o melhor de todos os tempos sem bater recordes mundiais?
R. -- Creio que se me tornar campeão olímpico dos 200 e dos 400 metros no ano que vem não ficarei muito longe de ser o melhor.
P. -- Não pensa que o atletismo em geral, e o norte-americano em particular, está urgentemente a precisar de uma estrela para sair de uma certa letargia?
R. -- O problema do atletismo é que acaba de passar do amadorismo para o profissionalismo. As pessoas só vêem os aspectos negativos, mas eu fui testemunha de grandes progressos desde que comecei ao mais alto nível. Há mais dinheiro, teremos uma retribuição nos Campeonatos do Mundo de 1997, o circuito estruturou-se graças aos Grandes Prémios, os controlos «antidoping» foram aperfeiçoados... Não creio que se esteja a verificar um declínio no atletismo. Nos Estados Unidos, o problema é diferente. O que se passa é que não há muito lugar para nós ao lado dos grandes desportos profissionais.
P. -- É uma vedeta em Dallas, a cidade onde vive?
R. -- Lá, sou. Lá, toda a gente sabe que sou o melhor do mundo. Mas, no resto dos Estados Unidos, são apenas os verdadeiros fãs do desporto que me conhecem. Aliás, não é caso para admirar, uma vez que 90 por cento das minhas corridas se desenrolam na Europa! Mas isto mudará com os Jogos de Atlanta. Tenha a certeza absoluta.
Tradução de Maria João Reis
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