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<DOCNO>PUBLICO-19950906-114</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950906-114</DOCID>
<DATE>19950906</DATE>
<CATEGORY>Desporto</CATEGORY>
<AUTHOR>MABR</AUTHOR>
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Renault Clio Williams
Só para pilotos
Texto: Manuel Abreu
Fotos: Miguel Silva
A Renault preparou um pequeno selvagem de duas rodas motrizes para o Mundial de ralis. Domesticado, chegou às estradas com um motor de dois litros e 150 cv «escondidos» na carroçaria do Clio. Ágil e excitante, é um prazer para os pilotos experientes. Não se recomenda aos exibicionistas.
Quando alguém arranca com um carro de 150 cv e menos de mil quilos de peso, duas coisas podem acontecer: ou sabe o que está a fazer, ou não sabe. Se não sabe, está o caso arrumado. Se sabe, duas coisas podem acontecer: viver emoções fortes e sentir um enorme prazer de condução, que é o que oferece de melhor o poderoso Renault Clio Williams.
Por isso, este é um automóvel que só deve ser recomendado a pilotos experimentados, que possam tirar partido das suas características sem colocar em perigo os outros automobilistas. Sem exageros -- o Clio Williams não é exactamente um automóvel de corridas, nem a sua condução está reservada a profissionais --, mas com cuidados especiais. Até porque, para se poder aproveitar tudo o que este carro oferece, é necessário ter um pouco de prática na difícil arte de conduzir tantos cavalos.
Recomendações à parte, até porque nos custa a acreditar que este possa ser o primeiro carro de alguém, trata-se de saber quem são os clientes potenciais do mais «envenenado» dos Clio. É gente que gosta de andar depressa, que tem ou já teve outros automóveis potentes, sem grandes problemas com o transporte da família (ou com outro carro para o fazer) e pouco preocupado com a imagem que um carro de quase seis mil contos pode dar, porque há no mercado automóveis de preço idêntico que dão mais «status» ou que evidenciam de forma mais agressiva os cavalos que escondem sob o «capot».
De relance, o Clio Williams pouco se diferencia dos seus «irmãos» mais comuns, sendo uma má alternativa para quem se quer exibir. O que mais depressa chama a atenção são as jantes douradas, evidentes até para os mais distraídos. Há quem goste e quem odeie, mas são uma imagem de marca. Depois, só de perto, se possível com outro Clio ao lado, se percebem as diferenças na carroçaria, aqui mais larga e «musculada», a agressiva entrada de ar no «capot» dianteiro, o logotipo Williams na traseira e nos painéis laterais; espreitando para o interior, destacam-se o painel de instrumentos, com fundos azuis e dígitos brancos, os cintos de segurança azuis e os assentos tipo «baquet», também com o logotipo da Williams.
Em termos de conforto e de multiplicidade de utilizações, tanto a Renault como os seus concorrentes oferecem produtos mais equilibrados. Pelo mesmo preço, é possível comprar automóveis com mais espaço, mais portas, com ar condicionado ou revestimentos de luxo. Tudo opções que o Clio Williams rejeita, em função do seu carácter desportivo, mantendo no entanto a direcção assistida, os bancos dianteiros reguláveis em altura, o banco traseiro rebatível assimetricamente, os vidros e retrovisores exteriores de comando eléctrico, o fecho centralizado das portas com comando à distância, o revestimento em couro da alavanca da caixa de velocidades e um auto-rádio de boa qualidade com comando satélite junto ao volante, ideal para saltar de estação em estação sem tirar os olhos da estrada. Tudo o que é necessário, sem concessões ao luxo nem ao acréscimo de peso. É pena que, em dias de calor, a ausência de ar condicionado e o revestimento dos bancos, em veludo, levem a temperatura interior a limites quase insuportáveis. Nessas alturas, a indicação da temperatura exterior chega a ser um convite a parar na próxima sombra.
Assim, é só quando se liga o motor que se pode perceber o fascínio que este carro exerce nos apaixonados pela condução desportiva. Aí, a potência dita leis e o escalonamento da caixa de velocidades impõe o ritmo, necessariamente vivo. O máximo rendimento obtém-se a altas rotações, quando se consegue passar para o chão toda a potência debitada pelo motor multiválvulas de dois litros, que tem feito boa figura no Mundial de ralis para carros de duas rodas motrizes. É só acelerar e deliciar-se com o bonito som do motor, esquecendo o consumo de gasolina.
Experimente-se primeiro um percurso em auto-estrada, onde as recuperações impressionam; passe-se depois para uma estrada sinuosa, mas com bom piso, onde as ultrapassagens se tornam fáceis e as curvas passam a ser um prazer; se possível, tome-se depois um estradão em terra batida, onde se pode controlar o carro apenas com a pressão sobre o acelerador e gozar o prazer das longas derrapagens. É então que se percebe a razão de ser do Renault Clio Williams.
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