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<DOCNO>PUBLICO-19950909-144</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950909-144</DOCID>
<DATE>19950909</DATE>
<CATEGORY>Cien_Tecn_Educ</CATEGORY>
<AUTHOR>PF</AUTHOR>
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Set-top boxes
Não olhe agora, mas o seu televisor vai fundir-se com o seu computador
O painel chamava-se«Set Top Boxes -- a próxima plataforma», e os participantes deviam justificar as suas opiniões sobre o que irá ser a «set top box» de amanhã, essa «caixa mágica» que se vai interpor entre a TV (ou o PC) e o mundo.
Basicamente, a «set top box» é um aparelho que será a porta de entrada e de saída para uma futura TV interactiva. Será através dele que se poderão validar compras com o cartão de crédito, escolher um dos 500 canais de televisão disponíveis e jogar, reunindo algumas funcionalidades do computador, do telefone e, obviamente, da TV numa única plataforma.
«Será a Internet», afirma James Gosling, da Sun Microsystems. Para Derrick Burns, da Silicon Graphics (SGI), a TV interactiva «é a evolução natural da TV» cruzada com o computador. A sua aposta vai para o tele-computador.
Finalmente, George Spix, da Microsoft, declara que, seja o que for, a nova caixa «terá de conviver com a dinâmica do mercado dos PC».
Quem esteve mais à vontade foi Steve McGeady, da Intel, acreditando que, seja uma TV, um PC ou a fusão de ambos, esse aparelho necessitará sempre de micro-processadores e a Intel é a líder deste mercado.
Afinal, as «set top box» podem ser apenas o próximo produto de electrónica de consumo a atingir o mercado doméstico -- e isso não é de desprezar. Por enquanto, como se prova pelas declarações destes responsáveis, a confusão é enorme.
Burns afirma que «a TV continuará como visão passiva» («watch only») e a «set-top box» «será um computador». Mostra um exemplo. No ecrã, além dos habituais comandos usuais nos vídeogravadores (avanço rápido, pausa, leitura, retrocesso e «stop»), conseguem-se efeitos especiais em tempo real, como a imagem sobreposta numa esfera. «No Natal, por cerca de 2000 dólares [300 contos], estará disponível um PC igual a este», declara.
A SGI tem algumas destas máquinas no teste de TV interactiva, o «Full Service Network», que decorre em Orlando, onde prevê ter 4000 casas ligadas até ao final do ano. Mas segundo nos garante um técnico no «stand» da SGI há apenas 300 casas ligadas por enquanto e algumas revistas falam mesmo em 70... No entanto, segundo Burns, a TV interactiva «é a evolução natural da TV» e os utilizadores vão aderir dentro em breve.
Por seu lado, James Gosling, da Sun Microsystems, adianta que a sua posição é de um céptico. Alerta que, com orçamento de 100 dólares para construir cada «set-top box», não se pode fazer muito». E lembra que toda a gente parece estar a «esquecer-se da Internet»...
Gosling fala de Java, uma linguagem para imagens na Internet, que começou como projecto laboratorial há quatro anos. Em 1992, quando começou a «Full Service Madness», «era difícil ver os números e ter as empresas de telecomunicações a construir a infra-estrutura». Agora, «é mais fácil, mas companhias telefónicas ou as de TV por cabo, todas querem ser donas disto e nós tivemos oportunidade de vender `software' às empresas que queriam ter tudo. O que aconteceu? Todas queriam também ter a sua infra-estrutura e tudo passou com o tempo, o mercado acalmou».
Há três anos, a Sun tentou vender a ideia da Java «às empresas que queriam ter tudo». Como resposta, tiveram um «desculpe, nós não temos a Internet, não nos interessa». Mas a Internet ganhou e, desde há mais ou menos três anos, a venda de PC ultrapassou a de receptores de TV.
No entanto, como alertou um presente no debate final, «não se vêem filmes no computador ou na Internet. Estamos habituados a que seja a TV a fazer isso. Além de que, com a excepção da Netscape, ainda ninguém fez dinheiro a sério com a Internet».
Na visão de George Spix, da Microsoft, alguns dos «serviços de amanhã», como os serviços financeiros, entretenimento, educação, publicidade, cuidados de saúde e comunicações ainda não estão completamente disseminados nas redes, mas têm características comuns: todos requerem criptografia e, «seja PC ou `set-top box', terão de conviver com a dinâmica do mercado de PC».
Um outro participante no debate final alertou que, embora tenha havido, no painel, uma «tentativa de trazer a tecnologia para qualquer coisa parecida com a TV, as `set-top boxes' podem vir a ser algo diferente». O quê? As empresas ainda estão a tentar descobrir.
Pedro Fonseca, em Los Angeles
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