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<DOCNO>PUBLICO-19950911-122</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19950911-122</DOCID>
<DATE>19950911</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>APC</AUTHOR>
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Salvato Trigo, professor de Semiótica
Os «engenheiros» das campanhas gráfico-visuais das quatro maiores formações políticas entendem, diferentemente, a função da empatia semiótica e do espectro semântico que lhe está associado. Assim, se essa empatia é directamente proporcional ao teor semiótico dos «outdoors» já conhecidos, poderemos afirmar que o PSD se esmerou em índices cromáticos na singularidade do texto do «eu», valorizando, por essa via, mais a enunciação do que o enunciado de leitura, aliás, bastante denotativa, pouco conotativa e reduzidamente polissémica. Conclui-se, portanto, que é baixo o teor semiótico dos seus «outdoors», ainda que seja elevada a sua transparência semântica, o que, para o nosso universo de expectativas eleitorais, pode ser positivo.
O PS compôs índices cromáticos com ícones mais representativos do que figurativos, e elegeu um símbolo muito tradicional e de fácil leitura -- o coração -- aliado à estética e juventude corporal, nuns casos, à notoriedade desportiva ou a determinados grupos sociológicos frágeis, noutros casos, para introduzir a semiose romântico-afectiva e de confiabilidade com que pretende conquistar um espaço eleitoral diferente.
O PP apostou na semiose da ruptura e na radicalização da mensagem. O teor semiótico é muito baixo, porque os índices e os ícones que escolheu pertencem a metáforas gastas e, por isso mesmo, de reduzida motivação semântico-ideológica. Preferiu o PP a semiose do negativo, como meio fático privilegiado, quando pareceria mais adequado a semiose do positivo, atendendo ao universo de destinatários que pretende atingir.
O PCP remoçou levemente o que tem sido a sua estratégia semiótica tradicional: apostar mais, glossematicamente, na forma do conteúdo do que na forma da expressão. Por isso, é reduzido o teor semiótico dos seus «outdoors», não concitando novos interpretantes, o que só sublinha a coerência que se lhe conhece na sua textualidade e nos processos de textualização.
Independentemente do teor semiótico dos «outdoors», importa acentuar que o país vai perdendo, felizmente, o seu cinzentismo e a indicialidade cromático-ideológica, para ganhar mais indicialidade estética. Esta é também uma semiose da modernidade.
Jaime Milheiro, psicanalista
Os cartazes políticos são tanto mais eficazes quanto a mensagem subliminar que contêm -- o não-dito. Essa mensagem, para ser apreendida, tem de ser subtil, mas não em demasia, sob pena de se tornar um labirinto.
Nos cartazes do PSD nota-se o esforço de imprimir a ideia de confiança, justamente porque se reconhece que as pessoas perderam a confiança. Aquela frase por baixo do Fernando Nogueira pretende combater aquilo que se sabe que acontece ou que se receia que aconteça. Eles próprios, sem querer, expõem o seu lado negativo. Lembraram-se da confiança e não de outra palavra qualquer porque é justamente isso que está em causa.
Os cartazes do PS parece-me veicularem com êxito uma mensagem subliminar de mudança para algo melhor.
Os cartazes do PP, por demasiado agressivos, são isoladores de quem os produziu.
Os da CDU chamam a atenção pelo facto de o Carlos Carvalhas estar coberto de brilhantina, o que choca com a ideia da maioria das pessoas de que o PCP não é um partido brilhante.
António Reis, director criativo da agência de publicidade Ogilvy & Mother
A comunicação publicitária política não é determinante de nada. O que interessa é não errar. A campanha tem de estar lá, ser bem feita. Não acredito que se ganhe um só voto com isso. Mas quando se faz mal, ou não se faz, podem perder-se muitos votos.
Os cartazes do PSD são desastrosos. O primeiro, em que o Fernando Nogueira olha para o infinito, podia ser do Circo Chen. O segundo parece um anúncio da água do Alardo, para pior. Não têm consistência visual e são tecnicamente muito maus.
A campanha do PS é a única que assenta num forte conceito gráfico. Aqueles cartazes só podiam ser do PS, mais ninguém poderia ter feito aquela campanha, o que é o melhor critério para avaliar a sua qualidade.
A comunicação do PP tem alguma inovação e irreverência. Mas é interessante que não reflicta a imagem de tradicionalismo e consistência que associamos à direita. Isto pode ter a ver com a juventude do Manuel Monteiro, mas tem um problema: tirando de lá a assinatura do PP, podia ser a propaganda de qualquer outro pequeno partido.
Nos «outdoors» da CDU, ver o Carlos Carvalhas em estilo «yuppie» é um bocado estranho. Além disso, e do bom padrão da gravata, não há nada de novo.
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