<DOC>
<DOCNO>PUBLICO-19951027-098</DOCNO>
<DOCID>PUBLICO-19951027-098</DOCID>
<DATE>19951027</DATE>
<TEXT>
Dâmaso lança-se na corrida do PSD-Açores
Um candidato para nove ilhas
Álvaro Dâmaso formaliza hoje, em São Miguel, a sua candidatura à liderança do PSD-Açores. Na conferência de imprensa lançará um compromisso: «é um candidato pela Região e não apenas por São Miguel». E tem um trunfo que lhe vai servir para mostrar que é possível «renovar o PSD no arquipélago» sem ser pelo caminho da simples «crítica ao passado». Quer retomar um projecto que lhe é querido. Relançar a lei-quadro das finanças regionais. Para Dâmaso, o grande drama dos Açores reside na permanente «instabilidade financeira».
«Tenho um projecto diferente para os Açores. Apostar na consolidação da autonomia e promover desenvolvimento em estabilidade.» Foi o que disse ao PÚBLICO, ontem à noite. Em seu entender, para concretizar esse propósito, reforço da autonomia, desenvolvimento e estabilidade, a melhor receita é conseguir assegurar uma relação equilibrada com o Governo da República em matéria de finanças. Para lá chegar precisa de ganhar o Congresso regional do partido.
A data ainda não está definitivamente assente, mas aponta para 7 ou 8 de Dezembro. Álvaro Dâmaso começa por se candidatar à presidência da Comissão Política de ilha (São Miguel) e estende a candidatura à liderança da Comissão Política Regional. Já começou a procurar apoios e optou pelo trabalho de sapa nas ilhas mais pequenas. Santa Maria, em primeiro lugar, por razões afectivas. Diz sentir que deu alguma coisa de si a essa ilha, enquanto participou no Governo de Mota Amaral. A situação é mais ou menos semelhante no que respeita à mais pequena de todas as ilhas, o Corvo.
Quanto ao seu concorrente, Costa Neves, não acredita que ele desista, mas não deixa de lembrar que foi difícil «conseguir eleger um deputado da região para o Parlamento Europeu». E acrescenta que o seu projecto de liderança é muito diferente do que foi conduzido por Mota Amaral e será também diferente do que é apresentado por Costa Neves.
Diz sentir que o PSD-Açores precisa de uma «saudável sacudidela». Não esconde que, se isso não acontecer, as eleições de Outubro de 1996 ficarão muito mais facilitadas para o PS. «Ou nos renovamos e apresentamos um projecto sólido, ou arriscamo-nos a graves consequências ao nível regional.» É com esse olhar que Dâmaso insiste em que a renovação necessária tem de ser feita «dentro do partido e não contra ele».
Dos contactos que já manteve para dar conta da sua decisão destacam-se dois. Um com Mota Amaral. Não se lhe dirigiu para lhe pedir apoio, mas apenas para lhe comunicar a decisão de avançar. Mota Amaral disse-lhe: «Álvaro, do fundo do coração, desejo-te a melhor sorte.» Logo a seguir, lembrou-lhe: «Olha que disse exactamente o mesmo ao Costa Neves...»
Interpelado pelo PÚBLICO, comentou de passagem os apoios já conhecidos a Costa Neves. Não são uma preocupação determinante. «Há um grupo influente em São Miguel que apoia Costa Neves e há um grupo influente na Terceira que me apoia a mim. Importa é que o congresso se realize o mais cedo possível, sem crispações desnecessárias e com o objectivo de servir os interesses da Região.»
O segundo contacto importante terá sido com o novo ministro das Finanças, Sousa Franco. Não há, tanto quanto lhe foi comunicado, qualquer entrave a esta candidatura. Só terá que equacionar a renúncia ao cargo na CMVM após o congresso. Se ganhar, tem que pensar nas eleições regionais de Outubro ou Novembro do ano que vem. Será perante esses dados que vai decidir. Diz que os Açores importam-lhe muito mais do que a tranquilidade que detém no actual cargo.
César Camacho
</TEXT>
</DOC>