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<DOCNO>PUBLICO-19951119-080</DOCNO>
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<DATE>19951119</DATE>
<CATEGORY>Nacional</CATEGORY>
<AUTHOR>JPMP</AUTHOR>
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Jorge Sampaio em pré-campanha
Sem milagres para agricultores do Oeste
Jorge Sampaio, que ontem visitou vários concelhos da região do Centro-Oeste, foi confrontado sobretudo com as questões relacionadas com as pescas e a agricultura. Bombarral, Caldas da Rainha, Alcobaça e Batalha foram os concelhos visitados pelo candidato presidencial que, durante o almoço, ouviu uma intervenção de um apoiante que se referiu a Peniche como terra que recebeu uma das principais prisões políticas do anterior regime e que «hoje morre porque lhe roubaram o mar».
Durante a visita, Sampaio esteve acompanhado por Júlio Sebastião, uma figura emblemática da região, e actual presidente da Associação dos Agricultores do Oeste, apoiante de Cavaco Silva nas eleições que deram ao PSD a primeira maioria absoluta. «Agora não o posso apoiar mais», comentou ao PÚBLICO, explicando a sua mudança de campo.
Sampaio evitou a abordagem dos temas concretos relacionados com a pesca e a agricultura, salientando ser necessário distinguir os poderes presidenciais dos do Governo. Na praça da Fruta, nas Caldas da Rainha, fez questão de apertar a mão em sinal de concordância com uma vendedeira que se queixava em voz alta de que «eles vão para lá mas não fazem milagres». «Isso de milagres já não dá», respondeu o candidato.
Durante as suas curtas intervenções nas inaugurações das sedes de candidatura, Sampaio insistiu nas diferenças das suas propostas relativamente às de Cavaco Silva, embora sem nunca nomear o seu adversário.
A referência mais directa verificou-se ao almoço que reuniu cerca de 300 pessoas. Depois de uma alusão ao forte de Peniche, afirmou: «Não vale a pena estar a falar de história quando se não a tem. Não vale a pena esquecer-se a história recente que é aquela que se tem e não outra». E acrescentou: «As pessoas são o que são e o drama é quando elas querem mudar aquilo que são e sobretudo querem mudar relativamente ao que sempre as caracterizou e que tiveram sempre tanto interesse em serem conhecidas assim».
Mas acabaria por reservar para a Batalha a sua intervenção mais sentida, em defesa do que considerou que devia ser uma «candidatura de convicções». O mote foi-lhe dado por Raul Castro, mandatário concelhio e presidente da Câmara da Batalha, eleito como independente nas listas do PP, após ter explicado as razões do apoio à sua candidatura. «Jorge Sampaio não é responsável pela situação em que se encontram milhares de jovens em Portugal, pela situação das empresas e pelo estado de miséria da agricultura portuguesa, ao ponto que até os tomates portugueses temos que salvar», disse Raul Castro, perante uma assembleia onde se distinguiam vários responsáveis concelhios socialistas e do PP.
No final, o candidato comentou ainda declarações de Cavaco Silva, anteontem, em Viseu, em que afirmou que os portugueses não iriam escolher uma cara «anónima» para futuro Presidente do país. «Para ser sincero, não creio que isso fosse comigo. Olho para isso, no mínimo, com alguma bonomia, porque se levo isso a sério, penso que é um insulto. Não quero levar isso a sério», disse Sampaio aos jornalistas.
Carlos Camponês
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