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<DOCNO>PUBLICO-19951216-111</DOCNO>
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<DATE>19951216</DATE>
<CATEGORY>Cien_Tecn_Educ</CATEGORY>
<AUTHOR>HC</AUTHOR>
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O estado da arte
Henrique Carreiro
Disco solar
Com a actual geração de máquinas fotográficas digitais, o utilizador, após ter tirado o número máximo de fotos permitido pela máquina (entre 30 a 50), terá que se dirigir ao PC mais próximo para descarregá-las antes de prosseguir a sessão. Não é fácil imaginar de que forma este tipo de limitação poderá ser aceite, por exemplo, por um repórter de guerra. Mas a solução está já ao virar da esquina, devido aos trabalhos de uma empresa denominada SanDisk (anteriormente conhecida por SunDisk, e que terá mudado de nome para evitar confusões com a outra Sun), que produz circuitos integrados com um tipo especial de memória denominado «flash», que mantém o conteúdo mesmo quando desligada da alimentação. O produto mais recente da SanDisk chama-se CompactFlash (ou, abreviadamente, CF) e tem uma capacidade de dois, quatro, dez ou até 15 megabytes. O tamanho não excede o de um selo de correio e estes circuitos funcionam bem com tensões eléctricas como as proporcionadas por um par de pilhas AA.
Podendo ser fornecidos já embalados num formato «encastrável» numa placa PC Card, a SanDisk está também a fornecê-los simplesmente em formato de conjunto de circuitos integrados, com uma inovação: as aplicações vêem-nos como um disco rígido, sem qualquer necessidade de «drivers» adicionais. É evidente que este tipo de produtos ainda não podem substituir inteiramente as disquetes ou os discos rígidos -- um modelo de 10 megabytes custa quase 30 contos --, mas não nos podemos esquecer de que, há quinze anos, um disco rígido com esta capacidade, custava cerca de dez vezes mais.
Existem motivos para crer que este seja um produto com pernas para se desenvolver. Um deles consiste no facto de a SanDisk, apesar de pouco conhecida, ter padrinhos famosos: a Seagate detém 25 por cento do seu capital e a empresa trabalha em estreita colaboração com a Intel, a NEC e a Matsushita na elaboração destes produtos. Mas o «lobby» cresceu bastante quando, há pouco mais de um mês, a SanDisk conseguiu congregar à sua volta uma lista de nomes que inclui a Apple, a Canon, a Kodak, a HP, a Motorola e a Seagate, entre outros, numa aliança denominada CompactFlash Association, cujo objectivo é promover um único meio de transporte de dados entre aparelhos tão diferentes quanto máquinas fotográficas, câmaras de vídeo, computadores e telefones celulares.
E à medida que as capacidades forem aumentando, novos usos poderão surgir. A SanDisk espera ter CF de 100 MB já em 1997 e, passados mais dois um três anos, vir a quintuplicar essa capacidade. Pelo menos os fotógrafos não terão razões de queixa quanto ao número de fotografias que tirarão antes de terem que esvaziar a máquina.
O leque de aplicações previsto para este tipo de tecnologia vai, contudo, muito para além da simples substituição do rolo fotográfico. A SanDisk espera que um cliente de grande importância venha a ser a indústria dos telefones celulares e dos «pagers». Os telefones passarão, dentro em breve, a vir dotados de um ecrã de tamanho maior que o actual e a memória CF permitir-lhes-á armazenar, por exemplo, um fax, que assim poderá ser lido imediatamente. A recepção de fax é, aliás, também a aplicação prevista para os «pagers», que, tal como os telefones celulares, deverão vir com ecrãs maiores; outra das perspectivas dos «pagers» é poderem vir a armazenar mensagens faladas, funcionando, portanto, como «voice-mail». Uma vez que, com estas capacidades de memória, é possível armazenar uma mensagem falada de tamanho razoável (pelo menos, uma hora), a SanDisk prevê que, a breve prazo, este tipo de tecnologia poderá substituir definitivamente a cassete usada, por exemplo, nos gravadores portáteis tão populares entre os jornalistas.
A grande vantagem que será conseguida pelo amplo apoio agora manifestado pelos principais intervenientes no mercado da electrónica de consumo é que este tipo de circuitos poderá em breve tornar-se ubíquo e de aplicação universal. Se os mesmo circuitos puderem ser usados no Newton da Apple, numa máquina fotográfica da Canon, num gravador Panasonic ou num telefone móvel Motorola, os preços descerão significativamente; para além disso, isto garantirá um nível de interoperabilidade que permitirá que, sem qualquer esforço, se possam vir a trocar informações entre cada um destes aparelhos: não é assim impossível pensar que uma fotografia tirada com uma câmara digital possa ser enviada directamente por um telefone móvel e recebida num «pager», de onde será extraída para um PC, através de uma simples troca de um cartão. Quem sabe que tipos de «gadgets» não virão a surgir, provavelmente já a tempo do Natal de 1996, com as combinações de todas estas tecnologias?
Não é, nesta altura, muito claro se a IBM terá feito um grande negócio quando, no passado mês de Julho, decidiu proceder à aquisição da Lotus. Se esta compra teve como principal objectivo tirar partido do Notes, um programa de «groupware» (trabalho colaborativo) e tentar estabelecê-lo como plataforma para sistemas de informação empresarial, a ideia-base poderia estar certa mas terá sido realizada já um tanto fora de prazo. É que a Lotus, entretanto, encontrou um concorrente ainda mais devastador que a Microsoft, que também prepara um produto semelhante: com as tecnologias de base da Internet, é possível emular muito do que era conseguido por meio do Notes mas a preços significativamente inferiores.
A Lotus teve agora a percepção de que, se não podia vencer a Internet, o melhor era juntar-se a ela e acaba de anunciar uma significativa descida de preço do produto e uma alteração de estratégia. Assim, alguns dos preços foram reduzidos para metade -- caso do Notes Desktop --, com a inclusão de funcionalidades em termos de servidor que anteriormente eram vendidas separadamente, e o preço do uma solução Notes para PC cairá para cerca de dois terços do actual.
Além disso, a Lotus anunciou ainda que a integração do Notes com a Internet vai ao ponto de os utilizadores do seu programa poderem aceder facilmente à World Wide Web, podendo qualquer «browser» de Web chegar a informação armazenada em servidores de Notes com a mesma facilidade com que agora acede a outro qualquer computador da rede -- uma mudança importante mas inevitável, uma vez que a concorrência também está a seguir as mesmas pisadas. A temível Netscape, que detém a maioria do mercado de «browsers» Web, adquiriu recentemente uma empresa chamada Collabra, que produz um produto de características semelhantes ao Notes, e a Microsoft anunciou também há poucos dias uma ofensiva de produtos Internet, onde cabe o seu Exchange, o produto destinado a troca de mensagens e trabalho colaborativo, apontado ao coração da Lotus.
Até Philippe Kahn -- o fundador da Borland, que agora está numa empresa denominada Starfish Software -- espera posicionar o seu futuro negócio na área do «groupware». Segundo ele, o futuro deste tipo de aplicações é baseado em plataformas abertas e o Notes está condenado a prazo. Embora Kahn tenha sido sempre um inimigo declarado da Lotus, poderá ter alguma razão, mas os homens da empresa de Cambridge mostraram agora que poderão ter vontade de mudar o destino.
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