Engenheiro Carlos Amaral – Priberam
Eu iria só lançar uma pequena provocação no meio deste debate pela qual peço desde já desculpa ao Engenheiro Henrique Carreiro da Microsoft. Começaria por referir que, por exemplo, o assistente que auxilia os utilizadores das aplicações de produtividade da Microsoft em português a encontrar informação no sistema de ajuda está, neste caso, a ser desenvolvido em Itália, por uma empresa italiana. Porque é que esse trabalho não é feito aqui em Portugal, visto que a tecnologia está disponível também cá obtendo-se, provavelmente, resultados bastante melhores?
Por outro lado… tem-se falado muito e alguns intervenientes continuam a falar dos projectos e do que é que se vai fazer em termos da linguística computacional em Portugal. Esta discussãoé importante, mas é ainda mais importante que se tomem decisões rápidas do que se vai fazer, porque enquanto nós estamos todos aqui a falar, basta irmos aos sites da Microsoft ou da Lernout and Hauspie que é uma empresa que está a trabalhar para uma quantidade de línguas bastante grande, para vermos as chamadas job offers pages, onde encontrarão uma lista bastante grande de posições na Microsoft Research para várias línguas, incluindo a portuguesa. Se calhar não haverá para a finlandesa, não sei, mas infelizmente ou felizmente, o português em termos falantes e considerando também o brasileiro, é uma língua bastante importante e daí que seja daquelas em que as grandes multinacionais apostam.
De maneira que o que eu acho é que, ou nós aqui em Portugal conseguimos mostrar que conseguimos fazer trabalho para o Português melhor do que é feito noutros centros de investigação, ou daqui a uns anos, se realmente nos ficarmos pelas discussões do que é que vamos fazer, como é que vamos fazer e quem é que vai financiar esse trabalho, o trabalho já estará, ou todo feito, ou pelo menos muito avançado e será muito mais difícil para nós todos, empresas e institutos de investigação, recuperarmos os anos perdidos. Devo dizer que, por exemplo, a nível da tecnologia, as leis do mercado se calhar vão ditar que essa tecnologia não vai ser a nossa, infelizmente para nós, que somos uma empresa de software, porque vai ser incluída a nível dos sistemas operativos. Não custa nada acreditar nisso e estive numa conferência em que o Bill Gates fez uma apresentação sobre a Microsoft Research, e disse que uma das três áreas estratégicas de investigação era a linguística computacional. Outra era a visão. Portanto, neste momento a ênfase toda é para a interacção natural com os computadores, passe ela por visão, fala, compreensão da linguagem, e outras.
Assim, essa tecnologia está a ser desenvolvida. Já existem algumas coisas que estão a ser utilizadas e é importante nós percebermos como é que podemos ter alguma participação em projectos deste tipo, que neste momento, julgo eu que escapam um bocado a todos os centros, às empresas, e aos investigadores que estão aqui. Acho que era uma reflexão a fazer. Há determinados interesses económicos que muito rapidamente se sobrepõem a qualquer discussão, por muito alargada que seja e por muito interesse que tenha, se não houver resoluções rápidas para fazer.
Terminaria com um exemplo de como as perspectivas entre as empresas e os centros de investigação e as universidades são ainda muito diferentes. A Priberam desenvolveu em consórcio com a Porto Editora de acordo com uma perspectiva unicamente de mercado produtos de grande sucesso como os dicionários electrónicos ou o FLiP. É normal em conferências científicas esses produtos e outros serem criticados por se poder fazer muito melhor. No entanto ninguém vê resultados palpáveis desses grupos. Quando fazemos sair uma nova versão do FLIP, por exemplo, com um analisador sintáctico, sabemos que há muitas falhas, mas temos de ficar por ali; aquilo é a versão 1 e agora haverá uma versão 2 que será um pouco melhor, mas naquele momento teve que se parar para poder editar o produto. Há resultados que podem ser experimentados e são utilizador por milhares de utilizadores. Muitas vezes isto não acontece a nível dos projectos de investigação. É preciso ver resultados, tirar ilações, ver o que é que se pode melhorar a seguir, porque se estamos a tentar ir até ao melhor possível, nunca vai haver nada como resultado.